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Chuvas colocam o
Macuco em alerta
Natália Fernandjes
Angela Martins
17/10/2011 | 07:56
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Local onde ocorreu a maior tragédia do último verão no Grande ABC, na qual morreram cinco pessoas vítimas de deslizamentos de terra, o morro do Macuco ainda apresenta riscos para seus moradores. A chuva intensa que caiu sobre a região nos últimos dias já colocou a população do local em estado de alerta.

Assim que o céu escurece, começa a apreensão do ajudante José Aparecido Berlato, 44 anos. "Estou sempre atento, olhando para os morros. De vez em quando dou uma volta por ai para ver se está tudo bem", conta ele,morador do local há 40 anos. No últimos dias, não houve movimentação de funcionários da Defesa Civil no morro, segundo ele.

Apesar do perigo anunciado, ainda há quem se arrisque. A dona de casa Raimunda dos Santos, 38 - grávida de nove meses e mãe de outros cinco filhos -, já foi avisada por assistente social da Prefeitura de que perderá o cadastro para um apartamento da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo, caso não saia da casa, que está condenada.

"A prefeitura paga auxílio aluguel de R$ 300, mas nunca consegui achar uma residência por esse valor. Quem aluga uma casa para uma mulher com cinco filhos?", pergunta. Segundo Raimunda, a única ajuda que recebeu do poder público foram cestas básicas, no período em que ocorreram os deslizamentos. "A Prefeitura só aparece aqui quando acontece alguma tragédia."

Muitos moradores já deixaram suas casas, com medo, ou foram desalojados pela Defesa Civil devido ao risco de desabamentos. O serrador Elizeu da Silva, 47, teve a casa demolida logo após os deslizamentos registrados em janeiro. "Tive de sair com minha mulher e filha e agora estamos em um local mais seguro."

Para a comerciante Neide Menezes da Silva, 54, que perdeu uma amiga nos deslizamentos em janeiro, a vontade é deixar o morro do Macuco. "Quero ir embora, mas não tenho condições financeiras. Toda vez que chove, o pessoal sai das casas, com medo dos desmoronamentos. É uma situação muito difícil."

A dona de casa Ana Maria Barboza, 48 anos, diz que só começa a ficar com medo quando a chuva engrossa. "Minha casa não está muito boa, mas como não tenho para onde ir, só resta torcer para que nada aconteça."

O autônomo Marcelo Silva, 33, teme pelo próximo período de chuvas fortes, marcado pelo início do verão. "É claro que sabemos que corremos risco em morar aqui, mas não há outra maneira. Tudo que resta é esperar."

 

Cidade tem verba do PAC para fazer mapeamento

 

A Prefeitura de Mauá conseguiu R$ 300 mil do governo Federal, por meio do PAC 2, para a elaboração de um plano municipal de redução de riscos. A partir desse projeto, serão diagnosticadas as áreas mais críticas da cidade. Com o documento, será possível o município pleitear investimentos para a execução de novas obras.

O levantamento será realizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas, cujo contrato ainda está em processo de formalização e aguarda parecer jurídico, que deve sair nos próximos dias. O último mapeamento na cidade foi realizado em 2004, também pelo IPT, e mostra manchas que indicam as áreas de risco, mas não consta o número de famílias residentes nesses locais. Além do Jardim Zaíra, os bairros mais afetados pelas chuvas de janeiro passado foram o Jardim Rosina, Cerqueira Leite e Chácara Maria Aparecida.

Em março foi aprovado outro projeto pelo PAC 2, do governo federal, para a contenção de encostas em toda a extensão da marginal do Rio Tamanduateí, desde o Cerqueira Leite até o começo do Jardim Oratório. Serão investidos R$ 22,5 milhões em obras. A Prefeitura aguarda os trâmites para a liberação dos recursos por parte da Caixa Econômica Federal.

Além disso, foram concluídas no primeiro semestre de 2011 uma série de obras de drenagem e contenção na cidade. No Jardim Zaíra foram construídos muros de arrimo na Rua Antônio Calegari e entre a Rua Aristides Lopez e Avenida Saturnino João da Silva. Na esquina da Avenida Adilson Dias de Souza e da Rua Remo Luiz Corradini foi feito o redimensionamento da galeria pluvial, auxiliando no escoamento da água.

Em outros pontos do município, como nas ruas Vitória e Bernardino José Soares, nos Jardins Paranavaí e Luzitano, respectivamente, também foram construídos muros de arrimo. (AM)

 

É preciso fazer novo estudo na área, diz geólogo

 

A ocupação desordenada do solo pelas moradias irregulares, somada ao terreno instável, pode resultar em novos desmoronamentos e mortes no morro do Macuco. De acordo com o geólogo Márcio Ackerman, que realizou mapeamento quando ocorreram os primeiros escorregamentos de terra que mataram duas pessoas, em janeiro, foram identificadas várias Áreas de Proteção Permanente no morro do Macuco, classificadas como APP de nascente, de 45° e de topo de morro.

"Quando identificamos APPs, quer dizer que o terreno precisa de uma mata para manter a estabilidade. Ao retirarmos a vegetação, o solo fica sensível a desmoronamentos. Hoje só podemos saber o real risco de um deslizamento se for feito um novo estudo da área, mas o que podemos concluir é que, caso a APP não seja devidamente cuidada, há risco de novas mortes", argumenta o especialista.

Segundo a Prefeitura de Mauá, o loteamento Chafik - denominação oficial do espaço no qual o morro do Macuco faz parte - é uma ocupação irregular com 1 km² e que demanda muito cuidado por ser área de risco, com mais de 45º. É a maior declividade do município.

Já foram feitas mais de 200 demolições desde dezembro, de ocupações novas e interditadas. Entre notificações da Defesa Civil, foram cerca de 1.000. Também foram interditadas 700 moradias, entre parciais, temporárias (onde os riscos podem ser minimizados ou mitigados) e totais.

Ainda de acordo a administração, nesse local é feito monitoramento permanente para evitar novas ocupações. Além das demolições e interdições, são realizados trabalhos de limpeza de córrego, vias e demais espaços pelos servidores da Secretaria de Serviços Urbanos, uma vez que o acesso não permite a entrada de tratores.

Em nota oficial, a Prefeitura afirma que "a área conta ainda com equipes de Saúde da Família, com médicos, enfermeiros, agentes comunitários de Saúde, dentistas e também outros profissionais, como nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, educadores físicos e fisioterapeutas, entre outros. A região receberá ainda neste ano nova unidade de Saúde, um Cento de Referência de Assistência Social e novas instalações para o Centro de Ações Socioeducativas". (AM)

 

São Bernardo possui 44 áreas de risco

 

Entre as cidades do Grande ABC, São Bernardo é a que possui mais áreas consideradas de risco. São 44, com cerca de 1.600 habitações, classificadas como RE3 (Risco Alto de Escorregamento) e RE2 (Risco Médio de Escorregamento). A projeção é de que cerca de 6.400 pessoas vivam nesses locais.

De acordo com a Prefeitura de São Bernardo, os locais são monitorados de forma permanente pelos técnicos da Defesa Civil e não apresentam necessidade de remoção. As famílias que viviam em cerca de 1.500 unidades habitacionais consideradas de R4 (Risco Muito Alto de Escorregamento) já foram removidas por meio do Programa Renda Abrigo, que garante um auxílio aluguel no valor de R$ 315. (AM)

 

OUTRAS CIDADES

A Defesa Civil de Santo André tem cadastrados e monitorados, atualmente, 23 áreas de risco geológico em todo o município. As áreas da cidade que apresentam maior risco na questão dos deslizamentos são os bairros Jardim Irene, Jardim Santo André e Recreio da Borda do Campo.

Segundo o Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André , a Defesa Civil mapeia e monitora diariamente, o ano todo, os pontos críticos da cidade, e durante a Operação Chuvas de Verão, instaurada em 1º de dezembro, todo o município fica em estado de alerta.

Em Ribeirão Pires, os principais locais com riscos estão nos bairros Jardim Caçula, Jardim Mirante, Ouro Fino e Parque Aliança. Em nota, a Prefeitura esclarece que "vem acompanhando caso a caso cada situação de risco. Os casos já designados como de risco iminente continuam sendo monitorados e os imóveis, interditados - total ou parcialmente".

Em se tratando de ocupações antigas - em áreas públicas ou glebas particulares -, estão sendo acompanhadas pelo setor de regularização fundiária, ligada à Sephama (Secretaria de Planejamento Urbano, Habitação, Meio Ambiente e Saneamento Básico). Quanto às novas ocupações, existe o Plano Diretor e a Lei da Billings.

Em Diadema, conforme levantamento do Plano Local de Habitação de Interesse Social, há em situação passível de risco cerca de 2.060 famílias residentes em dez núcleos habitacionais, que são alvo do programa de Urbanização de Favelas.

Segundo a administração municipal, outras 1.180 famílias residem em área de domínio da Ecovias, na Rodovia dos Imigrantes. De acordo com informações da Prefeitura, as áreas são permanentemente monitoradas, em ação integrada, por técnicos da Defesa Civil e da Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano. (AM)




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