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As decisoes foram tomadas nesta sexta pelo presidente, durante reuniao com os ministros da Fazenda, Pedro Malan, do Orçamento, Pedro Parente, do Desenvolvimento, Celso Lafer, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Amaury Bier, e o secretário da Receita Federal, Everardo Maciel.
Embora possa ser chamada de MP da Ford, pois seu objetivo principal é tornar viável o investimento de US$ 1,3 bilhao da montadora em Camaçari, na Bahia, a nova medida provisória será genérica, ou seja, conterá regras que poderao ser utilizadas por qualquer outra indústria automobilística interessada em instalar-se no Norte, Nordeste ou Centro-Oeste. A MP também terá prazo determinado para a adesao das empresas.
Os incentivos fiscais, porém, serao menores do que os previstos na Lei 9.440, que criou o regime automotivo especial dessas três regioes. "Por mais contraditório que possa parecer, o objetivo é conceder o menor nível de subsídio possível", afirmou um ministro.
"A Ford vai ficar lá", disse Fernando Henrique ao seu líder no Congresso, deputado Arthur Virgílio Netto (PSDB-AM), em encontro nesta sexta pela manha. O presidente pediu que os ministros detalhassem um conjunto de incentivos que poderao ser concedidos às montadoras. Até o início da noite, o texto da MP ainda nao tinha sido fechado.
O maior problema para a soluçao do impasse estava relacionado à percepçao de que a autoridade do presidente estaria afetada com a aprovaçao de incentivos para a fábrica da Ford na Bahia. "O problema todo foi de encaminhamento da questao", afirmou um político. "Tudo isso foi muito mal negociado e criou-se a falsa impressao de que o presidente estava contra a instalaçao da montadora em Camaçari, que seria uma imposiçao do senador Antônio Carlos Magalhaes (PFL-BA)", acrescentou.
Um especialista do Itamaraty explicou hoje que a concessao de incentivos fiscais a projetos de investimentos nao causa tantos problemas junto à OMC (Organizaçao Mundial de Comércio) quanto o incentivo à exportaçao. A diplomacia brasileira que atua na área comercial nao espera enfrentar impasses insolúveis nessa questao, exceto pelo fato de que o Brasil empenhou a palavra de que nao retomaria a política de incentivos fiscais às montadoras, que tanto polemizou o debate há dois anos.
"Temos argumentos de que a fábrica já era prevista, embora no Rio Grande do Sul", argumentou um diplomata. Para ele, o maior desgaste será enfrentado na relaçao bilateral com a Argentina. Além da perda de competitividade do produto argentino por causa da maxidesvalorizaçao do real, a Argentina é o principal parceiro comercial do Brasil no Mercosul e disputa cada palmo do mercado do Cone Sul. Ainda assim, também nesse particular os argumentos já estao preparados. "A fábrica da Bahia nao é uma nova fábrica; quando a Ford decidiu instalar-se no Rio Grande do Sul representava ameaça até maior ao mercado argentino, pela proximidade", disse o diplomata.
O investimento da Ford na Bahia começa a ganhar contornos de bandeira de luta pela desconcentraçao industrial no País. Hoje, os nove governadores nordestinos reunidos na sede da Sudene, em Recife, manifestaram apoio unânime à instalaçao da montadora em Camaçari. Dentro do governo, a tese que predomina é a de que o uso de subsídios para regioes carentes é mais do que justificável.
Para a Ford, o grande investimento na Bahia é estratégico, porque pressupoe o redirecionamento das exportaçoes da montadora que teria no Brasil importante plataforma para os negócios internacionais. "Os incentivos sao para neutralizar os custos do projeto, em regiao sem infra-estrutura e distante do centro consumidor; nao é para constituir lucro da montadora", disse um representante da Ford.
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