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Perto do Centro, mas longe da agitação
Deborah Moreira
Do Diário do Grande ABC
14/03/2011 | 07:40
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Andréa Iseki/DGABC


A menos de dois quilômetros do Centro de Mauá, o tranquilo Jardim Guapituba oferece mobilidade e qualidade de vida aos cerca de 5.800 moradores. Quem mora lá não quer sair. Quem sai quer voltar.

A estudante Andressa Freire, 16 anos, é exemplo. Ela mora com o pai e o irmão há três anos no bairro, predominantemente residêncial e com pouco prédios.

"Viemos porque uma tia mora aqui. Agora, é onde quero construir minha vida. Estou grávida e estamos (ela e o noivo) procurando lugar para morar na região", conta Andressa, que trabalha em um pequeno comércio da família na Avenida Capitão João, próximo à estação de trem, que ganhou o nome do bairro.

Da estação, repleta de flores e pés de manga, amora e bananeiras, é possível se locomover para quatro cidades do Grande ABC, além da Capital e outras tantas localidades interligadas pela malha ferroviária.

Outra opção de transporte público é a linha de ônibus 4511 que corta o bairro pelas ruas Luiz Tonelotti, Rosa bonini Mariani e Avenida Capitão João. "Ainda tem ônibus intermunicipal que vai até a Capital, que passa na avenida (Capitão João). É um bairro pequeno (294 mil metros quadrados) mas estruturado, e onde todo mundo se conhece", frisou a comerciante pernambucana Silvania Maria, 39, que há nove mora em casa alugada no Guapituba.

Outro aspecto citado pelos moradores é a tranquilidade e segurança do local. A Rua Laurindo Alves da Rocha, onde mora o casal de Socorro, no Interior, Maria Formagio, 64, e Pedro Cardoso de Souza, 70, era fechada para carros até cinco anos atrás. Quando mudaram, em 1981, ainda não tinha asfalto e luz. Com eles, moram três filhos e suas famílias, em outras duas casas construídas no terreno de 564 metros quadrados.

"Morávamos em Santo André e queríamos encontrar um terreno para comprar. O dinheiro que tínhamos nos trouxe para Mauá e aqui ficaremos. Hoje, deve valer entre R$ 300 mil e R$ 400 mil", diz Souza, que foi metalúrgico a vida inteira, mas nunca deixou a viola caipira de lado. Aprendeu a tocar ainda criança e, atualmente, integra a Orquestra de Violeiros de Mauá, que e se apresenta em diversas cidades.

PARQUE
Inaugurado em 1996, o Parque Ecológico Guapituba compõe a paisagem do bairro. Seus 580 mil metros quadrados abrigam centenas de espécies nativas e exóticas, além de trilhas e jardins.

Segundo Humberto Fasioli, administrador dos parques municipais de Mauá, o terreno era uma chácara que pertenceu ao alemão Alfredo Klinkerte, morador de Santos, que passava os fins de semana no local. Mudou-se para lá na década de 1940, quando fez diversas obras como um jardim de pedra e um pergolado onde supostamente pode ter havido cultivo de parreiras, quando as árvores ainda eram menores.

Hoje, araucárias, eucaliptos e pinheiros ultrapassam os 20 metros. "No entanto, o que predomina é o sub-bosque de espécies nativas de Mata Atlântica, abaixo das espécies exóticas", contou Humberto.

Por não ser um parque de lazer, não é permitida entrada com bola, bicicleta, animais domésticos. Mas há um playground. A maioria dos frequentadores faz caminhadas entre 7h e 9h. É possível agendar visitas monitoradas para as trilhas. Durante a semana cerca de 200 pessoas visitam a área. Nos fins de semana, chega a 350, ao dia.

Referência na região, bar de Seu João tem viola caipira

O bar e mercearia do João Gandolfi, 59 anos, é passagem obrigatória para quem quer conhecer melhor o bairro. Filho de imigrantes italianos, chegou em Mauá há cerca de 50 anos vindo de Arapongas, no Paraná. Conhece tudo e todos.

Além disso, seu estabelecimento, localizada na Rua Rosa Bonini Mariani, é ponto de encontro de violeiros. Toda sexta-feira, eles se reúnem para tocar e cantar modas caipiras e lembrar os bons tempos.

Uma das lembranças é de quando Seu João fundou o Esporte Clube Guapituba, em 1998, que disputava campeonatos locais em 23 modalidades diferentes como futebol de campo e de salão, dama, dominó, xadrez e pingue-pongue.

"Enquanto fui presidente vencemos todos os campeonatos de futebol, entre 1998 e 2002. Também ganhávamos muitas outras modalidades disputadas entre sociedades amigos de bairro da região", lembrou João, que já havia criado, em 1979, o Esporte Clube Avenida, na Vila Vitória. Do clube no Guapituba o comerciante diz que restou o time de futebol de campo, mas não tem contato.

Autor de frases como a estampada em sua mercearia (‘Fiado só amanhã por que ontem você não soube usar'), João também soltou muitos fogos de artifício no passado. "Todo final de ano soltávamos uma fogueteira gigantesca. As últimas demoravam 40 minutos para estourar. Todos contribuíam para o sucesso da empreitada, inclusive financeiramente", frisou o comerciante, que mora com a mulher e os dois filhos.

Outro fato revelado por ele é o desempenho dos alunos da EE Maria Aparecida Damo Ferreira. Segundo João, ela está entre as dez melhores do Estado. A Secretaria de Educação não confirma. Mas, relatou que há muitos projetos envolvendo a comunidade, como fanfarra e educação ambiental.

Nome do bairro vem do século 19

A passagem da estrada de ferro São Paulo Railway, na década de 1860, dividiu ao meio o antigo Guapituba, espaço avançado da Capital localizado no Km 50 da ferrovia, território da Freguesia de São Bernardo. Desde então os mapas regionais citam Guapituba - com destaque - na área hoje ocupada pelo Parque das Américas, um dos mais extensos loteamentos de Mauá.

O Jardim Guapituba atual fica no sentido contrário, e é bem recente, já que foi aberto na década de 1970. O bairro perpetua um nome histórico do Pilar (hoje Mauá), Guapituba, igualmente emprestado à estação ferroviária local e ao Parque Ecológico Guapituba, próprio municipal que já foi privado e se chamou Chácara Jesseri.

A Chácara Jesseri foi propriedade de um francês, Pierre Agustín Abril. Foi adquirida por Idel Waisberg no início da década de 1960. Era vizinha à Chácara de Alfredo Klinkerte, que é o nome oficial do Parque Ecológico Guapituba, cuja inauguração ocorreu em 1996.

A expressão Guapituba - do tupi, "grande quantidade de aguapés" - deriva de nomes registrados pela paróquia de São Bernardo em 1856: Guarapetuba e Guarapituva, por exemplo. O antigo sítio ganhou um posto telegráfico em 1907, junto à estrada de ferro, no espaço onde foi construída a estação férrea Guapituba, inaugurada em 1983.

Os mais antigos lembram que a linha férrea original vencia um declive acentuado no local, o que atrasava a passagem das composições. Já na primeira metade do século 20 houve o rebaixamento da linha, com um recorte do morro.

O loteamento do Jardim Guapituba original foi aberto em 1973 com 575 lotes, propriedade de Mário Bastos Lemos e outros, cabendo a administração e as vendas a Rolim Imóveis. Alécio dos Santos, funcionário da Rolim, administrou a abertura das ruas.

"Era tudo mato, uma parte de capim-gordura e outra de capim cortado de foice, com pouca lenha", nos dizia Alécio em 1978.

À época, não passava de 25 o número de casas construídas no bairro. A Rolim mantinha um ponto de venda na Avenida Capitão João.

De um folheto de propaganda da época: "Lotes de alto padrão, situação privilegiada, longe da poluição, cercado por imenso bosque".

O Jardim Capituba foi aprovado em 1974. Ele faz parte do Setor 13 do município de Mauá, juntamente com o Jardim São Jorge Guapituba (de 1965, aprovado em 1969), Vila Mercedes (de 1959, aprovado em 1960) e Vila Morelli (de 1959, aprovado em 1960). (Ademir Medici)




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