O presidente da Câmara de Mauá, Rogério Santana (PT), confirmou ontem que abrirá sindicância interna para investigar o uso indevido dos carros oficiais do Legislativo. A atitude foi motivada por reportagem do Diário publicada domingo, que revelou denúncia, encaminhada ao MP (Ministério Público), de que os veículos têm sido utilizados para a prática de políticas assistencialistas e para fins eleitoreiros e pessoais.

Segundo o petista, o inquérito deverá começar a vigorar até a sexta-feira. Até lá, nomeará os três vereadores que ficarão responsáveis por investigar o caso. A escolha se dará atendendo ao critério de proporcionalidade da representação dos partidos na Casa. Assim, é provável que o trio seja formado por um parlamentar do PT, outro do bloco governista, e um da oposição.

"Apuraremos de forma transparente, tomando o cuidado para não desgastar a imagem do vereador antes da conclusão dos fatos", ressalta Rogério, ao atentar que qualquer parlamentar está sujeito a denúncias. "O que não quer dizer que ele seja culpado ou não."

O presidente destacou que, além da sindicância, publicará portaria (em análise pela assessoria jurídica da Câmara) proibindo a utilização dos carros oficiais aos domingos e feriados. Atualmente, com a autorização de Rogério, o uso é liberado fora do horário do expediente, dependendo das justificativas apresentadas.

A acusação encaminhada ao MP relata que a maioria dos vereadores de Mauá utiliza os carros oficiais de maneira irregular. Uma das situações listadas diz respeito a caronas a moradores para a realização de consultas e exames nos hospitais estaduais do Grande ABC (Serraria, em Diadema, e Mário Covas, em Santo André).

Para tanto, os automóveis inclusive passam a noite nas casas de assessores, o que também é proibido, já que têm de pernoitar obrigatoriamente no estacionamento da Câmara.

Mas o flagrante se dá em outra situação. Fotos agrupadas em um CD e também enviadas ao MP mostram carro a serviço do gabinete de Ozelito José Benedito, o Irmão Ozelito (PSB), transportando material de sua campanha para deputado estadual, no ano passado. O socialista defende-se dizendo que foi vítima de armadilha arquitetada por um ex-assessor.

Durante a sessão de ontem, Ozelito aparentou tranquilidade. Porém, não quis tecer comentários sobre o caso.

Oswaldo Dias barra inquérito da Casa contra a Eletropaulo

A oposição tentou, mas o prefeito de Mauá, Oswaldo Dias (PT), conseguiu barrar ontem a criação da CEI (Comissão Especial de Inquérito) da Eletropaulo. A concessionária de energia elétrica vem sendo alvejada por críticas da população e dos vereadores.

A sugestão de criação do grupo é o resultado tirado da comissão especial de acompanhamento, que por um ano e dois meses solicitou, e não conseguiu, respostas satisfatórias sobre a melhora dos serviços prestados pela empresa, cujo contrato com a Prefeitura foi renovado em 2009.

A CEI teria poder para convocar representantes da Eletropaulo e da administração petista a prestarem esclarecimentos na Câmara. Em determinado momento, a oposição, composta de cinco vereadores, esteve confiante de que emplacaria a comissão. Restava uma assinatura, até que o secretário de Governo, José Luiz Cassimiro, a mando de Oswaldo, articulou para que a base de sustentação ao prefeito se unisse pelo adiamento da matéria.

Assim, Rogério Santana, em fala que passou despercebida pelos oposicionistas (emendada na oratória de Rômulo Fernandes-PT) colocou o adiamento por uma sessão da proposta de criação da CEI em votação. "Os favoráveis permaneçam como estão", disse. A oposição cochilou e a matéria ficou para ser apreciada terça-feira.

"Foi prática arbitrária do presidente", reclamou Edgard Grecco (PDT), presidente da comissão de acompanhamento. "Nós (PT) também tomamos vários chapéus na época do Leonel Damo (ex-prefeito)", retrucou o presidente da Câmara.