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Centro espírita faz sessão para animais
Por Willian Novaes
Do Diário do Grande ABC
14/12/2009 | 07:04
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Ari Paleta/DGABC


Os animais ganham cada vez mais espaço e importância na vida das pessoas. Basta o bicho ficar doente para começar a corrida em busca da cura. Entre os locais de socorro estão clínicas e hospitais veterinários. Mas, atualmente, até centros espíritas têm sessões exclusivas para os bichos de estimação, com direito a passes nos pets para tratamentos pela fé.

Desde agosto, o Grande ABC conta com o Grupo Fraternal Francisco de Assis, no bairro Bastistini, em São Bernardo. No local, os animais são atendidos em reuniões realizadas nas tardes de sábado.

O Diário acompanhou uma sessão que teve a presença de 15 cachorros de diversas raças e tamanhos. Os donos trouxeram os cães por vários motivos, como medo, depressão, câncer, efisema pulmonar e intestino preso, entre outros diagnósticos. Mas já foram levados para o local gatos, passarinhos, tartarugas e até uma aranha.

O centro espírita segue a doutrina de Allan Kardec. A reunião é aberta para fiéis de todas as religiões. A maioria dos participantes é espírita. Todos os colaboradores do centro vestem camisas brancas com imagem de São Francisco de Assis.

O dirigente da casa, Gilberto Azevedo Marques, 47 anos, chega e liga o aparelho de som em volume baixo. A música tranquila parece relaxar os pets, que ficam deitados sobre os pés dos donos ou nos colos, como bebês. O que mais impressiona durante o ritual é que não há latidos ou brigas entre os animais.

CONVERSA COM ANIMAIS
A voz de Gilberto é baixa e pausada. A palestra dura cerca de uma hora. Na sequência, começa o atendimento para diagnóstico da doença ou do transtorno. O dirigente também é o encarregado desta parte. "Eu converso com o animal para saber qual é o seu problema. Eles recebem notas de zero a dez para saber quantas sessões de passes serão necessárias. Muitas vezes, quem precisa de ajuda são os tutores (donos)."

O passe é rápido. Três pessoas ficam de pé em volta do dono, que senta numa cadeira com o cão. Uma faz a oração e outras duas esticam as mãos e fazem movimentos circulares perto do bicho, sem encostar. No final, é dito uma boa semana e fique com Deus.

O centro espírita fica na Estrada Galvão Bueno, 5.143. Mais informações pelo telefone 4396-2297.


Especialistas não veem problema em tratamento espiritual

O teólogo Fernando Altemeyr Júnior, professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica), não vê problemas em o espiritismo ter sessões para tratar animais. "Está totalmente de acordo com o respeito que a religião tem com a natureza", disse.

Segundo ele, outras religiões também oferecem tratamentos específicos para os animais. "A igreja católica e o budismo também realizam cerimônias para a bênção", comenta.

No dia 4 de outubro, quando é comemorado o Dia de São Francisco de Assis - considerado o padroeiro dos animais -, é realizada a Missa Ecológica em todas as paróquias da ordem. Os animais são abençoados por padres e freis franciscanos. "As pessoas podem trazer os bichos todos os dias. Nós temos uma oração específica para eles", disse o Frei Gilmar José da Silva, da Ordem Franciscana.

Para a veterinária Solange Mineiro, as sessões são válidas. "O que eu percebo é que acalma muito os donos."

Segundo a profissional, é importante que os proprietários não parem com o tratamento médico. Esse conselho também é dado pelo dirigente do Grupo Fraternal Francisco de Assis, Gilberto Marques. (Willian Novaes)


Capital também tem centro para pets

Fé, busca por conforto e amor pelos bichinhos de estimação também levam tutores, de várias cidades, às reuniões na Asseama (Associação Espírita de Amigos dos Animais), na Zona Norte de São Paulo.

A entidade foi fundada em 2006. É o primeiro centro voltado exclusivamente para a espiritualidade dos animais, de acordo com a presidente e veterinária Sandra Denise Calado, 38 anos. "Seguimos a linha kardecista e os moldes de todo trabalho espírita. Acreditamos que os seres vivos evoluem e que os animais são espíritos mais jovens que precisam de amor, amparo e auxílio."

As reuniões acontecem três vezes por semana (quintas, sextas e domingos) com uma palestra de 20 minutos.

Foi principalmente para compreender as doenças do seu cachorro, o schnauzer Flak, 6 anos, e tratá-las com mais tranquilidade, que Milena Magnoli, 34, procurou pela associação. "Foi mais uma opção para o Flak, mas também ajudou a me acalmar, entender qual a trajetória dele e a não me sentir tão culpada por não conseguir curá-lo", conta.

A Asseama, que também faz tratamento à distância, fica na Rua Manoel de Moura, 63, Parque Vitoria, Zona Norte. Mais informações no 3534-3643, aos sábados, das 9h às 13h. (Marcela Munhoz )

Donos creem na cura de doenças e transtornos

Minutos após o começo da palestra, entra na sala uma mulher alta, com colar de pérolas, de salto e com um yorkshire no colo. Ela senta na última fileira de cadeiras e acompanha a sessão com atenção. É a médica Mariângela Matos, 27 anos, com Austin, 5. O bichinho não precisa mais de tratamento. Ele passou por seis sessões de passes para melhorar o relacionamento com outras pessoas.

Mas, segundo a dona, o resultado foi tão satisfatório que resolveu acompanhar as reuniões todos os sábados. "É impressionante como ele agora suporta outra pessoa, antes era muito complicado. O Austin começava a latir e não parava quanto chegava alguém diferente em casa."

Sobre a eficácia do tratamento, ela garante que funcionou. "Eu sou cética, mas o meu cachorro mudou, e muito. Isso é que importa."

O engenheiro Enzo D'ippolito, 50, trouxe o dachshund Lucky, 11, para receber mais uma ajuda no seu tratamento contra um câncer no intestino.

O cachorro ficou o tempo inteiro no colo do engenheiro. O animal mescla o tratamento médico, que inclui quimioterapia, com o espiritual. "Eu noto que ele sai daqui melhorzinho", conta.

A aposentada Ana Rosa Calabrez, 60, foi a primeira a chegar ao centro espírita, junto com a vira-lata Puca, 10, que recebeu o sétimo passe. "Ela tinha medo de tudo e ainda comia fezes. Agora já brinca com os outros cachorros e parou, graças a Deus, de comer as fezes", disse Ana Rosa.

O fila Muay Tai, 13, entrou na sala e não avançou em ninguém. A idade pesa nas costas do cachorro preto, que já foi muito bravo. A professora de educação física Marcia Kocic, 41, levou o amigão no mesmo dia que ficou sabendo do tratamento. "Ele está doente, mas já melhorou com uma sessão. Agora, vamos voltar para ele descansar em paz." (Marcela Munhoz)




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