Com a proximidade do processo da sucessão presidencial de 2018, a Anistia pretende levar a discussão sobre as mortes dos jovens das periferias para o debate eleitoral. "A nossa expectativa é que a bandeira dos direitos humanos, dos direitos dos jovens negros, faça parte das campanhas de todos os candidatos, não importa o partido, não importa a agremiação", afirmou Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil. "Mais de 70% das pessoas assassinadas são jovens negros e jovens negras", diz.
Um dos focos da campanha da Anistia é a capacitação e o aperfeiçoamento das polícias. Jurema Werneck cita dados de órgãos públicos que indicam a Polícia como autora de 20% dos homicídios na cidade do Rio de Janeiro e 25% em São Paulo. "Se houver um trabalho específico para reduzir essas mortes já teremos uma queda importante de homicídios", ressalta. "A gente só pede o que o Estado tem obrigação de fornecer, a garantia de vida."
O ativista Joel Luiz Costa, um dos participantes do protesto, da comunidade de Jacarezinho, no Rio de Janeiro, disse que a discussão sobre homicídios de jovens negros é uma questão que envolve debates sobre saúde, educação, renda e segurança. "Em momentos de crise econômica, essa população é a mais atingida", observa. "É um problema muito mais complexo que a discussão sobre polícia e bandido", completa.
Antes da entrega do "presente" no Ministério da Justiça, cinco ativistas negros fizeram uma performance em frente ao prédio da pasta. Enquanto os militantes faziam o protesto, um sargento da Polícia Militar, com um celular no ouvido, demonstrava nervosismo. "É um caixão, chefe", repetia ao telefone. A Anistia havia informado às autoridades de Brasília sobre o protesto, mas o caixão deixou o policial surpreso.
Logo depois, o grupo levou o caixão para a lateral do prédio, mas seguranças do ministério impediram o acesso até o protocolo. "É só um presente para o ministro", disse uma diretora da Anistia. "Mas esse presente?", questionou Olegário Pereira da Silva, funcionário da pasta. "É um presente que a gente não vai ter como guardar. Daqui vocês não podem passar. Vocês já foram ao Ministério dos Direitos? Isso é dos Direitos Humanos." Por fim, o grupo deixou o caixão na calçada e seguiu até o protocolo com um dossiê com cerca de 60 mil assinaturas de pessoas pedindo uma política para acabar com os homicídios de jovens.
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