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Peso do dinheiro

Modelo de financiamento inaugurado em 2016 e mantido para 2018 beneficiou políticos do Grande ABC que mais investiram do próprio bolso nas campanhas para as prefeituras

Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
05/11/2017 | 07:23
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Modelo de financiamento eleitoral inaugurado na eleição de 2016 e mantido para o pleito do ano que vem favoreceu os candidatos que injetaram do próprio bolso recursos para as campanhas às prefeituras no ano passado. Para especialista, a tendência deve se manter nas corridas para Presidência da República, governos de Estado, Senado, Câmara e assembleias legislativas.

Levantamento realizado pelo Diário com base nas prestações de contas dos prefeituráveis do Grande ABC mostra que os sete prefeitos eleitos em 2016 despenderam, juntos, R$ 1,2 milhão. A quantia representa 35,5% de todo volume injetado pelos 50 postulantes aos Paços da região nas próprias empreitadas – R$ 3,35 milhões.

Pelas regras eleitorais, só são permitidas doações de pessoas físicas às campanhas, contribuições essas limitadas a 10% da renda bruta declarada no IR (Imposto de Renda) do ano anterior ao do pleito. Há também um teto de despesas, calculado pela eleição anterior. Para este ano, os deputados aprovaram um fundo partidário de quase R$ 2 bilhões para auxiliar o custeio dos projetos políticos.

“Dinheiro sempre faz a diferença nas campanhas. E em uma eleição para deputado, por exemplo, muito recurso é empregado. O cenário não muda”, avalia Kleber Carrilho, professor da Universidade Metodista, que também acredita que os candidatos encontrarão mecanismos para burlar os tetos eleitorais de gastos. “Para deputado estadual o limite está estipulado em R$ 1 milhão. Duvido que se faça uma campanha com esse valor. Será muito difícil o respeito ao limite. Até porque na última eleição não houve punições rigorosas, só multas (aos flagrados desrespeitando a legislação).”

Um exemplo do peso do dinheiro próprio na campanha foi visto com o prefeito da Capital, João Doria (PSDB). Empresário, o tucano irrigou a própria empreitada política com R$ 4,4 milhões – o total de receita foi de R$ 12,4 milhões. Ou seja, Doria depositou 35,7% no projeto político.

No Grande ABC, o deputado federal Alex Manente (PPS) foi quem mais colocou verba própria na eleição. O popular-socialista desembolsou R$ 636,7 mil no pleito. Ele chegou ao segundo turno, perdendo para Orlando Morando (PSDB). O prefeito tucano também aportou quantia significativa na corrida eleitoral: R$ 405 mil.

O caso em que a relação dinheiro empregado e votos recebidos ficou aquém do esperado ocorreu em São Caetano, na candidatura do ex-vereador Gilberto Costa (PEN) ao Palácio da Cerâmica. Ele investiu R$ 326,6 mil do próprio patrimônio – quase a totalidade da receita de seu projeto eleitoral, de R$ 347,2 mil –, mas ficou apenas na quarta colocação. Na cidade, José Auricchio Júnior (PSDB), vencedor do pleito, despendeu R$ 101 mil. O segundo colocado foi Paulo Pinheiro (PMDB), que não pôs dinheiro próprio na campanha, entretanto, diversos secretários de seu governo doaram para a empreitada – o peemedebista era prefeito e buscava a reeleição.

Os prefeituráveis que registraram as menores votações foram os que mais investiram proporcionalmente do próprio bolso nas campanhas. Porém, sem suporte, o dinheiro foi escasso, como no caso de Aldo Santos (Psol), em São Bernardo – foram R$ 2.790 para receita total de R$ 2.890–, e Sara Jane Zanetti (Rede), em São Caetano – os R$ 200 doados por ela mesma foram tudo que Sara declarou à Justiça Eleitoral. 




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