Seja por ser o principal exemplo de sucesso da classe trabalhadora, seja por ser uma das pessoas que lutaram desde 1987 para que o projeto da TV dos Trabalhadores fosse concretizado, o fato é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a estrela da primeira transmissão do canal, ontem à noite, em São Bernardo. No início da manhã, o petista fez campanha em porta de fábrica.

Imagens das históricas greves dos metalúrgicos nas décadas de 1970 e 1980 no Grande ABC, discursos, entrevistas, depoimentos e fotos sobre o sindicalista que se tornou chefe da Nação rechearam os primeiros 90 minutos da TVT - o que emociou o protagonista.

Há 23 anos, quando deputado federal, Lula liderou comitiva que levou ao então ministro das Comunicações Antônio Carlos Magalhães o primeiro pedido de concessão da televisão. Mas foi apenas em 2005, no seu primeiro mandato à frente do Palácio do Planalto que o Sindicato dos Metalúrgicos conseguiu a concessão. E no ano passado, na segunda gestão, a outorga definitiva de liberação das ondas públicas de difusão.

A demora na conquista do projeto rendeu críticas políticas aos comandantes passados do governo federal - sem citar nomes - por parte dos que discursaram ontem no evento de inauguração, entre eles o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, o ministro das Comunicações, Franklin Martins, o presidente do Sindicato, Sérgio Nobre, e o presidente da fundação responsável pelo sinal, Valter Sanches.

O presidente nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Artur Henrique, foi além e introduziu tom eleitoral ao ato. Ao falar sobre a superação do preconceito da classe trabalhadora ao longo dos anos, exaltou a eleição "do primeiro metalúrgico presidente da República" e, sobre vencer novos desafios frisou: "Eleger a primeira mulher presidente do Brasil", ao referir-se à candidata do PT ao Planalto, Dilma Rousseff.

Democracia - Num discurso lido, talvez para evitar empolgação e futuro problema com a lei eleitoral, Lula ressaltou que a TVT "não pode ser só para nós (metalúrgicos), tem de ser para o trabalhador e o povo brasileiro".

Acerca da programação educativa do canal, o petista criticou de forma sutil à mídia atual. "(O conteúdo) Será com mais isenção do que até agora o povo está sendo informado." Mas defendeu a liberdade de expressão pela imprensa. "Jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão e portais da internet hoje têm plena liberdade de veicular e publicar o que bem entendem, sem qualquer tipo de ingerência por parte do governo", salientou.

Programação própria só tem uma hora e meia
Com aporte de R$ 15 milhões feito pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a TVT iniciou ontem suas transmissões de forma modesta: será uma hora e meia de programação diária (das 19h às 20h30), e o restante será preenchido por meio de convênio com a TV Brasil e as TVs Câmara e Senado.

A programação irá ao ar pela canal 46 UHF, de Mogi das Cruzes, para o qual o sindicato obteve a outorga da concessão em outubro de 2009. No entanto, como a potência desse canal só cobre essa cidade, foram feitas parcerias para transmitir para outros locais: com Acesp (Associação dos Canais Comunitários do Estado de São Paulo) - via TVs por assinatura - e com a NGT, por seis meses, para passar no canal UHF 48.

A TVT será gerida pela Fundação Sociedade, Comunicação, Cultura e Trabalho, que pertence à entidade dos metalúrgicos. Para o presidente da Fundanção, Valter Sanches, há intenção de retratar a realidade que não é vista na TV comercial. Para isso, terá metalúrgicos na equipe de reportagem, contará com a participação de representantes do movimento social e deverá ser aberta à participação popular.

O sindicato obteve do governo a concessão de outro canal (UHF 45, de São Caetano) para ir ao ar na Grande São Paulo, mas a autorização está emperrada no Congresso. Isso porque o canal já foi concedido há vários anos para outra empresa. (Leone Farias)