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Bagdá: ataque à catedral termina com 46 mortos
Da AFP
01/11/2010 | 09:02
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A missa em uma igreja em pleno centro de Bagdá terminou em banho de sangue na noite de domingo, quando um grupo de insurgentes da Al-Qaeda invadiu a catedral siríaca católica e matou 46 fieis, em sua maioria mulheres e crianças. Além disso, sete policiais e cinco insurgentes morreram em uma troca de tiros posterior.

O ataque, cometido na véspera do Dia de Todos os Santos, foi um dos mais sangrentos contra os cristãos no Iraque e que foi condenado pelo Papa Bento XVI como uma "violência absurda e feroz contra pessoas indefesas".

No entanto, mesmo contabilizado este ataque, o mês de outubro foi o menos violento no Iraque desde novembro de 2009, com a morte de 185 pessoas, entre elas 120 civis, segundo um balanço proporcionado pelos ministérios da Saúde, Defesa e Interior.

A ação de domingo foi reivindicada por um grupo ligado à Al-Qaeda, o Estado Islâmico do Iraque, que também deu um ultimato de 48 horas à igreja copta do Egito para libertar os muçulmanos "detidos em mosteiros" deste país, segundo o SITE (Centro Americano de Vigilância de Sites Islamitas).

"Quarenta e seis reféns morreram, incluindo muitas mulheres e crianças, e 56 ficaram feridos, incluindo 10 mulheres e oito crianças, no ataque da noite de domingo na igreja em Bagdá", afirmou uma fonte do ministério do Interior que pediu anonimato.

A invasão também terminou com sete membros das forças de segurança mortos e 15 feridos.

A fonte informou ainda que cinco terroristas morreram e oito suspeitos foram detidos. Mais de 100 pessoas estavam no templo de Saiydat al Najat (Nossa Senhora do Perpétuo Socorro) no momento do ataque.

Segundo o bispo caldeu de Bagdá, Shlimun Wardumi, dois padres da Catedral Sayidat al Najat, localizada no bairro de Karrada, morreram e um terceiro foi ferido a tiros.

"Sou invadidos por um imenso sentimento de tristeza. O que posso dizer? É desumano, nem os animais se comportam assim entre eles", declarou Wardumi à AFP.

O Papa Bento XVI condenou energicamente o que chamou de "violência absurda e feroz" contra pessoas indefesas.

"Rezo pelas vítimas desta violência absurda e feroz que atingiu pessoas indefesas, reunidas na casa de Deus, que é um lugar de amor reconciliação", disse o Papa após a bênção do Angelus na Praça de São Pedro.

"Expresso minha solidariedade afetuosa à comunidade cristã (iraquiana), de novo afetada", completou.

"Diante dos episódios atrozes de violência que continuam desgarrando as populações de Oriente Médio, quero renovar meu chamado à paz", afirmou.

A catedral mais parecia um campo de batalha nesta segunda-feira. O chão e as paredes estavam manchados de sangue e com marcas de tiros. Pedaços de cadeiras, bancos virados e quebrados, assim como estilhaços de vidro são vistos em todos os lados.

Para o padre Yusif Thomas Mirkis, diretor da ordem dos dominicanos, a ação foi planejada há muito tempo, como demonstram as armas e munições encontrados na catedral.

"É necessário tempo para preparar tudo", disse.

O vigário episcopal dos siríacos católicos, monsenhor Pios Kasha, que visitou o templo devastado, classificou o ocorrido de "verdadeiro massacre".

"O que é certo é que todos os membros de minha comunidade vão abandonar o Iraque", declarou.

"Homens vestidos com uniforme militar invadiram a igreja com suas armas e mataram um padre imediatamente. Me refugiei em uma pequena sala onde já estavam quatro pessoas", contou um dos reféns, de 18 anos, que não revelou o nome.

"Pouco depois, dois homens armados entraram na sala, atiraram para o alto e para o chão. Três pessoas ficaram feridas e eles nos empurraram para o templo. Depois aconteceu um tiroteio e ouvimos explosões", completou.

Às 21H00 (16H00 de Brasília), as forças de segurança iraquianas iniciaram a invasão, com o apoio, segundo as primeiras versões, de tropas americanas.

O exército americano, no entanto, desmentiu nesta segunda-feira ter participado do assalto para por fim ao sequestro, afirmando que seus soldados apenas deram conselhos durante a operação.

"Não houve envolvimento de soldados americanos no assalto para libertar os reféns", afirmou o coronel Barry Johnson, um porta-voz do exército americano.

"Nossos primeiros conselheiros e soldados chegaram depois de as forças especiais iraquianas conduzirem a operação no interior da igreja", acrescentou.

Vários sobreviventes, no entanto, afirmaram terem sido salvos por soldados americanos, o que desmentiria a versão do coronel Johnson.

"Acho que houve uma confusão entre as forças de segurança e as forças especiais iraquianas", notou Johnson, fazendo alusão ao fato de que as forças especiais iraquianas se vestem da mesma maneira que as unidades de elite americanas.

O comando militar americano no Iraque reconheceu ter fornecido ajuda, precisando que "equipes de conselheiros" estavam "próximas ao local".

Apesar do fim da missão de combate em agosto, as tropas americanas continuam podendo usar a força no país, se forem atacadas ou se o Iraque solicitar.

No dia 12 de outubro, durante o sínodo sobre o Oriente Médio no Vaticano, o arcebispo de Kirkuk (norte do país) manifestou preocupação com o "êxodo mortal" dos cristãos do Iraque.

Segundo a Igreja. os católicos no Iraque, que representavam 2,89% da população em 1980 (378.000), representavam 0,94% em 2008 (301.000).




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