Economia Titulo Consumo
Baixa renda confia menos na economia
Paula Cabrera
Do Diário do Grande ABC
07/01/2011 | 07:29
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Eles foram os principais responsáveis pelo consumo de bens duráveis em 2010 e abocanharam o posto de nova classe média brasileira, no entanto, as famílias das classes C, D e E, com ganhos entre um e cinco salários-mínimos, estão temerosas quanto ao rumo da economia em 2011.

Dados do índice de expectativa das famílias de dezembro, divulgados ontem pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), mostram que a saída de Luiz Inácio Lula da Silva da Presidência abalou a confiança das famílias de baixa renda e hoje, 55% das pessoas com ganhos de até um salário-mínimo acreditam em melhores momentos para 2011.

Para se ter ideia, em novembro, 63,9% das famílias com faixa salarial de até um mínimo acreditavam em melhora no quadro econômico, enquanto 17,1% apostavam em piora, número que saltou para 23,7% nesse mês.

Especialistas apontam que além da mudança de mãos do governo, as medidas de restrição ao crédito anunciadas pelo BC (Banco Central) em dezembro que retiraram R$ 61 bilhões do mercado também atrapalham. "Essas famílias dependem muito do crédito para comprar bens duráveis e, no ano passado, tínhamos as menores taxas de juros em toda a série histórica. Essas mudanças impactam diretamente essa faixa de renda", explica o economista da Fecomercio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), Guilherme Dietze.

O pacote faz com que os juros aumentem para financiamentos com mais de 24 prestações e inibe os pagamentos sem entrada. "São essas pessoas que fizeram com que os bens duráveis, como eletrodomésticos e carros, fossem vedetes em 2010. Elas foram responsáveis pela maior parcela das compras desse setor, que foi destaque em 2010", completa Dietze.

PRECONCEITO - Além da retirada do crédito da praça, as famílias das classes mais baixas possuem outro desafio para enfrentar em 2011: o preconceito das empresas varejistas em fornecer para essa faixa social. Pesquisa recente do instituto Data Popular aponta que 70% dos empresários do setor ainda possuem preconceito para atender essa demanda populacional e 71% deles têm resistência em trabalhar com o público emergente.

"Muitas empresas têm dificuldade em entender que o mercado emergente não quer ter o mesmo estilo de vida da elite, por isso não falam a mesma língua que o consumidor. Atualmente, ações como diminuir o preço e a qualidade dos produtos não são eficientes para atingir esse público, é preciso aprimorar a comunicação para alcançar consumidor de baixa renda", avalia Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular.

Com tantos obstáculos, a expectativa do comércio é que o crescimento deste ano seja muito baixo em comparação ao alcançado em 2010. "Haverá crescimento que será de 4,5% até 5%, por conta do bom momento vivido no ano passado", conclui Dietze.  

Alta dos alimentos contribui para diminuição na confiança

A alta dos alimentos em 2010, que fez com que o governo revisse os planos para segurar a inflação, tem ligação direta com a queda nos índices de confiança dos consumidores das classes mais baixas. Com grande parte do orçamento familiar direcionado para despesas domésticas, são as famílias com ganhos entre um e cinco salários que são mais prejudicadas, segundo o economista da Fecomercio, Guilherme Dietze.

"Esses aumentos de preços, que estão sendo constantes, é que geram essa incerteza. Como a questão é flexível, se houver melhora nos valores, o otimismo volta a crescer. São questões conjuntarais", explica.

A carne subiu 34% em 2010, e itens como feijão, trigo e açúcar também deixaram a cesta básica mais cara. A questão afeta ainda a compra de produtos supérfluos como iogurte, sucos e bolachas, que passaram a integrar o carrinho de compras dessas famílias apenas no ano passado. PC




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