Setecidades Titulo Pesquisa
Poluição aumenta
com o Rodoanel Sul

Projeto envolve 28 escolas e mostra que nível de poluição é
maior em unidades próximas ao viário, inaugurado em 2010

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
26/10/2011 | 07:30
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Lençóis pendurados nas fachadas de 28 escolas estaduais de São Bernardo serviram como instrumento de pesquisa para 1.200 alunos e identificaram as áreas mais poluídas do município. A princípio, a constatação é de que as áreas próximas ao Trecho Sul do Rodoanel apresentaram nível elevado de poluição, no entanto, os materiais coletados ainda serão avaliados para identificar quais partículas estão contidas nas amostras.

Numa escala que vai de 1 a 4, as escolas próximas ao Trecho Sul do Rodoanel Mário Covas receberam índices 2 e 3. "Ainda é cedo para dizer, mas observamos impacto com aumento da poluição em decorrência do Rodoanel", avalia o secretário de Gestão Ambiental de São Bernardo, Giba Marson. Inaugurado em abril de 2010, o trecho de 62 quilômetros recebe cerca de 52 mil caminhões por dia, segundo o secretário.

De acordo com Giba, será feita análise detalhada para indicar quais são as partículas encontradas nos lençóis. Ele considera cedo para avaliar, por exemplo, os motivos para a região do Tatetos estar entre os dois piores índices de poluição, junto com o bairro Assunção. "Vamos observar com muito cuidado, porque pode ser poeira ao invés de poluição. Esse projeto servirá como indicador para a instalação de políticas públicas na cidade."

Das 28 regiões avaliadas, apenas a EE Professora Maria Osório Teixeira, na região do Alves Dias, obteve o menor nível de poluição. A maior parte das escolas, 15, teve índice 2 na escala e dez instituições de ensino foram classificadas com o nível 3 de poluição. Duas escolas, EE Omar Donato Bassani, no Tatetos, e EE Brazilia Tondi de Lima, no Ferrazópolis, foram classificadas no índice 4, sendo as mais poluídas.

Na opinião do especialista em poluição Paulo Saldiva, esta é uma experiência transformadora e benéfica, apesar de não ter valor científico. "O ensino se baseia no aprendizado ativo, então o lençol com coloração é mais compreensível para a comunidade do que um número obtido com o monitoramento da Cetesb", comenta.

 

Proposta educativa envolve alunos de 28 unidades 

O projeto Poluição do Ar: da Percepção à Ação foi realizado durante oito semanas, começando no dia 18 de agosto, por alunos de 5ª séries de 28 escolas estaduais espalhadas pela cidade de São Bernardo.

Os estudantes acompanharam a evolução da coloração dos lençóis pendurados nas fachadas. "Nosso objetivo é despertar o interesse das crianças sobre o meio ambiente, além de fortalecer as parcerias na busca de soluções de problemas comuns", avalia a técnica em meio ambiente da Secretaria de Gestão Ambiental de São Bernardo Marina Gonzalbo Cornieri.

Para a coordenadora pedagógica da EE Omar Donato Bassani, Eni Cardoso, ter o pior índice de poluição da cidade não surpreendeu. "Acredito que está dentro do esperado, até porque hoje em dia é muito difícil encontrar áreas livres de poluição", diz. Segundo ela, a ação foi importante para mobilizar os alunos e incentivá-los a preservar o meio ambiente.

Os alunos da EE Professor Domingos Peixoto da Silva, no bairro Assunção, ficaram surpresos por estarem no nível 2 da classificação. "Eles ficaram espantados porque não imaginavam que ficaria tão sujo, já que estamos perto de área de manancial", comenta a professora de Ciências Lígia Ladeira.

O projeto foi desenvolvido pela Secretaria de Gestão Ambiental de São Bernardo em parceria com a diretoria de ensino do município e com a ONG Terra Viva.

 

Região precisa aprender com erros de S.Paulo 

Convidado para proferir palestra no encerramento do projeto Poluição do Ar: da Percepção à Ação, o especialista em poluição ambiental Paulo Saldiva chamou a atenção quanto à necessidade de o Grande ABC aprender com os erros cometidos pela Capital quando o assunto é trânsito e emissão de poluentes.

"O Grande ABC tem jeito, só não pode cometer os erros de São Paulo, que demorou para investir em transporte público." Para o especialista, o transporte coletivo de qualidade é a única saída contra a poluição. Ele defende corredores de ônibus com alternativas para o tráfego de bicicletas. "Aqui, talvez possa nascer a sociedade protetora do ser humano, já que existem várias sociedades protetoras dos animais, mas nenhuma do ser humano." 

INSPEÇÃO VEICULAR
Enquanto o transporte público não funciona, a inspeção veicular foi alternativa encontrada por São Paulo para minimizar a emissão de poluentes na atmosfera. A Cetesb estuda implementar a medida no Grande ABC nos próximos anos, o que para Saldiva é o caminho a ser seguido. "A gente já tem estudo que mostra o efeito benéfico da inspeção veicular para a saúde, mas temos de levar em conta que 30% da frota é clandestina e a cidade recebe muitos caminhões de outros locais", aponta.

Para o especialista, a solução é a mudança do comportamento frente ao transporte coletivo e uso do solo. "Quase 7.000 pessoas morrem por ano em função da poluição ambiental na Região Metropolitana. Será que nosso conforto justifica?" Segundo ele, o congestionamento aumenta em torno de 15 quilômetros por ano e a velocidade média dos veículos no trânsito cai cinco quilômetros no mesmo período.




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