Falhou fragorosamente a estratégia do presidente Michel Temer (PMDB) de tentar arrefecer a crise política com a viagem internacional à Rússia e à Noruega. Além de ter se tornado coleção de gafes e demonstrado o desprestígio do governo brasileiro perante a comunidade internacional, o tour presidencial chegou ao fim, coincidentemente, no momento em que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou ao STF (Supremo Tribunal Federal) denúncia criminal contra o chefe do Executivo nacional por corrupção passiva.

A denúncia contra presidente no exercício do cargo é inédita na história da República, que em 15 de novembro completa 128 anos. E certamente vai representar mais um entrave às reformas estruturais, como a trabalhista e a da Previdência, que estão em discussão no Congresso. Para fazer com que avancem, o Executivo terá de realizar tantas concessões que certamente descaracterizará as propostas. Fazer remendos pode ser pior do que deixar as coisas como estão.

Conquistar estabilidade política em terreno tão pantanoso como o que se apresenta em Brasília, eis o desafio de Temer. É preciso considerar que a situação do presidente pode se agravar ainda mais, pois, além da denúncia por corrupção passiva, Janot estuda propor uma segunda, por obstrução da Justiça. Com que legitimidade alguém suspeito de praticar tamanhos malfeitos poderá encabeçar a discussão de mudanças que afetam drasticamente a vida dos brasileiros?

E a aproximação das eleições gerais, em outubro de 2018, não deve colaborar para que a imagem do comandante número 1 da República seja preservada. Pelo contrário. Sempre haverá alguém, interessado nas vantagens políticas oriundas da desestabilização do presidente, para tumultuar o ambiente. Como fez ontem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), ao defender publicamente a renúncia do peemedebista. E olha que o tucano deixou claro que não se posiciona ao lado dos que “atacam o atual governo para desgastá-lo” – imagine então se se posicionasse.