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Biografia traz a conturbada trajetória de Nina Simone
05/04/2010 | 07:01
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Nina Simone achava que era a reencarnação de uma princesa egípcia. Seus fãs não precisavam dessa informação para reverenciar a cantora - tampouco a escritora Nadine Cohodas, que, mesmo assim, batizou sua biografia, recém-lançada nos Estados Unidos e ainda sem previsão de chegar ao Brasil, de Princess Noire - The Tumultous Reign of Nina Simone" (Pantheon Books, 464 págs., US$ 30).

As credenciais da biógrafa garantem a seriedade da pesquisa. Antes de Nina Simone, ela escreveu a biografia de outra diva do jazz, Dinah Washington (Queen: The Life and Music of Dinah Washington), sendo também autora da história de uma lendária gravadora de blues, a Chess Records.

Em Princess Noire, Nadine Cohodas tenta ser discreta ao acompanhar a evolução da bipolaridade da grande cantora, que morreu, em abril de 2003, aos 70 anos, de câncer no pulmão, diagnosticado dois meses antes. Acontece que Eunice Waymon (seu nome verdadeiro) teve uma vida nada discreta. Há, portanto, uma dissonância que perturba a intenção da biógrafa, a de dissecar - sem os instrumentos corretos de um psicanalista - essa personalidade perturbada, algo esquizofrênica, megalomaníaca e dada a acessos de agressividade.

Criada durante a Grande Depressão em Tryon, na Carolina do Norte, numa família de oito irmãos e pai pastor metodista, a idiossincrasia estilística de Nina Simone rivalizava com a pessoal.

Quando criança, foi aluna de uma professora inglesa de piano, Muriel Mazzanovich, que a obrigava a tocar Bach sem parar. Miss Mazy, como Nina a chamava, era mais que uma professora de música.

Como seus pais não podiam pagar pelas aulas, foi criado em Tryon uma espécie de fundo para custear seus estudos de piano. Miss Mazy, então, preparou a aluna para seu primeiro recital, em 1944, aos 11 anos, no auditório da Biblioteca Lanier, de Tryon. Foi o estopim do trauma que a acompanhou para o resto da vida.

Os pais vestiram-se como se fossem para a igreja. Chegaram e sentaram-se na primeira fileira. Ao entrar no palco, a futura Nina, furiosa, observou que eles haviam sido deslocados para o fundo da sala. Encarou a plateia e pediu aos organizadores que instalassem os pais num lugar onde pudesse vê-los. Constrangidos, os anfitriões cederam ao pedido, contrariando as leis locais, que garantiam aos brancos a escolha dos melhores lugares.

Foi explorada por agentes, empresários, gravadoras. Sofreu com o racismo. No fim da carreira, a voz não era mais a mesma e Nina dava sinais de distúrbio de personalidade, tropeçando nos fios do microfone, falando com a voz empastada dos alcoólicos e deixando a alça do vestido cair como uma decadente diva de melodrama hollywoodiano.




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