A sessão de ontem na Câmara de Santo André foi marcada pela intensa vontade do aliado - que se diz agora oposição ao governo Aidan Ravin (PTB) - Luiz Carlos Pinheiro, o Pinheirinho (DEM), de abrir CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar o deficit orçamentário de R$ 26 milhões nas contas do Semasa (Serviço de Saneamento Básico de Santo André). Mesmo sendo o sétimo nome - os outros seis são da bancada de oposição - necessário para protocolar o pedido de investigação, o requerimento do democrata foi rejeitado por 12 votos em plenário, inclusive pelos dois colegas do DEM, o vice-presidente da Câmara, Evilásio Santana Santos, o Bahia, e Toninho de Jesus.

Pinheirinho disse que a questão será levada à direção do DEM. O detalhe é que o próprio vereador admitiu que ele e o comandante do diretório municipal, Raimundo Salles, não são os melhores amigos. No fim de março, representantes da CEF (Caixa Econômica Federal) e do Ministério das Cidades participaram de audiência pública na Casa. O objetivo foi esclarecer as principais dúvidas dos parlamentares em relação ao Semasa e dizer se o dinheiro que o superintendente Ângelo Pavin espera receber do governo federal realmente voltará aos cofres da autarquia. Pavin alega que fez obra urgente na Avenida dos Estados e agora aguarda reembolso.

Na ocasião, representante do Ministério das Cidades afirmou que os recursos são liberados por eles, mas o repasse é de responsabilidade da Caixa. "Só existe aporte quando têm obras. Há obras que não recebem porque não têm documentação necessária e só vão receber o dinheiro quando mandar", relatou Márcio Galvão, diretor de Águas e Esgoto do governo federal.

Já o líder do governo, Donizeti Pereira (PV), apresentou ideia diferente do dia da audiência. Naquele momento, afirmou que não sabia se a audiência foi tão esclarecedora. "Acho que deixou mais dúvidas do que respostas." Mas após a rejeição do requerimento de Pinheirinho, ontem, foi enfático. "É absurdo dizer que o dinheiro foi roubado. Pode-se dizer em deficit. Precisamos discutir outras coisas como o Plano Diretor." Para ele, não há por que abrir CPI. "Não se pode transformar qualquer fato em factoide."

Por sua vez, Pinheirinho claramente irritado com a derrota esbravejou na tribuna. Levará o assunto para o Ministério Público e Polícia Federal. "Vou lutar até o fim. Tem gente rindo, virei palhaço. Quero falar para todos os vereadores do Brasil que o papel do parlamentar é fiscalizar e não fazer clientelismo."

O secretário de Gabinete e de Saúde, Nilson Bonome (PMDB), disse que não impedirá Pinheirinho de ir para a oposição. "Alguns vereadores não têm demandas atendidas e se rebelam. É humanamente impossível atender 50% dos pedidos do Pinheirinho. Ele mandou 500 indicações só em 2010. O governo não se opõe à CPI, mas precisa haver fato concreto."