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Economista sobe hoje a rampa do Planalto
Beto Silva
Enviado especial a Brasília
01/01/2011 | 07:56
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O Brasil escreve hoje mais uma página de sua história de 510 anos, 121 deles em regime republicano. Dilma Vana Rousseff (PT), 63 anos completados dia 14, subirá a rampa do Palácio do Planalto e receberá a faixa de presidente do País, num ato que será lembrado para sempre, afinal, é a primeira mulher a comandar a Nação tupiniquim.

Um momento histórico, de uma Pátria que já foi monarquia, que já foi liderada por militares, que viu um presidente ser eleito mas não ser empossado por motivos de saúde (Tancredo Neves, em 1985), que observou um impeachment inédito (Fernando Collor de Melo, em 1992), que presenciou a gestão de um tucano (Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 2002), e que tem seu último capítulo contado por um metalúrgico petista (Luiz Inácio Lula da Silva), o qual chega ao fim de oito anos de mandato com índices recordes de popularidade (87% de aprovação).

Dilma é mais um marco desse enredo. Mineira de Belo Horizonte, iniciou a vida política aos 16 anos, ao fazer parte de organizações de esquerda clandestinas de combate ao regime militar.

Após casar com o advogado e militante gaúcho Carlos Franklin Paixão de Araújo, ela sofreu perseguição da Justiça Militar, poucos anos depois do golpe de 1964. Foi condenada por subversão, e passou quase três anos presa, entre 1970 e 1972, no presídio Tiradentes, em São Paulo, onde foi torturada para entregar seus pares.

Foi libertada e mudou-se para Porto Alegre em 1973. Se formou em economia na Universidade Federal da cidade. No fim daquela década ajudou a fundar o PDT (Partido Democrático Trabalhista) do Rio Grande do Sul. Trabalhou na assessoria da bancada estadual do partido entre 1980 e 1985. Em 1986, o então prefeito da capital gaúcha, Alceu Collares, escolheu Dilma para ocupar o cargo de Secretária da Fazenda. Também foi diretora-geral da Câmara Municipal de Porto Alegre.

Em 1989, primeira eleição presidencial com voto direto após a redemocratização, participou da campanha de Leonel Brizola ao Palácio do Planalto. No segundo turno, seu partido esteve ao lado do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, que disputava (e perderia) com Fernando Collor de Melo.

No início da década de 1990, assume a presidência da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul. Três anos mais tarde foi convidada pelo governador Alceu Collares para ser Secretária Estadual de Minas, Energia e Comunicação.

Em 1994, após 25 anos de casamento, Dilma e Carlos Araújo se divorciam. Em 1998, PDT e PT caminharam juntos para eleger Olívio Dutra governador gaúcho e Dilma permanece responsável pela Pasta. Em 2000 filiou-se ao PT e, com dez anos de partido, teve ascensão relâmpago, com uma dose de sorte.

O trabalho realizado no governo gaúcho chamou a atenção de Lula, eleito presidente da República em 2002. O Rio Grande do Sul foi uma das poucas unidades da federação que não sofreram com o racionamento de energia a partir de 2001. Em uma apresentação ao governo de transição, que assumiria de fato em 1º de janeiro de 2003, levou seu computador portátil e, ali, garantiu vaga de ministra das Minas e Energia da gestão petista. Lula, inclusive,até hoje faz referência "à mulher que entrou na sala com o laptop na mão".

Em 2005, com a deflagração do escândalo do Mensalão que derrubou o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que seria o candidato governista em 2010, caiu no colo de Dilma a coordenação de todos os projetos da administração. Os principais deles o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e o Minha Casa, Minha Vida.

Em abril de 2009, iniciou tratamento e eliminou um câncer linfático. No dia 3 de abril do ano passado, Dilma deixou o governo federal para se candidatar à Presidência. No segundo turno das eleições, realizado em 31 de outubro, a economista foi eleita com 56 milhões de votos.

Na posse, destaque para atuação das mulheres

A posse de Dilma Rousseff, hoje, a partir das 14h, será marcada também pela atuação das mulheres, além é claro da protagonista da festa. A segurança da presidente será feita por seis seguranças femininas e, após as solenidades oficiais, cinco cantoras (Elba Ramalho, Fernanda Takai, Gaby Amarantos, Mart´nália e Zélia Duncan) farão show para o público na Praça dos Três Poderes.

A cerimônia de posse começara com o desfile em carro aberto, um Rolls Royce, caso faça sol. Se chover - a probabilidade é de 90%, segundo institutos de meteorologia -, será em automóvel fechado.

Haverá atos oficiais no Congresso, no Planalto e no Itamaraty. A organização do cerimonial para posse presidencial teve início antes mesmo das votações do primeiro e segundoturnos em outubro. A festa deve durar quatro horas. Serão 1.700 convidados, além do público estimado em 20 mil pessoas, que comparecerá à Esplanada dos Ministérios.

O primeiro compromisso da Presidente eleita, Dilma Rousseff, e seu vice, Michel Temer (PMDB), é uma missa na Catedral de Brasília. Depois, seguem rumo ao Congresso Nacional, em carro aberto, escoltado por 110 Dragões da Independência.

No Congresso ocorre o Compromisso Constitucional, em que os eleitos serão recebidos pelos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados. O Hino Nacional será executado e, em seguida, a presidente faz o primeiro discurso.
Depois, Dilma Rousseff passará em revista à tropa das Forças Armadas, que estará perfilada do lado de fora do Congresso. O próximo destino é o Palácio do Planalto, onde ela e o vice subirão a rampa e serão recebidos na porta principal por Lula.

Após os cumprimentos, o atual e a futura chefe da Nação se encaminham para o gabinete presidencial, onde acontece a troca da faixa. A foto oficial de Dilma é tirada junto à sua equipe ministerial, que neste momento também tomará posse.

Em seguida, Lula conduzirá a petista até a porta do Palácio do Planalto, se despendem. Dilma irá até o parlatório, localizado na área externa da sede do governo, onde faz o segundo discurso.

AUTORIDADES - Às vésperas da posse da presidente eleita Dilma Rousseff, autoridades estrangeiras ainda confirmam presença nas cerimônias em Brasília. Mas, até ontem, o Ministério das Relações Exteriores, Itamaraty, contabilizava 47 personalidades, a maioria de países latino-americanos e africanos.

As ausências ficarão por conta do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que será representado pela secretária de Estado, Hillary Clinton, da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e do francês, Nicolas Sarkozy.

Os comandantes do Uruguai (José Mujica), Costa Rica (Laura Chinchilla), El Salvador (Maurício Funes), Venezuela (Hugo Cháves), Bolívia (Evo Morales) e Paraguai (Fernando Lugo), o príncipe das Astúrias, Felipe da Espanha, e o primeiro-ministro da Coréia do Sul, Chung Un-chan, são alguns dos que congratularão Dilma em Brasília.

Para a recepção aos convidados, no Itamaraty, será servido coquetel regado a vinho da Casa Valduga, que venceu a licitação feita pelo governo - a vinícola é sediada em Bento Gonçalves (RS). Neste momento, Lula já deverá estar em São Bernardo, onde será recebido com festa.

Acampados fazem sacrifício para assistir cerimônia

Qual sacrifício você faria para presenciar um momento histórico? O casal Dino do Pedal e Ivone Farias e o amigo Genivaldo Bezerra viajaram de moto 2.400 quilômetros de Guaraciaba, no Ceará, até Brasília para assistir a posse de Dilma Rousseff. Foram quatro dias e três noites de estrada, sob chuva e sol.

Eles são integrantes do Moto Club Falcões de Ibiapaba. Na Capital Federal, foram os primeiros a chegar no espaço reservado ao público que acompanhará o ato no Palácio do Planalto, um dos três que ocorrerão hoje. Desde ontem à noite - sob frio e garoa - dormem em barracas e usam o banheiro da rodoviária.

Sacrifício? "Tudo isso vale a pena", frisa Dino do Pedal, que deixou a empresa de comunicação visual sob responsabilidade de funcionários para estar em sua terceira posse. Ele pretende entregar um troféu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um cinto verde-amarelo a Dilma.

"Depois vamos para o Rio de Janeiro expor nossas fotos. Só então voltaremos ao Ceará pelo litoral brasileiro", relata o comerciante de veículos Genivaldo Bezerra, que prevê gastos de R$ 700, por pessoa, com a aventura.
Ao lado do trio, outro aventureiro, este solitário. Com camiseta e boina reverenciando Che Guevara e perambulando pelas ruas desde o dia 20, Robson Messias viajou 2.100 quilômetros do Pará ao Distrito Federal. "É só alegria com a vitória do socialismo. Sofrimento passam meus companheiros de acampamentos sem-teto, sem comida. Lula fez a base para Dilma avançar no desenvolvimento do País", acredita o professor.

 




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