Economia Titulo Confusão
Caminhoneiros só
voltam com escolta

Distribuidoras pedem trégua na restrição para abastecer
postos, porém a prefeitura de São Paulo nega solicitação

Alexandre Melo
Erica Martin
08/03/2012 | 07:30
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Os caminhoneiros que entregam combustível na Grande São Paulo impuseram ontem novas condições para voltar ao trabalho. O Sindicam-SP (Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de São Paulo) protocolou ofício na Polícia Militar pedindo escolta para cada caminhão que sair da base de distribuição de combustíveis. Estima-se que 700 veículos fazem esse trabalho todos os dias. A Polícia Militar disse que atenderá a solicitação, mas dependerá da disponibilidade de efetivos, e que não haverá uma viatura para cada caminhão. Com isso, a atividade pode ser retomada ainda hoje.

Já os sindicatos das distribuidoras e postos pediram à prefeitura de São Paulo trégua na restrição de circulação de caminhões pela Marginal do Tietê e 27 vias adjacentes por uma semana. Mas o prefeito Gilberto Kassab (PSD) negou o pedido.

Para o presidente da Sincopetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo), José Alberto Paiva Gouveia, com a suspensão seria possível reabastecer os postos. "Se o pedido fosse aprovado, a situação voltaria ao normal entre quatro e sete dias."

Passado o prazo, os caminhoneiros teriam que encontrar alternativas para se adequar à regra, que impede a circulação entre 5h e 9h e das 17h às 22h na semana. "Aumentar o número de motoristas e veículos estão entre as possíveis ações, mas, além do custo, leva tempo, pois precisa de treinamento específico."

A Justiça determinou na terça-feira a volta ao trabalho sob a pena de multa diária de R$ 1 milhão, mas a categoria manteve os braços cruzados ontem.

BOLSO DO CONSUMIDOR - Segundo o presidente do Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes), Alisio Vaz, o consumidor pagará a conta dos custos adicionais que a categoria terá para se adequar às restrições na Marginal - contratação e qualificação de mão de obra.

Dos 3.080 estabelecimentos na Grande São Paulo, praticamente todos estavam sem gasolina na tarde de ontem. Os locais recebem 40 milhões de litros de combustível por dia, mas ontem foram entregues 2 milhões. Na região, a reportagem do Diário percorreu 62 postos e 50 estavam fechados.

Parte dos que tinham o produto quiseram lucrar mais às custas do cliente. O Sincopetro recebeu 35 denúncias de preços abusivos. O Procon-SP informou que, pelo Código de Defesa do Consumidor, elevar sem justa causa o preço é ilegal. Funcionários de postos foram presos.

Mais atos de violência foram registrados. Um caminhoneiro que ia para a distribuidora da Avenida Presidente Wilson foi abordado por manifestantes que desengatilharam a parte traseira do veículo (onde fica armazenado o combustível) e a carga ficou no chão. Comboios policiais foram necessários para garantir o abastecimento de serviços essenciais. Em toda a região, o que se via eram filas em busca dos últimos litros de combustível.

 

Empresas de ônibus adotam estratégias para abastecimento

O gerente geral da Aesa (Associação das Empresas do Sistema de Transporte de Santo André), Luiz Marcondes Freitas Júnior, disse que as companhias de ônibus da cidade buscaram alternativas para manter os veículos abastecidos e funcionando. "Entramos em contato com transportadoras que têm caminhões-tanque próprios para suprir a necessidade, com isso há combustível garantido até amanhã (hoje) durante o dia todo", explicou. Na Rigras, umas das empresas de transporte coletivo de Ribeirão Pires, a situação era um pouco mais delicada. "Só tínhamos diesel até o meio dia de amanhã (hoje)", explicou o dono da empresa, Nivaldo Gomes. Mas por volta de 18h um caminhão acompanhado por comboio e carregado com 20 mil litros de diesel (suficiente para suprir a demanda da frota de ônibus por um dia e meio) chegou na companhia. Durante todo o dia de ontem foi difícil encontrar postos sendo abastecidos. Por volta de 12h30, a equipe do Diário encontrou, em São Caetano, um posto que estava recebendo o combustível. Mas o estabelecimento só atende veículos que prestam serviços essenciais à população. (Erica Martin)

 

Mobilização pesa no bolso de caminhoneiros e postos

A Avenida Barão de Mauá é uma das mais movimentadas de Mauá. E é lá que o empresário Marco Antonio Gomes mantém, em sociedade, seu posto de combustível. Na tarde de terça-feira, ele tinha em mãos o boleto para o pagamento do combustível que encomendou com a distribuidora. A entrega era prevista para domingo, durante a noite, mas dois dias se passaram e o caminhão não chegou. E no início da manhã de terça, após filas de carros, os frentistas do local já indicavam aos motoristas que as bombas estavam secas. O impacto foi expressivo para o estabelecimento. "Em média vendo diariamente 17 mil litros", garantiu.

Dificilmente empresários do ramo fazem estoques. Como a entrega é rápida, quando o reservatório está próximo ao fim, eles entram em contato com as distribuidoras, que por sua vez mandam caminhoneiros, normalmente autônomos, suprirem a demanda.

Gomes, como a maioria dos gerentes e proprietários dos postos ouvidos pela equipe do Diário, preferiu não falar em faturamento. Mas revelou a intensidade da movimentação no local. "São certa de 12 mil atendimentos por dia." A conta aparenta não bate, mas vários motoristas param para abastecer só R$ 5. Os motoqueiros, por sua vez, colocam até menos do que um litro.

TRANSPORTANDO - Os caminhoneiros que transportam combustível também sentem no bolso as consequências da paralisação. Para aqueles que são donos dos caminhões, os três dias de mobilização resultaram, em média, em R$ 1.500 a menos no faturamento mensal por veículo.

Cada frete garante aos proprietários dos caminhões cerca de R$ 250. Os motoristas, muitas vezes contratados pelos donos dos veículos, ganham entre R$ 50 e R$ 80 por transporte. Em um dia, é comum realizar dois fretes.

Gilberto Rossi é proprietário de três caminhões de transporte de carga líquida. Um dos veículos ele dirige. Os outros dois são guiados por motoristas contratados pelo autônomo. Ele explicou que ficar parado terá impacto relevante no bolso. "Temos família também. Sem contar as prestações dos caminhões", desabafou.

Rossi explicou que a maioria dos caminhoneiros que transportam combustível vivem pagando financiamento, devido ao caminhão sofrer desgaste intenso. "E por isso temos que trocar de veículo a cada cinco anos." (Pedro Souza)




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