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1928. São Caetano ensaia a separação
Ademir Medici
19/10/2017 | 07:00
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 A Semana da Autonomia de São Caetano focaliza o ano de... 1928. Naquele tempo houve uma primeira tentativa para tornar a cidade independente. São Caetano, no crepúsculo da Velha República, fazia parte do município de São Bernardo. O movimento de 28 reuniu nomes do peso do engenheiro Armando de Arruda Pereira, um dos proprietários da Cerâmica São Caetano, sócio do senador Roberto Simonsen.
Em 1977, na mesa-redonda realizada no Diário com sete líderes do movimento autonomista vitorioso de 1948, o movimento de 1928 veio à tona. E algumas ideias gerais foram levantadas pelos participantes.

Um partido regional
Depoimento: Geraldo Plates

Em 1928 eu era muito jovem, mas recordo bem. Morava em Santo André. Já fazia parte, como funcionário, do Grupo Simonsen, do Roberto Simonsen, dono da Cerâmica São Caetano. E lembro que até mesmo famílias tradicionais de Santo André defendiam a autonomia de São Caetano.
Uma das famílias era a Guazzelli, destacando-se os irmãos Amálio e Otávio, dois rotarianos. Eles faziam parte de um partido local, o PIM (Partido Independente Municipal), que agregava moradores de várias partes da região.
Não podemos dizer que o movimento de 1928 tenha fracassado. Nada disso. É que houve – naquele tempo já havia – a atuação das chamadas forças ocultas, que desvirtuaram todo o ideal daqueles autonomistas pioneiros.

Votos desvirtuados
Depoimento: Luiz Rodrigues Neves
O movimento autonomista começou até antes de 1928, sob a liderança do engenheiro Armando de Arruda Pereira. Não assistimos a esse movimento, já que chegamos a São Caetano em 1935. Mas acho que o privilégio da coisa deve mesmo ser atribuída ao Dr. Armando.
Não se contam coisas muito lisonjeiras a respeito dos representantes de São Caetano daquela época, que à última hora teriam vinculado seus votos a qualquer coisa (nebulosa). E o movimento fracassou.

Pouca representatividade
Depoimento: Cunha Bueno

Em 1928 as Câmaras de Vereadores viam-se compostas de nove ou 11 integrantes. Em geral o distrito tinha apenas um vereador. E aquele vereador não tinha prestígio junto aos poderes Executivo e Legislativo para carrear verbas destinadas ao bem-estar e aos melhoramentos públicos que o distrito exigia pela efetiva participação que ele dava na composição da receita municipal.
Isso fica assim como algo geral. É talvez o caso de São Caetano em 1928.

NOTAS DA MEMÓRIA
Armando de Arruda Pereira foi conselheiro municipal e vereador em São Bernardo na década de 1930, o que comprova que ele continuou na política local mesmo depois da tentativa infrutífera de tornar São Caetano independente.
O engenheiro Dr. Armando, representante de São Caetano, concorreu, em 1935, por via indireta, ao cargo de prefeito. Perdeu para o médico Felício Laurito, representante de Ribeirão Pires, por sete votos a seis. Se não conseguiu ser prefeito no Grande ABC, foi prefeito de São Paulo, por nomeação, entre 1951 e 1953. Faleceu em 1955.
Em 1928, a Câmara Municipal de São Bernardo tinha um único representante do distrito de São Caetano: Antonio Barile. Eram cinco vereadores e um prefeito, este eleito por vias indiretas entre seus pares na Câmara Municipal, no caso, o prefeito Saladino, que se perpetuava no cargo e cairia em 1930.
A criação de novos municípios na Velha República e mesmo nos 15 primeiros anos do governo de Getúlio Vargas era algo difícil de acontecer. Tudo dependia dos caciques políticos que dominavam os vários setores governamentais.
Não havia a figura jurídico-constitucional do plebiscito. O plebiscito nasceria apenas com a promulgação da Carta Constitucional do Estado de São Paulo, em 1947, como se verá.




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