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Escotismo faz 100 anos e reforça currículo
Chloé Pinheiro
Especial para o Diário
09/05/2010 | 07:45
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Você já se imaginou ficar aguardando toda a finalização de um processo de seleção num departamento de Recursos Humanos, passar por dinâmicas de grupo, estudar vários detalhes da empresa que possam ajudá-lo a conquistar a vaga durante entrevista individual e depois, ao final de longa trajetória, descobrir que perdeu a vaga para outro candidato que tinha currículo e experiências parecidas, mas com um diferencial que você nem de longe imaginava? Pois é, por mais que se exija do conhecimento dos candidatos, há casos de recrutadores de empresas que, ao chegar próximo da escolha, optaram por candidatos que já tenham vivenciado experiências diferenciadas de escotismo.

Ainda não há dados oficiais sobre o diferencial de ser escoteiro na hora de se conquistar um emprego. Para os escoteiros, no entanto, não há dúvidas de que esse pode ser mais um benefício oferecido a quem pratica essa atividade. A coordenadora de gestão de adultos dos Grupos Escoteiros de Santo André, Maria Aparecida Fernandes de Camargo, relata que um de seus filhos obteve uma vaga justamente pelo fato de ter sido escoteiro. "Ele conseguiu emprego ao terminar a faculdade por ter sido escoteiro; foi o diferencial que fez o currículo dele ser selecionado, dentre vários outros."

Segundo a gerente de Recursos Humanos, Viviane Claudino, fazer parte de grupos escoteiros "ajuda a pessoa a ser mais disciplinada, independente, mais versátil e preparada a lidar com obstáculos". Além disso, Viviane ressalta que, de forma geral, participar de atividades voluntárias e extra-curriculares demonstra iniciativa em procurar novas experiências e interesse em sociabilidade, o que pode ser um importante critério de desempate na hora da escolha de candidatos com perfis semelhantes.

Definido como um movimento de educação não-formal, o escotismo tem como meta formar jovens melhores para a sociedade, ensinando valores através de atividades voltadas para seis áreas da formação humana: física, afetiva, caráter, espiritual, intelectual e social.

A atividade foi criada em 1907 pelo Lorde Baden Powell, soldado britânico que criou uma cartilha chamada ‘Escotismo para meninos', uma espécie de manual no qual descreve técnicas de primeiros socorros, observação, segurança e solidariedade.

O que começou com um acampamento para 20 rapazes na Inglaterra - e restrito aos homens - cresceu rapidamente e hoje abrange mulheres e homens de todas as faixa etárias. Desde sua fundação, estima-se que mais de 350 milhões de pessoas no mundo já tenham sido escoteiras, prestando auxílio a populações em guerras e desastres climáticos.


Boca-a-boca divulga o movimento no País

Segundo Anderson, a principal dificuldade encontrada pelos escoteiros é a divulgação através dos veículos de comunicação de massa. Os baixos recursos financeiros de que o movimento dispõe limitam a divulgação ao boca-a-boca, como foi possível presenciar durante esta reportagem, quando uma antiga escoteira foi ao grupo solicitar palestra em seu condomínio sobre o escotismo. Atualmente, graças aos avanços tecnológicos, estão surgindo outras formas de divulgação, como os sites, comunidades virtuais e rádios on-line. A manutenção das atividades se dá através do pagamento de mensalidades, semelhante ao que ocorre em um clube, sendo que os valores normalmente variam entre R$ 10 e R4 20, mas podem chegar a até R$ 100 em bairros nobres.

Além desse valor, ainda há o investimento necessário para a compra de uniformes e pagamento por atividades fora da sede. Esses custos variados acabam gerando outra dificuldade para a popularização do escotismo: a elitização.

Algumas das soluções para esse problema são o patrocínio de determinado grupo pela iniciativa privada e políticos, ou principalmente o apadrinhamento de crianças por conta própria.

Há também os grupos considerados carentes, geralmente localizados em periferias, que têm o custo do uniforme reduzido através de tecidos alternativos e são auxiliados por outros grupos escoteiros. Alguns desses grupos recebem também subsídio das prefeituras, através da chamada verba de subvenção, que é uma verba pública destinada a organizações culturais e educativas.

Os grupos se reúnem geralmente aos fins de semana em atividades que levam em média duas horas. Para conhecer o grupo mais próximo de sua casa, visite o site www.escotismo.org.br.


Brasil tem mais de 65 mil escoteiros em atividade

O Movimento Escoteiro chegou ao Brasil em 1910 e é reconhecido desde 1917 como sendo de utilidade pública federal. Em São Caetano do Sul, uma lei de 1964 batizou uma praça localizada no centro da cidade como Praça Baden Powell. Hoje, essa praça é utilizada para atividades do grupo escoteiro que funciona próximo a ela.

É comum ver por ali, por volta de meio dia em sábados ensolarados, cerca de 40 adultos uniformizados que gritam e correm sob o comando de um líder. Parece um treinamento militar, mas são pessoas acima de 21 anos, escoteiras desde pequenas ou que resolveram ser a partir de agora.

É assim, com cursos para crianças a partir de sete anos até adultos sem limite de idade, que o escotismo se mantém vivo há 100 anos no Brasil. Se contarmos apenas os jovens até 21 anos, são mais de 65 mil em atividade no País e 17 mil somente no Estado de São Paulo.

Os grupos são divididos por faixa etária (lobinhos, escoteiros, sêniors, pioneiros e adultos, que atuam como chefes de patrulha ou em funções administrativas de coordenação) e se reúnem para participar de atividades que vão desde o hasteamento da bandeira nacional até jogos variados. As reuniões ocorrem geralmente em espaços cedidos em escolas públicas e as atividades são realizadas duas vezes por semana.

 
Famosos também já participaram do movimento

Diferenciados pela cor do lenço e pelas insígnias no uniforme, os escoteiros têm como lema a frase ‘Sempre Alerta!'. Usam como cumprimento os dedos anelar, médio e indicador estendidos, significando dever para com Deus, com o próximo e consigo próprio; e o dedo polegar sobre o mínimo, representando a proteção do mais forte sobre o mais fraco.

Muitas pessoas célebres já foram escoteiras, entre elas o ex-governador de São Paulo Mário Covas, Frei Betto e o ator americano Harrison Ford. O vice-presidente José de Alencar, que também já participou do escotismo, deu a seguinte declaração referente à sua luta contra o câncer: "O escoteiro sorri frente às adversidades".

 
Aberto a pessoas de qualquer idade

Anderson Condrasisen, 39 anos, participa do grupo escoteiro São Francisco de Assis, em São Caetano do Sul, desde seus 12 anos e hoje é diretor técnico do lugar. Fora do escotismo, Anderson é formado em Administração pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) e gerente de Marketing de uma empresa que desenvolve sistemas de informática. Casado e pai de dois filhos, ele diz que o escotismo foi fundamental para sua vida.

Já Maria Aparecida Fernandes de Camargo, 63 anos, tem uma história um pouco diferente. Cida, como é mais conhecida, entrou para o movimento com 39 anos, com o objetivo de acompanhar as atividades de seus dois filhos. Gostou tanto que, hoje, 24 anos depois, é coordenadora da gestão de adultos de Santo André, e coordena os cursos oferecidos a quem, assim como ela, se interessa pelo escotismo mesmo tendo mais de 21 anos.

Na prática, o movimento escoteiro ajuda a comunidade, apoiando os órgãos governamentais em campanhas de vacinação, de doação e sempre que solicitados. Na campanha do agasalho de 2009, por exemplo, os grupos escoteiros de São Bernardo do Campo arrecadaram 20 toneladas de roupas, segundo Henrique Rossi, mais conhecido como Montanha, chefe dos escoteiros do grupo Príncipe de Gales em Santo André e mantenedor do site www.escoteirosdoabc.com. No terremoto que atingiu o Haiti em janeiro, a participação dos escoteiros no socorro ao país também foi significativa, coordenando a distribuição de comida e atuando em centros de comunicação.




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