Economia Titulo Cenário
Taxa de juros atinge segunda menor marca da história

No 9º corte seguido da Selic, percentual vai a 7,5% ao ano; poupança perde rentabilidade

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
26/10/2017 | 07:28
Compartilhar notícia
Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas


Com o nono corte consecutivo da taxa Selic, de 0,75 ponto percentual, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) reduziu ontem os juros básicos da economia para 7,5% ao ano. Trata-se do segundo menor percentual da história, atingido outras duas vezes, entre abril e maio de 2013 e de agosto a outubro de 2012. O mais baixo patamar, de 7,25% ao ano, foi alcançado no décimo mês daquele ano, e permaneceu até abril de 2013.

Há um ano, o BC iniciou trajetória de queda da taxa básica de juros, ao recuar o percentual de 14,25% ao ano para 14% – primeira redução em quatro anos. Isso ocorreu porque, à época, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial da inflação, estava em 8,48% no acumulado de 12 meses e, de lá para cá, veio perdendo força devido ao forte desemprego e pé no freio do consumidor, o que segurou a demanda por produtos e serviços e levou a projeção a 4,5% em 2017. Apesar dos motivos que conduziram ao cenário, o governo entendeu que poderia também baixar a Selic, principal mecanismo para conter a inflação.

Agora, o BC explica que a redução da taxa de juros se justifica porque os indicadores da atividade econômica mostram sinais compatíveis com a recuperação gradual da economia. “As expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus recuaram para em torno de 3,1% para 2017 e 4% para 2018”, diz nota. Ou seja, com menor pressão dos preços, os juros têm trégua.

“Desde o segundo semestre de 2016, a Selic estava com muita gordura para ser queimada. E, agora, diferentemente do período em que a taxa básica ficou em 7,25% ao ano, quando os indicadores mostravam que a inflação subiria, não há nada que sinalize isso. Até porque a retomada da economia ainda é incipiente e 2018 é ano eleitoral, não muito favorável ao aumento dos juros”, explica o coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero.

Para ele, tudo indica que o ano encerrará com os juros no menor percentual da história: 7% ao ano – seguindo tendência de que IPCA, hoje em 2,54% no acumulado de 12 meses, termine abaixo de 3% ao ano. “Quando calculamos a taxa de juros real, ao subtrair a inflação da Selic, chegamos em 4,5%. Embora ainda estejamos distantes de percentuais de nações desenvolvidas, entre zero e 1%, trata-se de patamar muito bom para o Brasil, semelhante aos de Turquia e Rússia”, exemplifica, ao citar que países latinos têm taxas reais melhores, de 2,5%.

NA PRÁTICA - Neste cenário, a poupança fica menos vantajosa. Isso porque cinco anos atrás o governo criou gatilho que seria acionado quando a Selic estivesse abaixo de 8,5% ao ano, a fim de evitar que grandes investidores migrassem à caderneta em tempos de juros baixos, que retraem a rentabilidade dos fundos – que cobram taxa de administração e IR (Imposto de Renda). Dessa forma, depósitos realizados após maio de 2012 rendem 70% da Selic mais TR (Taxa Referencial), em vez de 6% ao ano mais TR.

O professor de Finanças da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras) Silvio Paixão calcula que a caderneta agora renderá 5,25% ao ano ou 0,43% ao mês – ante 0,46% ao mês em setembro. “Vale mais a pena investir em título do Tesouro que remunere a Selic. Em dois anos, com IR de 15%, o retorno será de 5,78% ao ano.”

Questionado sobre quando o consumidor sentirá o efeito da queda da Selic no crédito, Paixão é enfático: “Redução da mesma magnitude é improvável. Os bancos praticamente não têm concorrência, e as micro e pequenas empresas e pessoas físicas dependem deles. Para se ter ideia, os juros médios estão em 35% ao ano e 2,53% ao mês. Mas eu pergunto, quem consegue empréstimo com essa taxa?”. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;