Economia Titulo Consumo
Sobe chance de famílias darem calote

Aumento da renda e acesso fácil ao crédito desencadeiam
compras por impulso e dívidas que superam ganham mensal

Vinicius Gorczeski
Especial para o Diário
07/09/2011 | 07:30
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A compulsividade por compras aparece aos 18 anos, mas se complica a partir dos 30, quando dívidas, muitas vezes, superam os ganhos mensais. Essa é a realidade de muitos brasileiros: o poder de compra em ascensão tem feito crescer na mesma medida o volume dos débitos, cujos pagamentos viram novela. Pelo menos 38% dos brasileiros com contas atrasadas acreditam que não vão conseguir saldá-las. É o que afirma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, divulgada ontem.

O presidente da ONG Associação Brasileira do Consumidor, Marcelo Segredo, destaca que o número de endividados cresce: só entre janeiro e agosto foram 6.000 consumidores com problemas para quitar dívidas procurando a ONG, na Capital e em Santo André, onde há filial - 70% deles são por consumo excessivo. Apenas 30% são por perda de familiares ou de emprego. Os 25 atendimentos diários correspondem ao dobro do número de pessoas que ele orientava há um ano. "E 80% estão com todo o orçamento comprometido."

Consumir por impulso, prazer maior no momento da compra do que pelo produto em si e a frequência elevada dos desembolsos são sinais de alerta para o transtorno, dizem especialistas ouvidos pela equipe do Diário. O médico Antônio Carlos Justino alerta que há ainda barreiras que dificultam diagnósticos: "O apelo consumista que existe hoje atrasa o reconhecimento do transtorno, pois o consumir é visto como normal". Baixa autoestima e ansiedade estão associados. E o tratamento, em casos graves, ocorre via medicamentos. Não há associação voltada exclusivamente para consumistas, mas existem grupos de apoio.

DICAS - É no orçamento que o buraco é maior. Dívidas não pagas ganham proporções elevadas por conta dos juros. Segredo ensina que o consumidor afogado nos vencimentos deve registar no caderninho todos os gastos - com cartão de crédito, parcelas de financiamentos, cheque especial. "As pessoas só sabem que há dívidas para pagar durante o mês, mas não sabem o tamanho da encrenca." Feito isso, é possível planejar melhor as finanças.

Poucos são os consumidores que conhecem uma das armas disponíveis para orientação, principalmente quando a dívida é salgada e os dados estão cadastrados no Sistema de Informações de Crédito, do Banco Central. Segredo afirma que são raras cobranças indevidas: a conta é alta, mas a dívida real salta na tela em patamares bem menores. "O adicional é usado para margem de ganhos."

Para ter certeza do valor, é preciso visitar unidade do BC, na Avenida Paulista, 1.808, na Capital, e solicitar login e senha. Informações que serão usadas no sitema www3.bcb.gov.br/scr/dologin - que vai exibir a cobrança correta. O serviço e a requisição das informações são gratuitos. De posse das informações, o consumidor pode tentar negociação dos valores a pagar: se forem menores do que R$ 40 mil dispensam advogados e podem ser negociados junto ao tribunal de pequenas causas.

Outra dica é não pedir empréstimos para quitar dívidas. Nesse caso, o inadimplente deve pedir ao credor a negociação dos débitos via carta registrada, afirmando o percentual que pode ser dispensado todos os meses para pagá-las, dentre uma renda mensal disponível. Se o banco rejeitar a proposta, o consumidor pode levar a carta registrada como prova ao tribunal. "O Judiciário entende como correta a atitude, principalmente se os valores propostos pelo consumidor forem de 20% a 30%. Quer provar idoneidade maior do que essa?", questiona Segredo.

Outra orientação segue na contramão do que o consumidor faz hoje: deixar dinheiro em caixa. Há até margem ideal. "Se o consumidor vive com R$ 3.000 ao mês, deve deixar R$ 18 mil em caixa para o caso de ficar sem renda. É o dinheiro que irá ajudar por seis meses, prazo médio para encontrar novo emprego ou se restabelecer."

Com valores desses, é preciso afastar sonhos que, na realidade, podem virar pesadelos, como comprar carros à vista, por exemplo. "Veículos depreciam o patrimônio. Você compra hoje, volta no mesmo dia e já não vale mais o mesmo. Carros nunca foram investimento", alerta. Para quem acha o montante elevado, Segredo ameniza: a dinheirama se constrói mês a mês, via depósitos de 10% a 20% da renda mensal na poupança. Um investimento seguro. "Mas se for possível economizar mais, melhor. O consumidor só não gera caixa porque não administra bem o dinheiro que ganha."




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