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Literatura contra o preconceito
Luciane Mediato
Do Diário do Grande ABC
30/05/2011 | 07:42
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Lima Barreto (1881-1922) foi um dos grandes representantes do movimento libertário na literatura do País. Duramente rechaçado pelos críticos de sua época por usar linguagem coloquial e criticar abertamente a sociedade hipócrita e racista de então, entrou para a galeria dos escritores "malditos".

Autor de obras como 'Triste Fim de Policarpo Quaresma', 'Os Bruzundangas', 'Cemitério dos Vivos', e 'Recordações do Escrivão Isaías Caminha', produziu romances, novelas, contos, crônicas e diários. Vítima de preconceito por ser negro e pobre, só teve a obra reconhecida décadas após sua morte.

A ótica do escritor descreve o homem branco como um grupo que viveu a ilusão da hegemonia racial e, no processo de desenvolvimento, agrediu e violentou brutalmente todos que consideravam não brancos. Essa é a visão do mestre em Teoria da Literatura Luiz Silva, responsável pela mais recente biografia do autor.

'Lima Barreto' (R$ 22), lançado pela Selo Negro, analisa a produção do escritor carioca e mostra a atualidade dos problemas que ele apontou no início do século 20.

"Este livro pretende ser uma reflexão sobre a obra e a vida de Lima Barreto, levando em conta a perspectiva do humilhado que ele assumiu, para realçar aspectos que até então eram tratados com certo descaso ou abordagem visivelmente comprometida com a ideologia dominante naquele momento histórico", explica Silva, mais conhecido por Cuti.

Os escritos de Barreto sempre denunciaram o papel marginal a que negros e negros-mestiços eram relegados em sua época.

Crítico do racismo, da burocracia e da corrupção, o autor sofreu, ao longo da vida, diversos preconceitos, aos quais respondeu com uma obra vigorosa. E, apesar da pobreza, do preconceito racial, do alcoolismo e de internações em hospício, ele foi um dos principais intelectuais do Brasil no início do século passado.

"Ele não pode ser considerado um personagem, como a crítica o vem tratando há muito tempo, patologizando sua trajetória. Temos que ressaltar a resistência dele às barreiras sociais da época. Semelhante a ele temos, dentre outros, Cruz e Sousa, Luís Gama, Augusto dos Anjos."

IDEOLOGIA E ESTÉTICA
Entre as características de Barreto que mais se destacam, estão sua opção ideológica e estética, Ele escolheu o caminho crítico e literário mais difícil e pagou um preço alto por isso. "Criticar o pensamento e costumes do período em que viveu, dar voz ao subúrbio, a tipos esquecidos pela literatura realista e parnasiana e não fazer vista grossa ao racismo pretensamente científico assumido pela intelectualidade branca de então demonstram a importância dele para a cultura brasileira."

Para o biógrafo, Lima não teve e ainda não tem o merecido reconhecimento. "O Brasil abriga uma mentalidade racista nos vários nichos do poder político, econômico e cultural. Essa mentalidade é a responsável pelo processo de alienação de nosso povo, pela falta de autoestima, pela recusa ao patriotismo sério tão necessário aos povos do mundo inteiro, pela desconsideração das práticas raciais discriminatórias como item relevante a ser superado em nossa vida social, pela recusa de ler a história pelo ponto de vista dos humilhados", resume Cuti.




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