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Mesmo parada, obra do Rodoanel ainda incomoda
Henrique Munhos
Especial para o Diário
18/02/2011 | 07:30
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Enquanto os moradores do Jardim Zaíra e do Jardim Rosina rezam para que não se repitam os temporais que provocaram deslizamentos e mortes em janeiro em Mauá, moradores e comerciantes da Vila Carlina que estão próximos às obras do Rodoanel torcem para que a água caia todos os dias e acabe com a poeira. "Imploro para que chova. Está insuportável viver aqui", diz a dona de casa Conceição Aparecida Teixeira, 60 anos.

A poeira é resultado das obras de construção de acesso ao Rodoanel na Avenida Papa João XXIII, que inclusive foram paralisadas. Há uma semana o Diário cobra a Dersa sobre o andamento destas obras, mas não obtém respostas. Mais próximas a este local, a Estrada do Guaraciaba e a Rua Luiz Varin são as mais castigadas pelo pó.

Conceição disse que tem de lavar o quintal e limpar a casa todos os dias. Mesmo assim, os móveis e eletrodomésticos estão ficando ressecados. Porém, o que aflige mesmo a família são os problemas de saúde. "Meu marido já está sofrendo com esse pó. Além disso, tenho um filho com rinite e outro que é especial. Fico muito preocupada com ele," conta a dona de casa, referindo-se a Thiago César Teixeira, 24 anos, que sofre da síndrome de Seckel.

Esta doença rara causa retardo de crescimento intrauterino e baixa estatura proporcional, além de retardo mental e anomalias na face, crânio e esqueleto. Thiago tem idade mental equivalente a uma criança de 4 anos, pesa apenas 12 quilos e é deficiente auditivo. "Na virada do ano, ele ficou muito doente, indo parar na UTI", relata a mãe.

Na Rua Luiz Varin, a reclamação vai além do pó. Com as obras de acesso ao Rodoanel, o tráfego foi desviado para essa via, que não suportou as idas e vindas de carros e caminhões e está cheia de buracos. "Tivemos até que mudar a entrada da escola para que as crianças não corressem riscos. A rua está um lixo", diz funcionária da Escola Professora Marilene de Oliveira Acetto, que preferiu não se identificar.

A situação da rua e a poeira afastaram os clientes do restaurante de Carla Pereira, 26. "Alguns operários que vinham almoçar todos os dias aqui já não vêm mais por conta da dificuldade de chegar e do pó que invade o estabelecimento", reclamou.

Procurada pelo Diário, a Prefeitura de Mauá não respondeu se fará alguma ação para acabar com a poeira na Rua Luiz Varin e na Estrada do Guaraciaba.

Contato com o pó pode provocar doenças respiratórias 

Conviver diariamente com a poeira aumenta as chances de se contrair uma doença respiratória. Quem explica é o pneumologista da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Elie Fiss.

"O contato com o pó deixa o pulmão sensível, e a partir daí provoca o surgimento de doenças", afirma o especialista.

De acordo com o médico, estudos já comprovaram que a incidência de pessoas com asma é maior entre os que se relacionam constantemente com o pó. Este é o caso de Leandro Teixeira, 26, filho mais velho de Conceição Teixeira. "Ele não tinha nada, mas pegou rinite há seis meses por conta dessa poeira", conta o pai, Gerônimo de Oliveira, 73.

Elie Fiss declarou que o problema se torna ainda mais sério perto do meio do ano, quando o tempo é mais seco e a umidade do ar é baixa. O pneumologista da Faculdade de Medicina do ABC explica que seria ideal tampar a obra com uma tela ou uma lona, para que a poeira não ultrapassasse aquele ponto. No mais, não há muito o que fazer, segundo o médico. "Porém, as pessoas têm de passar o menor tempo possível nesses locais", aponta Elie Fiss.

Para parte da família de Conceição Teixeira, o contato com o pó é de 24 horas por dia.

"Meu marido fica aqui o dia inteiro, assim como o Thiago, que sofre da síndrome de Seckel. Eles não têm condição de sair. Tentamos ficar no fundo da casa para não sofrer tanto, mas isso nem sempre ajuda", comenta dona Conceição Aparecida Teixeira.




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