Política Titulo Entrevista
'Derrota de 2008 foi lição, não trauma'

Deputado federal por Santo André, Siraque avalia eleição que perdeu para Aidan Ravin

Cynthia Tavares
Do Diário do Grande ABC
22/04/2013 | 07:39
Compartilhar notícia


 

O deputado federal Vanderlei Siraque (PT- Santo André) afirmou que a desunião do PT nas eleições municipais de 2008 foi um aprendizado para o partido que retornou ao Paço neste ano com Carlos Grana (PT). O parlamentar negou que a derrota no segundo turno para o ex-chefe do Executivo andreense Aidan Ravin (PTB) tenha sido um trauma para sua carreira política.

Porém, o petista admitiu que seu foco está na reeleição para a Câmara dos Deputados. "Saio candidato a deputado federal no sentido de mais condições de ser eleito e do PT ter um federal pela cidade", afirmou.

Siraque reiterou que o diretório municipal do PT nunca mais foi o mesmo depois do racha ocorrido há quatro anos. Com discurso menos inflamado, declarou que não foi o culpado pela interrupção do PT no comando do Paço. "Não fui eu que desuni. Fiz a minha parte. Eu disputaria de novo, mas faria acordo com outras pessoas. Fiquei muito para dentro. Ficou o aprendizado, mas a responsabilidade não é minha", ressaltou.

Tentando esquecer o passado, o deputado destacou a união dos petistas para eleger Grana, afilhado político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Fizemos um acordo político com envolvimento do PT nacional. Resolvi abrir mão de ser candidato a prefeito, porque não posso ser eternamente pleiteante deste posto. Ddaí não consigo pensar o município de forma aprofundada nem exercer o mandato de deputado", reiterou. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

 

DIÁRIO - Como avalia a vitória do prefeito Carlos Grana? Foi mérito do PT ou incompetência do adversário?VANDERLEI SIRAQUE - Foi mérito nosso e dos nossos aliados. O Aidan (Ravin, PTB) ganhou a eleição porque o PT estava dividido e porque as pessoas não conheciam o Aidan. A partir do momento que os munícipes o conheceram, ele perdeu a eleição. Ele não conseguiu apresentar projeto. Ele não se sustentava. Perdi a eleição em 2008 porque metade do PT não me apoiou.

 

DIÁRIO - Em 2008 o PT estava rachado, mas em 2012 vimos um quadro diferente. A manutenção da união interna passa pela eleição do ano que vem?

SIRAQUE - O acordo foi o seguinte: Grana candidato a prefeito e eu a deputado federal em 2014. O único do PT. Fizemos um acordo político com envolvimento do PT nacional. Resolvi abrir mão de ser candidato a prefeito, porque não posso ser eternamente pleiteante deste posto. Sem esse acordo, não conseguiria pensar o município de forma aprofundada e nem exercer o mandato de deputado federal.

 

DIÁRIO - Nos bastidores comenta-se que o senhor não será o único candidato a deputado federal pelo PT de Santo André em 2014. Existe uma conversa com o Grana para manter esse acordo de pé? Ouvir esse tipo de comentário incomoda?

SIRAQUE - Não ouvi e não incomoda. Sempre trabalho em cima de projetos e não em cima de pessoas. Existem os líderes que são fundamentais. Saio candidato a federal no sentido de ter mais condições de ser eleito e do PT ter um deputado federal pela cidade. É um projeto que precisamos construir. Voto não dá em árvore, é preciso ser conhecido e ter projeto. Sempre que possível falo sobre isso com o Grana.

 

DIÁRIO - Ainda deseja chegar ao comando da Prefeitura?

SIRAQUE - Não, porque gosto muito de ser deputado federal. Quero ser reeleito e ampliar os projetos no segundo mandato na Câmara Federal.

 

DIÁRIO - O trauma da derrota de 2008 passou?

SIRAQUE - Não foi um trauma, mas sim um aprendizado histórico. Se um grupo está desunido, tende a perder ou ter dificuldade para ganhar.

 

DIÁRIO - Então foi uma grande lição?

SIRAQUE - Para mim não, porque não fui eu que desuni. Fiz a minha parte. Eu disputaria de novo, mas faria acordo com outras pessoas também. Fiquei muito para dentro. Ficou o aprendizado, mas a responsabilidade não é minha.

 

DIÁRIO - Se a responsabilidade não foi do candidato, então foi do PT?

SIRAQUE - Não. Se eu tenho um irmão que cometeu um erro, não vou culpar minha família por isso. A responsabilidade também não pode ser atribuída a uma pessoas só, pois estaríamos dando uma importância errada e a história não foi assim.

 

DIÁRIO - O senhor guarda alguma mágoa de alguém do PT?

SIRAQUE - Não. A questão é pública e não subjetiva. Tudo que aconteceu foi público, assim como a desunião em 2008 e a união em 2012. Qualquer lugar que estiver desunido, perde. Não é o PT. A oposição também perderia.

 

DIÁRIO - Qual é a principal bandeira do mandato?

SIRAQUE - São duas grandes bandeiras. A primeira é a defesa da competitividade do setor químico e plástico. A segunda é a segurança e defesa. Na questão química, tenho projeto pronto, mas não quis entrar com projeto de lei, quero que seja uma medida provisória. Estamos lutando para ter um novo regime industrial do setor químico e plástico.

 

DIÁRIO - Como funcionaria esse regime?

SIRAQUE - Prevê desoneração tributária, inovação tecnológica, taxar desoneração de resina importada, garantia de financiamento e desoneração da matéria prima.

DIÁRIO - Quem o senhor defende para ser o candidato do PT ao Palácio dos Bandeirantes?

SIRAQUE - O (Luiz) Marinho (prefeito de São Bernardo) é um dos nomes, e o (Alexandre) Padilha (ministro da Saúde) também surge cada vez mais forte no cenário político do Estado. Ainda temos o (Aloizio) Mercadante (ministro da Educação). Na minha opinião, o Padilha está mais perto da candidatura. Isso vai depender das pesquisas qualitativas antes da disputa.

 

DIÁRIO - Qual sua avaliação dos 100 dias do governo Grana em Santo André?

SIRAQUE - Penso que 100 dias é pouco tempo para fazer uma avaliação de qualquer administração, mas aqui em Santo André o Grana já apontou a diferença na gestão anterior e retoma o modo petista de governar. Um exemplo é que ele abriu espaço para a participação popular na administração. Ele já lançou o PPA (Plano Plurianual) Participativo. É uma diferença na forma de se relacionar com a população. Outro ponto importante é a relação que temos com o governo federal. Os projetos de interesse do município que podem ser de competência da União foram retomados. A ministra (do Planejamento) Miriam Belchior veio inaugurar moradias do programa Minha Casa, Minha Vida e pediu para que a cidade apresentasse mais projetos. Temos condições de ter 5.000 unidades habitacionais financiadas pelo programa federal. Para isso ocorrer, só depende do município.

 

DIÁRIO - Quais outros investimentos do governo federal estão previstos para a cidade?

SIRAQUE - O corredor de ônibus do Centro até a Vila Luzita, onde o terminal será ampliado. Também existe projeto para coleta e armazenamento de água na cidade - o recurso está liberado. Vamos retomar projetos de urbanização. Teremos um programa de combate às drogas que será realizado em parceria com as secretarias municipais de Saúde e Educação e o Ministério da Saúde e Justiça. Três novas UPAs (Unidade de Pronto Atendimento 24 horas) foram liberadas para Santo André e uma em Rio Grande da Serra, que vai atingir a região de Paranapiacaba e do Parque Andreense. Esse tipo de projeto só não saiu antes por falta de vontade política da antiga administração.

 

DIÁRIO - Como avalia o desempenho do secretariado montado pelo prefeito Carlos Grana?

SIRAQUE - Eles estão indo bem. A competência de escolher secretário é do prefeito. Antes era uma briga entre o partido e o prefeito, o Mauricio Soares (ex-comandante do Paço em São Bernardo) brigou com o PT e saiu, porque a legenda queria impor os secretários. Depois o diretório nacional teve uma resolução determinando que quem escolhe é o prefeito dentro dos princípios defendidos.

 

DIÁRIO - O Paço optou por montar uma equipe de governo baseada na coalizão. Como enxerga essa questão?

SIRAQUE - O Grana não ganhou a eleição sozinho. Tem que contemplar as pessoas que nos ajudaram a vencer o pleito. Obviamente que o critério de escolha não pode ser apenas uma questão partidária. É preciso ter pessoas que tenham condições técnicas de executar, planejar e implementar políticas públicas.

 

DIÁRIO - O que faltou avançar nesses 100 dias?

SIRAQUE - Não vejo desta forma. Temos que avaliar a administração como um todo. Nem estou em Santo André para saber os detalhes. Isso é com a Câmara.

 

DIÁRIO - O governo tem enfrentado problemas para se movimentar no Legislativo, principalmente, por posturas do G-12. Qual o diagnóstico para chegar à governabilidade?

SIRAQUE - Existem vereadores que têm ligação com o ex-prefeito. Fizemos o prefeito, mas não elegemos um número suficiente de vereadores para ter governabilidade. Na eleição passada foi ao contrário. Mas são pessoas que respeitamos. A maioria deles me ajudou a crescer na carreira política. A oposição deles não é algo que deve ser encarada do ponto de vista ideológico, mas é uma postura baseada em interesses políticos. Tudo será resolvido com o tempo. É preciso ter disponibilidade de negociação por parte do Executivo.

 

DIÁRIO - Então o prefeito deve abrir espaço na Prefeitura para o G-12?

SIRAQUE - Não diretamente. Política é arte de negociação e envolve interesses.

 

DIÁRIO - O senhor destaca proximidade com esse grupo de vereadores. Não há nenhuma interferência da sua parte para melhor o relacionamento do Paço com a Câmara?

SIRAQUE - Não. Isso é competência do prefeito e de quem ele designar. Minha relação com eles é pessoal. Não posso e não devo. O Grana tem capacidade, e até o momento não houve prejuízo nenhum para a administração.

 

DIÁRIO - O senhor acredita que o G-12 vai se dissolver na medida em que a negociação com o prefeito avançar?

SIRAQUE - Os vereadores não podem se isolar como se a cidade não existisse. A partir do momento que a administração vai se consolidando, os vereadores precisarão ter um lado. Se fosse algo ideológico, seria difícil, mas como é um grupo de interesse e nem todos são comuns fica difícil. Com o tempo, os parlamentares vão buscar atender ao interesse dos eleitores, porque muita gente votou neles e votou no Grana, se não o Aidan teria vencido.

 

DIÁRIO - A CPI da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André), que foi dominada pelo G-12, não cria problemas para o prefeito Carlos Grana?

SIRAQUE - A CPI é competência da Câmara, não acompanho o dia a dia. Mas acho que a composição tem de ser democrática e proporcional para se legitimar. Essa CPI poderá ser um tiro no pé dos 12 porque, ao abrir a comissão, não vão investigar somente os 100 dias da atual administração.

 

 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;