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Crença leva família de Diadema a desaparecer
Do Diário do Grande ABC
29/03/2011 | 07:09
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A família de Pedro José Dias, 49 anos, do Jardim Campanário, em Diadema, desaparecida há 14 dias, foi localizada no início da tarde de ontem em Ourinhos, interior de São Paulo. Eles passaram o fim de semana em um albergue do município e foram reconhecidos pela equipe de assistentes sociais. De acordo com a coordenadora da ONG SOS Casa do Bom Samaritano, Márcia Moraes, a família chegou ao albergue no sábado de manhã, encaminhada pela assistência social de Bauru.

"Eles estão bem de saúde. Quando chegaram, contaram que haviam largado tudo para seguir a palavra de Jesus. Vi uma reportagem na TV e os reconheci. Eles estão abalados com a proporção que a história tomou", contou Márcia.

Pedro, a mulher Antonia Aparecida Gomes, 49, e os dois filhos, Henrique, 22, e Thais, 18, largaram os empregos, rasgaram dinheiro, cortaram documentos e, com a roupa do corpo, seguiram no dia 14 para o arrebatamento por Jesus Cristo, que acreditavam ser na mesma data, às 14h.

O arrebatamento é descrito na Bíblia como o momento em que todos os que creem serão levados da Terra antes do começo do Apocalipse.

Para Patrícia Gomes de Carvalho, 30, filha de Antonia, foi um alívio receber a notícia. "Todos estão bem. Isso que importa", afirmou a auxiliar de enfermagem, que foi quem notou a ausência dos pais, pois vive na casa dos fundos com o marido e os dois filhos.

DESAPARECIMENTO
No dia 13, domingo, a família e mais oito pessoas se reuniram para um jantar na residência, onde vivem há mais de 40 anos. O encontro foi chamado de A Última Ceia.

Eles leram a Bíblia, além de rasgarem documentos e dinheiro, cortaram fios de televisão, quebraram o computador, deixaram recados para a família e dinheiro para as contas. No outro dia, desapareceram.

Aparecido Gomes, irmão de Antonia, contou que ele e a mulher foram os últimos a vê-los. "Tentamos convencê-los a não irem, mas minha sobrinha dizia para deixarmos seguir seu rumo", afirmou.

Para os familiares, três homens que faziam pregações na Praça da Sé, centro da Capital influenciaram Pedro, que depois levou a família a acreditar no fim dos tempos.

"Cada um tinha sua vida e de repente tudo mudou. Meu pai largou o emprego. Meu irmão tinha terminado a faculdade, trabalhava, estava noivo e fazia planos. Do nada, largou tudo, assim como minha irmã", relatou Patrícia.

A irmã de Antonia, Cícera, 49, disse que a convivência com o cunhado estava complicada. "Ele se transformou. Mas não imaginava que isso levaria a família a desaparecer."

À espera do reencontro com o pai 

A família de José Carlos Dias, 47 anos, irmão de Pedro, ainda aguarda notícias do metalúrgico, que permanecia desaparecido até o fechamento desta edição. Ele e a família também saíram na manhã do dia 14 para o arrebatamento. O destino era a Rodovia Fernão Dias.

A mulher de José, Valcilene Soares Amorim, 45, e os filhos, Karla, 16, Rubens, 13, e Moisés, 5, também o acompanharam, mas a mãe decidiu retornar com os filhos.

"Fomos no sentido do Jabaquara (Zona Sul da Capital), mas nos perdemos do meu pai, que parou para conversar com familiares de Antonia (mulher de Pedro) e mandou a gente seguir. Espero que ele volte logo", disse Rubens.

A mãe de Valcilene, Maria Soares, 66, disse que o genro era uma pessoa normal. "Mas de uns dois anos para cá, se prendeu muito à religião, tudo era a Bíblia. Minha filha conversava bastante com ele, dizendo que não precisaria sair atrás de Deus, mas não adiantou", comentou a dona de casa, que disse rezar para que José retorne para casa o mais rápido possível.

INFLUÊNCIA
De acordo com o depoimento de um amigo de Pedro, que preferiu não se identificar, o comportamento dele se modificou há cerca de seis meses, depois que mudou de religião e teve acesso a um DVD sobre o fim dos tempos.

"Convencido pelo irmão (José), Pedro se tornou evangélico e passou a frequentar cultos na Praça da Sé (região central da Capital)," contou.

O amigo disse que Pedro e José não frequentavam nenhuma igreja específica, "pois a Bíblia diz que Jesus não pertencia a nenhum templo".

O amigo disse ter participado de duas reuniões na casa de José, apenas por curiosidade, mas não sabe definir ao certo a religião. "Eles pregavam muito o Apocalipse. Afirmavam a todo o momento que o fim estava próximo e iriam se salvar somente os que largassem tudo", afirmou.

Para a vizinha de Pedro, Argentina Gonçalves Oliveira, 66, foi uma surpresa a atitude. "Eles eram muito tranquilos. Falavam pouco com os vizinhos, porque saíam cedo para trabalhar. Não sabia que eram tão religiosos a ponto de sumirem." (Bruna Gonçalves, Henrique Munhos, Illenia Negrin e Marília Montich)




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