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Insensato Coração:
show de insensatez
Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
19/08/2011 | 23:28
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Divulgação


Explícito no título, 'Insensato Coração', que encerrou ontem sua carreira de novela das nove, na Globo, foi uma alegoria de corações desalentados, que encontram no meio do caminho algo que não pode corresponder a uma boa paixão.

Podemos dizer isso principalmente por conta de Norma (Glória Pires), primeiramente, uma humilde e coitada enfermeira. Enjeitada pela vida, encontrou no amor por Léo (Gabriel Braga Nunes) a razão de existir. Enganada e humilhada, foi presa após o golpe que seu amor lhe deu, e renasceu fênix, das cinzas, poderosa e armada para a vingança.

Rica, bonita, se apaixonou novamente pelo mesmo canalha. E encontrou na reincidência o caminho do seu fim. Morta, deixou a vida boa que conquistou e que poderia usufruir. Nem vilã nem mocinha. Muito menos a coitada apaixonada. Norma foi a mulher que muitas mulheres - e ate mesmo homens - são. Um desvio da emoção e um golpe de uma ruim maré. Caiu na rede da pessoa errada.

É por isso a identificação de muitos com a personagem. Ela ganhou a novela inteira e o público com a sua verossimilhança.

Wanda (Natália do Valle), a assassina de Norma, figura como outro caso. É justo que a mãe sequelada de um psicopata também seja observada de perto. Na novela inteira, tanto quanto na criação de Léo, Wanda errou e atropelou seu papel de mãe pelo amor sem limites que tinha pelo filho.

A personagem de Natália do Valle, que ficou tanto tempo relegada à louca histérica, teve seu desfecho acertado. Figurou como assassina e falhou como mãe. E deu à excelente atriz a oportunidade de brilhar antes do fim.

E são tantos e outros exemplos. Eunice (Debora Evelyn) e sua mania de grandeza. Kléber (Cassio Gabus Mendes) e sua homofobia inexplicável. Vinicius (Thiago Martins) e seu ódio incontrolável...

O último capítulo, tirando as partes felizes de gravidez, casamento e reconciliação, foi um passar de régua nos corações do mal.

Outro destaque do capítulo, além da descoberta do assassino de Norma, foi a morte de Léo, em vingança de Cortez (Herson Capri), que ordenou que os seus capangas da prisão atirassem o vilão do alto do prédio.

Natalie Lamour (Deborah Secco), eleita deputada, foi um tapa na cara da sociedade, como brinca o povo pelas redes sociais. A personagem veio como prova da insensatez coletiva que paira no Brasil. E mostrou que ninguém fica impune, nem mesmo o povo, que atura tantos outros gostosos e analfabetos na vida real.

Mas insensatos corações, mesmo, podem ser considerados os de Pedro (Eriberto Leão), Marina (Paola Oliveira), Carol (Camila Pitanga) e Raul (Antonio Fagundes). Os mocinhos mais insossos da história recente da teledramaturgia, que só fizeram bocejar e ocupar espaço a novela toda, representam o amor que não pode corresponder a uma boa paixão. Cada um é chato demais para fazer o outro feliz.

Já não se fazem mais mocinhos como antigamente há muito tempo. Faz tempo que eles se tornaram mais humanos, mas há um fenômeno esquisito acontecendo na televisão. Os mocinhos, mesmo que mais errantes do que nunca, estão relegados pelos vilões, que trazem consigo sempre uma pontinha de humanidade. E caem no gosto popular, mas não retornam para uma vida boa depois de pagarem pelos seus erros e nem têm a chance de começar de novo. A Norma, não fosse enredar-se para o crime por conta de Léo, mereceria essa chance.




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