Política Titulo Entrevista
Auricchio pede sangue e suor a Pinheiro

Após lágrimas de seu sucessor, ex-prefeito de São Caetano
José Auricchio Jr. cobrou empenho nas ações administrativas

Gustavo Pinchiaro
Do Diário do Grande ABC
14/04/2013 | 07:03
Compartilhar notícia
Ricardo Trida/DGABC


O ex-prefeito de São Caetano e atual secretário estadual de Esporte, Lazer e Juventude, José Auricchio Júnior (PTB), parafraseou o ex-primeiro-ministro britânico Wiston Churchill ao comentar os 100 primeiros dias de governo de seu sucessor e adversário político, Paulo Pinheiro (PMDB). "Quando ele (Churchill) assumiu o Parlamento britânico durante a Segunda Guerra Mundial, disse que poderia dar sangue, suor e lágrimas ao povo. O prefeito (Pinheiro) já deu lágrimas, agora falta sangue e suor em São Caetano", frisou o petebista, referindo-se ao choro do peemedebista durante a primeira prestação de contas ocorrida na semana passada. Auricchio adotou tom poderado aos primeiros passos de Pinheiro no comando do Palácio da Cerâmica. Considerou três meses e dez dias um período curto para avaliação. Para o ex-chefe do Executivo, mais três meses seria o tempo ideal para mostrar trabalho de fato. Em entrevista exclusiva ao Diário, Auricchio também assume ser o líder natural da oposição e fala sobre seu futuro político.

 

DIÁRIO - Como o sr. observa os primeiros 100 dias de Paulo Pinheiro?

AURICCHIO - Essa história de 100 dias não é um período para se avaliar um governo, é muito frágil. É casuísta dizer se está bom ou ruim. Acho que a gente pode fazer enfoques e pinçar temas ou assuntos, mas avaliação global, não. Há expectativa da população no novo governo. Com o tempo isso tende a se tornar opinião. Acho que não há uma opinião formada ainda. Talvez com seis meses você consiga ter um panorama mais real de governo, de ações... Há, lógico, aqueles que criticam por uma série de motivos. Há os que elogiam. Mas há uma grande massa tendo ainda um sentimento de expectativa. Com o tempo isso vai migrar para alguma opinião.

 

DIÁRIO - O prefeito fala em avanços na Segurança, destacando queda de 40% nos índices de furtos e roubos.

AURICCHIO - Eu não conheço esse indicador (os números são de levantamento interno). De onde é esse indicador? Porque os indicadores oficiais não mostram isso. Pelo contrário. Tenho convicção de que a Segurança ainda é um motivo de muita preocupação para a sociedade. Há uma conjuntura regional e metropolitana de piora do sentimento de Segurança. Seria um paradoxo a gente imaginar que só em São Caetano esse segmento mudou.

 

DIÁRIO - Se não dá para fazer uma análise, daria para fazer uma projeção do governo, já que muitos nomes da administração são conhecidos e trabalharam com o sr.?

AURICCHIO - Até emociona as pessoas verem que ele chorou no balanço que fez. É uma coisa que emociona mesmo. Parafraseando o (Wiston) Churchill, quando ele assumiu o Parlamento britânico na década de 1940 em plena vigência da Segunda Guerra Mundial, a França ocupada pelas tropas Nazistas, ele falou: ‘O que eu tenho a dar para vocês é sangue, suor e lágrimas'. (Pinheiro). Já deu lágrimas, agora precisa dar sangue e suor. Talvez falte entrosamento de equipe. É um período de transição.

 

DIÁRIO - Incomoda o prefeito bater tanto na tecla da dívida que o sr. teria deixado?

AURICCHIO - Primeiro, há um erro crasso de nomenclatura. Dívida no setor público é todo deficit que se consolida. O que existe são restos a pagar. Todas as cidades do Grande ABC têm e uma grande gama de cidades no País, também. Ele também vai passar por isso. Acho pouco significativo ficar frisando isso. A população o elegeu com uma expectativa e vai cobrar. Aqueles que não tinham convicção de que ele poderia fazer mudanças, também vão fazer cobranças. Ficar patinando em cima disso não é o que a população pede.

 

DIÁRIO - O rompimento prematura da vice-prefeita, Lucia Dal'Mas, com O governo é resultado de uma má construção política?

AURICCHIO - Não tenho conhecimento do caso do ponto de vista interno. Tenho conhecimento só pela imprensa. Acho que há equívocos bilaterais. É muito precoce você imaginar que uma chapa formada com tanto vigor se desintegre com 90 dias. Deve ter motivos muito fortes, tanto da vice-prefeita em querer romper, quanto do prefeito em não querer reatar. O que é ruim para o município, para a população

DIÁRIO - O prefeito apresentou na campanha proposta para estancar a verticalização. Dá para fazer isso em uma cidade que vem se desenvolvendo?

AURICCHIO - Não tenho conhecimento de nenhum projeto de lei que vete a verticalização. Ele está trabalhando exatamente em um conjunto de leis que nós aprovamos em 2010, e que ele votou (Pinheiro era vereador). Já é um conjunto restritivo. A lei atual reduz em média 50% o potencial construtivo de qualquer terreno. Não vejo mecanismos viáveis de reduzir ainda mais. Por exemplo, um mecanismo que estava anexo a esse conjunto de leis era a outorga onerosa. Flexibilizaria um pouco a restrição construtiva e eu optei por não regulamentar. Não vi ele se pronunciar a respeito da outorga onerosa. Entendo que nós reduzimos drasticamente. Há um discurso fácil que pode fazer nas ruas, dizendo que vai proibir (a construção) dos prédios, mas há impacto na economia, no desenvolvimento da cidade... É obvio que todos nós queremos o menor número possível de construções verticalizadas, mas há um equilíbrio nisso tudo.

 

DIÁRIO - Como o sr. vê o projeto de construir uma via paralela à Avenida Goiás?

AURICCHIO - É um factoide. Porque há um gigantesco desconhecimento. Aquelas áreas lindeiras da linha férrea são de propriedade da União, são remanescentes da antiga Fepasa que hoje fazem parte da Secretaria de Patrimônio da União. Há objeto de interesse púbico por parte do governo do Estado, na Secretaria de Transportes Metropolitanos, para construção dos trens expressos. Um vai cruzar Sorocaba-Taubaté no sentido Norte-Sul e vai ter o Leste-Oeste, que vem de Americana a Santos. Esse vai passar por São Caetano. Precisa explicar se a General Motors vai dar um pedaço do terreno, se Móveis Bartira vai dar outro pedaço, a Petrobras... O projeto dele inviabilizaria um projeto de transporte metropolitano. Mais do que isso, se fala em rebaixar a linha férrea. Aí há um factoide, inclusive, com falta de originalidade. Foram buscar um projeto do meu adversário de 2004, o Hamilton Lacerda (PT). Ele propunha o rebaixamento. Há estudos muito claros sobre isso, várias cidades europeias fizeram isso. Para cada metro rebaixado tem de ter um quilômetro de aclive e de declive. Ou seja, se afundar três metros para ter circulação em cima, precisaria ter três quilômetros antes e três depois do traçado férreo. Três quilômetros extrapolam para São Paulo e Santo André.

 

DIÁRIO - Qual a avaliação do sr. sobre o episódio de corte de árvores na Rua João Pessoa?

AURICCHIO - Realmente me deixou muito chateado. Ficou muito ruim para imagem da cidade. Nós estávamos com o projeto pronto. Restava saber se faríamos um canteiro central para preservar essas árvores. Algumas são sexagenárias. Mas o que não se compreende é o corte na margem oposta da rua. Não quiseram esperar a definição de um projeto. A compensação poderia ser de milhares de árvores, não tinha como cortar árvores sexagenárias. Cadê o laudo de que tinham pragas? A cidade está traumatizada com esse caso. O Greenpeace se posicionou. De uma forma súbita cortaram 15 árvores. Colocou a cidade de maneira negativa no cenário nacional. Foi uma atitude irresponsável e ilegal.

 

DIÁRIO - Como o sr. se classifica no cenário atual, já que a ex-prefeiturável Regina Maura (PTB) é um quadro técnico e não está na cidade (é secretária de Saúde de Rio Grande da Serra)? É natural o sr. se firmar como o líder da oposição?

AURICCHIO - Frisando o respeito à vontade popular, a gente tem que sempre ter isso como norte. Mais da metade da cidade optou pela candidatura dele, respeitando isso, a gente está recebendo essa missão. Não há hoje na cidade nenhuma resistência ao governo dele. É natural quem se elege com expressiva votação aglomerar forças. E eu não estou aqui para fazer nenhum papel destrutivo. Estou aqui para me posicionar como uma referência que vai ter que, em alguns momentos, abordar assuntos que não estão indo bem na cidade. É precoce para tomarmos esse tipo de postura, mas não vou me furtar a isso. Há uma delegação por parte da população a mim. É de forma subliminar, mas há.

 

DIÁRIO - Algumas oposições utilizam vias judiciais para combater os governos adversários. Pretende utilizar esse artifício?

AURICCHIO - Eu acho que o Ministério Público já faz o papel de fiscalizador. São ferramentas extremas, não há sentido em fazer isso. A população precisa estar informada, acho que esse é o papel da gente.

 

DIÁRIO - A Regina Maura também poderia ter um papel maior no cenário de oposição?

AURICCHIO - Ela tem um conhecimento técnico muito grande, sobretudo na área da Saúde. Pouca gente no Grande ABC tem conhecimento sobre a área como a Regina. Ela emprestar esse conhecimento para formar opinião e informar é muito importante. Mas ela está em outra cidade, não sei da agenda dela.

 

DIÁRIO - Um paradoxo que teve na eleição foi deixar o governo bem avaliado e não conseguir fazer um sucessor. A cidade separou a candidata da sua gestão?

AURICCHIO - Esse fenômeno ocorreu com uma frequência maior na última eleição. A oposição conseguiu vencer em grandes cidades, que tinham governos bem avaliados. Há uma fração da população que almejava mudança e foi preconizada pela candidatura dele (Pinheiro). E há outra parte que entendia, pelo fato de ele ser oriundo do nosso grupo político, que havia uma possibilidade de continuidade. A pessoa quando vota pensa que quer manter o que está bom e novidades que venham a melhorar. Acho que ele conseguiu passar essa mensagem.

 

DIÁRIO - Qual é o projeto político para 2014 e 2016?

AURICCHIO - Vamos deixar para decidir em 2014, tenho muito tempo. Temos compromisso com o governador (Geraldo Alckmin, PSDB) na secretaria, tem a Copa do Mundo. Isso implica em responsabilidade extra. Tenho que colocar isso no cronograma dos fatos. Ainda que não seja prudente, vou ter que levar aos 49 do segundo tempo.

 

DIÁRIO - Seria um bom tira- teima em 2016 uma disputa com Paulo Pinheiro?

AURICCHIO - Toda eleição passa de uma para outra. Tem o projeto de reeleição do governador Geraldo Alckmin, que é muito importante para o Estado. Tem uma série de fatores que vão consumir 2014, 2016. Não estou pensando em tira-teima.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;