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Parto normal lidera
na rede pública
Bruna Gonçalves
Do Diário do Grande ABC
11/09/2011 | 07:30
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Os partos normais superaram as cesáreas na rede pública do Grande ABC. Em 2009, metade dos nascimentos foi normal, enquanto que em 2010 a proporção foi de 58%. Até o primeiro semestre deste ano, o índice já havia chegado a marca do ano passado. Apenas Mauá realiza mais cesarianas (60%).

"Mesmo com programas de incentivo, tem situações em que a cesárea é indicada devido às condições clínicas", explica o superintendente interino Wagner Boratto do Hospital Radamés Nardini, em Mauá.

A Organização Mundial da Saúde recomenda que as cesáreas correspondam a 15% dos partos. No ano passado, a média do Brasil foi de 36%; no Estado, 40%; e na região, 42%.

Mesmo aquém do desejado, as prefeituras afirmam que a mudança dos índices está ligada às políticas públicas de conscientização da importância do pré-natal e a orientação dos benefícios do parto normal como a humanização, além da recuperação mais rápida e menor risco para a mãe e o bebê.

A cidade que mais reduziu o número de cesáreas desde 2009 é São Bernardo. O índice passou de 60% para 35%. "Queremos melhorar, mas está aceitável pelo alto risco de casos atendidos", explica o coordenador da obstetrícia do Hospital Municipal Universitário, Mauro Sancovski.

São Caetano comemora a queda, com índices de 38%. "Preparo e motivação da equipe são fundamentais para incentivar as mulheres", explica a assessora Especial de Coordenação da Ação Social de São Caetano, Regina Maura Zetoni. Santo André e São Caetano dão aula para gestantes.

A estudante de São Caetano Maria Thamires Reis Silva, 15 anos, sempre quis parto normal. "Fiz curso, participei de palestras e busquei informações e os conselhos", disse a mãe de Antony, de apenas quatros dias. Já a auxiliar administrativa Erica da Conceição, 19, tinha medo da dor. "Tive a Micaelly dia 8 e estou me recuperando muito bem." 

DESAFIO
Para a coordenadora técnica da Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, Esther Vilela, reduzir a mortalidade é prioridade. "A cesariana aumenta três rezes o risco de vida da mãe e do bebê. Muitas vezes é feita sem que a mulher esteja em trabalho de parto e corre o risco de o bebê nascer prematuro." Até 2014, o Brasil terá 180 Centros de Parto Normal.

Outro desafio é reduzir o número de procedimentos na rede pública, que segundo Esther, chega a 90%. " É uma questão cultural que supervaloriza os riscos, as tecnologias e desvaloriza o parto como algo da família, um momento entre mãe e filho." 

 

Chances de ter parto normal são de 90% 

A ginecologista e obstetra da Fundação do ABC Alessandra Palma afirma que a chance da realização de parto normal é de 90%. A opção vai depender da saúde da mãe e do filho e da posição do bebê na barriga.

Para mulheres que já tiveram filhos, é preciso levar em consideração o tempo da primeira gravidez. "Se fez cesárea há menos de dois anos ou dois procedimentos cirúrgicos, não é recomendável o parto normal porque corre o risco de romper o útero."

Diretora da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo, Maria Rita de Souza ressalta que muitas gestantes criam mitos sobre o procedimento. "Dizem que vai doer, que não tem anestesia, que o corte atrapalha a vida sexual. É quando entra o papel do profissional, das campanhas e da mídia para desmistificar e incentivar."

Outra preocupação é o tempo do parto. Para as especialistas, varia de acordo com a paciente. "Tem partos que podem durar até 24 horas. E é só demorar um pouco que já querem fazer cesárea. É preciso entender que cada uma tem seu tempo", explica Alessandra.

A operadora de caixa de São Caetano Fabiana Gonçalves de Souza, 25 anos, levou 24 horas para ter a filha Fabiana. "Em comparação ao meu primeiro filho não sofri tanto como esse", disse a mãe, que também tem um menino que nasceu por cesárea.

A terapeuta holística de São Bernardo Talita Lisboa, 28, sempre quis parto normal, mas precisou optar pela cesárea. "A bolsa estourou, porém, no hospital viram que o bebê tinha feito cocô dentro do útero. Dessa forma, para a segurança dele, foi feita a cesárea", relembra a mãe de Antônio. 

OPÇÃO
Se puderem escolher, a fisioterapeuta Cíntia dos Santos, 34, e auxiliar financeira Vanessa Pires, 21, querem ter os filhos por parto normal. "A recuperação é mais rápida e as condições são mais indicadas para um parto sadio", explica Cíntia, grávida de nove meses.

Vanessa quer ter o segundo rebento pelo procedimento normal. "O contato da mãe e do bebê é essencial. Minha mãe teve os quatro filhos de parto normal, tive meu primeiro filho assim e já sei como é a recuperação."

 

Mulheres optam por cesárea por medo e comodidade 

Mesmo com todos os benefícios do parto normal, há mulheres que ainda preferem a cesárea. Entre os motivos está a praticidade de marcar data e hora e a ideia de que provoca dores menores.

Diretora da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo, Maria Rita de Souza Mesquita estima que pelo menos 40% das mulheres estão decididas em fazer cesárea quando chegam ao consultório.

A coordenadora de orçamento de Mauá Gislene Meneses, 34 anos, sempre teve pavor de parto normal. "O medo da dor e de ficar horas em uma sala me assusta", explica a mãe de Nicolas, 10 meses, que fez cesárea. "A recuperação não foi traumática como muitas mulheres dizem."

A designer de Santo André Danielle Cruz do Carmo, 29, já fez duas cesáreas. "Além da praticidade de marcar a data, mesmo sabendo a importância do parto normal, sempre tive medo das contrações e das dores, não queria sentir", explica a mãe de Larissa, 3, e Lucas, 8 meses.




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