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Sem-teto sobrevivem de solidariedade

Comunidade ao redor do acampamento dá suporte aos ocupantes há uma semana


Cadu Proieti, do Diário do Grande ABC
11/03/2012 | 07:09
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As cerca de 1.300 famílias que há uma semana ocupam terreno particular no Jardim do Estádio, em Santo André, estão sobrevivendo graças à solidariedade de pessoas até mais desfavorecidas que vivem em comunidade carente ao redor do acampamento. Os moradores do entorno têm dado suporte aos integrantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) com doações de alimentos, água e até cedendo banheiros para utilização dos ocupantes.

“Sempre chegamos e dialogamos com a vizinhança para não ter problemas. Aqui, o pessoal está sendo bastante solidário com a gente. Estamos sobrevivendo com ajuda e doações deles”, relatou Zezito Alves, um dos coordenadores do movimento.

O único reservatório de água existente no terreno é preenchido com líquido da casa que fica em frente à entrada da área. “Conseguimos ponto de água com a vizinhança e estamos nos virando com isso. Para tomar banho tem que pegar com balde aqui e ir no banheiro improvisado que fizemos”, disse Alves.

A barraca onde foi instalada a cozinha serve para preparar as refeições. De forma organizada, mantimentos não perecíveis também são estocados lá. Apesar da boa estrutura improvisada, é necessária ajuda de gente de fora. “O que estraga temos que deixar na geladeira do pessoal das casas ao lado”, afirmou o coordenador.

Os alimentos vindos de doações, até o momento, estão sendo suficientes para atender todos os sem-teto, que recebem três refeições por dia. Duas cozinheiras preparam 15 quilos de arroz, quatro de feijão e oito pacotes de macarrão no almoço e na janta. “As vezes temos salsicha ou alguma carne de terceira”, salientou Alves. De manhã, é oferecido café com leite e pão. “Tem dia que só tem café puro.”

Sem saber quanto tempo o movimento ficará acampado no local, o coordenador pede colaboração de mais pessoas. “Qualquer tipo de doação é bem vinda. É só vir aqui e procurar as lideranças do movimento que iremos receber de braços abertos.”

DIFICULDADES

Com estrutura e saneamento precários, a vida dos ocupantes não está nada fácil. Além dos problemas de instalação, Izaldite da Silva, 64 anos, tem de suportar o peso da idade. “Está muito difícil. Tenho artrose e trombose, quando sento no chão não aguento levantar. Meu filho está com alguns problemas e não deu para vir, por isso, estou sozinha. Precisei da ajuda dos meninos daqui para montar o barraco, que precisa de uma ajeitadinha ainda”, relatou a senhora, que dorme sobre uma folha de papelão. “Os colchões que chegam são todos de doações e ainda não sobrou nenhum para mim.”

Izaldite mora de favor no Sitio dos Vianas, em São Bernardo, tem renda mensal de R$170 e está em busca de uma moradia própria. “Por isso estou nesta luta. O mundo é tão grande que daria para cada um ter o seu cantinho. Um terreno com tanta terra como essse para uma pessoa só é injustiça”, reclamou.

 

Mesmo com problemas, crianças conseguem se divertir

 

Diferentemente de muitas crianças de hoje em dia, que se divertem com vídeo-games e computadores, os cerca de 250 meninos e meninas do acampamento do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) no Jardim do Estádio se distraem com brinquedos e atividades de outras épocas.

Esbanjando improvisação, os jovens se distraem com bola, fubeca, pega-pega, peão, pipa, bicicleta e balanço de corda amarrada no galho de uma árvore. “A gente brinca com isso”, disse um dos garotos. Os meninos também jogam futebol em quadra que fica na escola ao lado do assentamento.

Pensando no entretenimento das crianças, o MTST reservou espaço no terreno para montar uma tenda, chamada de ciranda, onde serão realizadas atividades culturais, brincadeiras e reforço escolar. “Isso é muito importante para eles”, disse Zezito Alves, um dos coordenadores do movimento.

Apesar das várias alternativas para diversão, os jovens não ficam o dia todo brincando. Aqueles que estão matriculados na rede municipal de ensino continuam frequentando as aulas normalmente. “A escola é perto e todos estão mantendo a rotina”, relatou Alves.

Andréia Santos, 30 anos, está acampada com os três filhos. De manhã a menina de 4 anos vai à aula. Depois do almoço, o garoto de 6 é que vai estudar. Nesse intervalo de tempo, a sem-teto cuida do bebê de apenas um ano. “Tenho que pedir na vizinhança água para dar banho e trocar. A sorte é que minha família mora aqui perto e posso ir buscar café e bolachinha para as crianças”, afirmou.




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