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Educadores questionam uso do Enem
Kelly Zucatelli
Do Diário do Grande ABC
20/07/2010 | 09:28
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Os resultados do Enem (Exame Nacional de Ensino Médio) 2009 devem ser vistos com cautela. Professores e especialistas em Educação ouvidos pelo Diário afirmam que a prova não deve ser o único critério para avaliar a qualidade do ensino.

Para eles, fazer um ranking de números que avaliam o desempenho dos alunos sem considerar as características culturais e as condições oferecidas, principalmente no sistema público, pode representar risco para o sistema educacional.

"O baixo índice de adesão dos alunos ao exame me preocupa, pois têm escolas com muitos matriculados e poucos participam da prova. Parece que o Enem é a principal medida para que os alunos tenham um bom desempenho nos vestibulares, e isso não deveria existir, pois gera o clima de competitividade que sempre deixa as escolas particulares na frente. Não acho isso saudável", explicou a professora de Educação da USP (Universidade de São Paulo) Silvia Colello.

A formação humana e habilidades específicas dos alunos são pontos importantes que deveriam ser também avaliados, de acordo com Silvia.

"O sistema de seleção das escolas particulares é rigoroso. Na rede pública, infelizmente, os alunos têm menos possibilidades e acompanhamento", finalizou a educadora da USP, que também lembrou os episódios de fraudes ocorridas na edição do ano passado do exame, que arranharam a credibilidade do teste.

Para a psicóloga e professora da Unicamp (Universidade de Campinas) Ângela Soligo, o primeiro ponto "perigoso" é o uso comercial dos resultados obtidos no Enem. "Acho uma avaliação desigual, em que há uma pressão muito grande das escolas particulares para que os estudantes participem, pois existe a projeção de entrarem em faculdade conceituadas. Já muitos alunos da rede pública não têm o sonho da universidade e por isso não se interessam em prestar o exame", ponderou Angela.

Na concepção da profissional da Unicamp, o Enem é uma prova única, que privilegia um único formato, tipo de raciocínio e vivência cultural, pelos quais nem todos os alunos passam.

O coordenador do ProEduc da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Antonio Fernando Gomes Alves, um diagnóstico completo do sistema educacional deve agregar avaliação dos professores e do ambiente das escolas em que os alunos estão inseridos.

"Acredito que o Grande ABC ter ficado com boas médias com relação ao Estado é reflexo de um processo de igualdade entre as escolas particulares. Mas, mesmo assim, é necessário que sejam feitos diagnósticos semelhantes para os alunos dos ensinos Fundamental, Médio e Universitário para uma radiografia mais apurada", concluiu.

Na região, escolas de Santo André, São Bernardo e São Caetano obtiveram média superior à do Estado no exame, de 551,73 pontos.




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