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Chororô é comum na volta às aulas
Deborah Moreira
Do Diário do Grande ABC
06/02/2011 | 07:24
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Nicolly tem 3 anos e sempre gostou de ir a escola. Aos 4 meses, quando começou a freqüentar o berçário, encarou com tranquilidade os primeiros dias longe de casa, a chamada fase de adaptação. Foi crescendo, se desenvolvendo e se enturmando com amigos e professores. Mas neste ano foi diferente. Chorou, pediu colo, chamou pela mãe em seu primeiro dia na escola que estuda desde bebê. A cena se repetiu durante toda semana. Seus pais se viram diante de um problema que é mais comum do que se pensa: a rejeição escolar.

Para superar a dificuldade, a encarregada contábil Patricia Regina Pires Salaro, 37 anos, e o autônomo Dalton André Salaro, 38, moradores de São Bernardo, recorreram aos profissionais da escola, que indicaram muita conversa e paciência para encontrar o motivo pelo qual sua filha insistia em dizer: "Não vou para a escola. Não quero ficar lá".

Outros pais acabam procurando consultórios psicológicos, como o da psicopedagoga Maria Irene Maluf, especialista em Educação Especial. Nesse período de volta às aulas, pelo menos 20% de seus pacientes ocupam o consultório por causa dessa rejeição, que pode ter vários motivos. Ela explica que para os menores normalmente o fato está ligado à separação do ambiente doméstico e tudo o que ele representa - a presença dos pais.

"Os pequenininhos sofrem mais por conta do afastamento do pai e da mãe, o que chamamos de ansiedade de separação. É um comportamento esperado e está dentro da normalidade. Mas há casos em que é preciso cuidado maior para não se tornar transtorno ou distúrbio", explica Maria.

Algum fato negativo ou que tenha tido grande impacto na vida da criança pode ajudar a desenvolver a ansiedade. É o caso de Nicolly, que ganhou um irmãozinho recentemente. Felipe está com 4 meses e há cerca de 15 dias passou pela adaptação na mesma escola da irmã e está se ambientando bem ao novo espaço. Seu nascimento, em setembro, trouxe muita alegria para a família, inclusive para Nicolly. "Brinco que ele tem duas mães, eu e ela, de tanto que ela gosta de cuidar dele. Ela não teve nenhum problema nesse período, continuou indo para a escola", contou Patrícia.

Mas, então o que teria provocado a quebra de ligação com o ambiente escolar? A psicopedagoga avalia que longos períodos de férias escolares podem quebrar o vínculo com a escola, mesmo ela já conhecendo o local e os educadores.

Já a diretora de escola infantil Adriane Imbroisi afirma que muitas vezes basta um fim de semana para esse vínculo ser temporariamente perdido. O problema leve de adaptação ou readaptação dura em média 15 dias. Os casos mais graves representam 5%. Para ajudar, ela recomenda o objeto de apego, algo que represente a casa na escolinha.

"Normalmente é um bichinho de pano ou brinquedo. Mas já tivemos casos em que a criança, de 10 meses, levava a camisola da mãe para ficar cheirando", relatou. Para melhor identificar o grau de ansiedade, é importante observar sinais como choro frequente, sono agitado, alimentação prejudicada e até retrocessos como voltar a usar fraldas. "São as formas da criança se manifestar e dizer que algo não está bem", alertou Adriane.

Não são somente os pequenos que passam por isso. Segundo a psicopedagoga Maria Irene Maluf são os pré-adolescentes, entre 10 e 11 anos, que mais cruzam os braços diante do portão do colégio. Para eles, deve ser mantido diálogo permanente para descobrir o motivo. "Eles acabam não querendo ir por alguma indisposição com os amigos, que pode chegar a bullying, por medo do ano que está por vir, pela pressão das cobranças. Afinal, a sociedade os avalia a partir da produção escolar."

A profissional costuma atender casos de ansiedade, déficit de atenção e dificuldade de leitura. "Os pais demoram a perceber ou a encarar que o filho está com dificuldade."

 Mudança de escola pode prejudicar rendimento

Para educadores, uma adaptação tranquila na primeira experiência do filho com a escola pode resultar em futuros processos de readaptação sem grandes dificuldades, seja no mesmo espaço, seja em um novo lugar. "Mudar muitas vezes a criança de escola pode até prejudicar seu rendimento. Por isso, é importante conhecer várias opções e escolher bem, levando em conta a proximidade da casa ou do trabalho com o local", diz a coordenadora pedagógica Marisa Shizue Basso Braga.

Ela relata que em seu trabalho os casos mais sérios são quase sempre de crianças vindas de outras escolas. "Cada caso é um caso. Mas geralmente combino com a família horários de frequência diferentes e muito diálogo com o aluno e os pais, que também sofrem um período de adaptação", contou.

Maria Irene Maluf concorda. Uma boa adaptação ocorre quando os pais transmitem segurança ao filho. Quanto mais seguros os pais estiverem sobre a educação dos filhos, mais tranquilos se sentirão. Ela atribui aos pais 80% da responsabilidade sobre o fato e o restante ao estabelecimento. Por isso recomenda: "É preciso estar disponível para o filho nesse momento e dar atenção na medida certa. Zelo em excesso também é prejudicial", conclui.

A filha de Patrícia já está melhor nesta semana. Não chora mais e até voltou a imitar a professora em casa, como costumava fazer. A mãe atribui a melhora às conversas e a disponibilidade dela e do pai nesse período.

 Peso das mochilas merece atenção redobrada

Na volta às aulas um item que não pode faltar é a mochila. Para que seu filho não tenha problemas de coluna, como escoliose, é importante escolher uma que seja feita de material leve, apropriada ao porte físico. Na hora de carregá-la, é importante levar em conta peso e volume.

É o que indica o ortopedista Walter Yoshinori Fukushina, professor da Faculdade de Medicina ABC. "Muitos pais só se preocupam com o peso. Um quilo de algodão tem o mesmo peso de um quilo de chumbo, mas é muito maior. O volume mal distribuído também causa lesões na coluna", alerta o ortopedista, que recomenda o peso máximo de 10% do peso da criança. Em uma criança de 25 quilos, por exemplo, o máximo são 2,5 quilos. "Para os mais robustos pode chegar a 15%, no máximo", completa.

Outro ponto importante destacado pelo médico é que meninos e meninas têm estruturas ósseas diferentes, sendo os primeiros mais resistentes. "Para elas, é indicado uma mochilinha nas costas com apenas uma troca de roupa e acessório, como uma tiara", detalha.

Para o médico, a melhor opção é a mochila de rodinhas. Ele lembra que a mochila nas costas foi incorporada na rotina dos alunos inspirada nos montanhistas. "Eles precisam ter as mãos livres. Mas as crianças podem ir para a escola segurando a de rodinhas, sempre alternando as mãos, ora a direita, ora a esquerda", acrescenta o profissional.




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