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Pães chegam de bicicleta aos clientes
Everson Garcia
Vinícius Souto
11/10/2009 | 08:49
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Acordar às 4h, ajeitar a bicicleta e pedalar mais de 18 quilômetros toda manhã pelas ruas do Grande ABC. Essa é a rotina atlética de Cosmos Francisco Soares, 38. A atividade garante não só sua saúde física, mas seu sustento. Soares, conhecido como Mineiro, é um dos padeiros ambulantes que compram pães em padarias de Diadema e os revendem em São Bernardo.

A clientela é farta. Por dia, Mineiro diz vender mais de 700 pães. No trajeto, são muitas paradas: construções, floriculturas, bares, escritórios, escolas, consultórios e casas. É só buzinar e, em pouco tempo, a bicicleta está rodeada de consumidores. "Tenho uma freguesia formada. E está sempre aumentando. É fundamental estar pontualmente nos mesmos lugares, faça chuva ou faça sol."

A qualidade dos pães e o preço agradam ao vigia Célio Martins, um dos clientes de Mineiro. "Os produtos são benfeitos e baratos. Uma rosquinha, que na padaria custa R$ 2, ele vende por R$ 1." A razão é simples. Os padeiros ambulantes compram em grande quantidade, reduzindo o preço do produto. Para Ângela Dias, moradora do centro de São Bernardo, o melhor é a facilidade. "Faz três anos que eu não preciso ir à padaria de manhã."

Mineiro começou a entregar pães sobre duas rodas neste ano. Pegou o ponto de um amigo e está esperançoso. "No início, achei que não ia dar certo. Mas valia a pena para não ficar desempregado. Pretendo continuar."

Assim como Mineiro, Fagner Fernandes do Nascimento também vê mais vantagens na venda de pães a domicílio do que num emprego formal. Ele já trabalhou em várias fábricas do ABC como soldador. Deixou de lado a profissão para ganhar a vida com a bicicleta. "Era mais tranquilo quando tinha registro em carteira. Mas prefiro trabalhar por conta, pois sei que, no final do mês, salário e emprego só dependem de mim."

Em Santo André, Jair Gomes vende pães há dez anos pelas ruas. Segundo ele, o segredo para permanecer no mercado é a boa administração. "Tem que ter cabeça. Quem não tem juízo não consegue se manter, porque, quando começa a ganhar dinheiro, gasta tudo. Daí, se um dia não vender bem, no outro não tem como comprar os pães."

Gomes está levando sua filosofia de trabalho a sério. Com objetivo de ampliar seus negócios, o padeiro ambulante comprou uma moto em fevereiro. "Agora, consigo ir e voltar várias vezes e, assim, atender a mais bairros."

Em Santo André, os vendedores resolveram se organizar numa espécie de associação, como forma de delimitar a área de atuação. Nascimento conta que o que vale é o respeito. "Não tem nada regulamentado. Atualmente, somos em 11. Cada um tem o seu setor e não pode invadir o território do outro."

A união do grupo ajudou também na escolha do fornecedor. Juntos, compram mais de 8.000 pães por dia. Dessa forma, conseguem melhor preço com Genildo Santos Araújo, dono de uma pequena fábrica de pães na Vila Sapopemba, em São Paulo.

Araújo é fabricante de biscoitos. Há quatro meses adaptou o maquinário e contratou quatro padeiros para fornecer pães para os ambulantes. "Procuro ser caprichoso. Os vendedores são organizados e exigentes. Se o pão não estiver legal ou com um bom preço, todos mudam de fornecedor."




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