Economia Titulo Juros
Analistas veem como incerto cenário de juros
24/05/2010 | 07:49
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Analistas do mercado financeiro já trabalham com a perspectiva de que o ciclo de aperto monetário pode se estender ao longo do ano que vem. Até recentemente, a avaliação consensual era de que haveria elevação mais acentuada da Selic neste ano e aperto mais suave ou até estabilidade da taxa em 2011.

A nova expectativa ocorre diante da avaliação de que há descompasso entre oferta e demanda - resultante de crescimento econômico acima da capacidade produtiva -, das incertezas sobre os impactos da crise fiscal na Europa e da dúvida sobre quem será o próximo presidente da República.

As projeções de crescimento feitas por instituições financeiras apontam para expansão econômica neste ano de até 8%. O próprio BC (Banco Central) divulgou novo indicador antecedente para o PIB (Produto Interno Bruto) apontando crescimento de 9,85% no primeiro trimestre - o resultado oficial, do IBGE, será divulgado apenas no dia 8. Do lado da oferta, o Nuci (Nível de Utilização da Capacidade Instalada) da indústria em março, medido pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), subiu para 82,6%. Em fevereiro, o indicador foi de 81,5% e, em março do ano passado, de 78,6%.

Segundo analistas, os elevados gastos públicos garantem forte injeção de recursos na economia e o crescimento da demanda agregada requer maior intervenção da autoridade monetária. A mais recente pesquisa Focus do BC ainda prevê Selic de 11,75% ao ano em 2010 e de 11,5% no próximo ano.

As médias das previsões para 2010, no entanto, subiram de 11,72% no dia 27 de abril para 11,91% em 14 de maio. E, para 2011, as previsões do dia 11, de 11,48%, subiram para 11,55% no dia 14. Esse movimento indica que, para o ano que vem, as projeções para a taxa de juros apresentam tendência de alta.

A MB Associados, segundo afirma o economista-chefe Sérgio Vale, não só trabalha com a Selic encerrando 2011 em 13% como não descarta a possibilidade de o ano que vem começar com elevação de juros para acima deste patamar e a manutenção nesse nível por mais tempo. Uma das variáveis que levam Vale a sustentar um call de juro mais apertado para 2011 são os IGPs, que devem encerrar este ano em 8,5% com larga probabilidade de ficar até acima de 10%.

"O impacto sobre 2011 se dará por meio dos serviços, que são reajustados com base nos indicadores da inflação passada. São riscos para 2011 que não são triviais ou pequenos", afirma Vale.

A economia, na visão de Vale, vive agora explosão de crescimento resultante de uma errada de mão do governo no ano passado, quando criou série de incentivos para a economia com o objetivo de amenizar os impactos da crise do subprime que começou em 2008.

"Tivemos também erros de política monetária na economia brasileira no ano passado, abrindo espaço para o crescimento neste começo de ano", critica.

O economista pondera que, em abril de 2009, o BC passou a aumentar a taxa Selic e mesmo assim houve crescimento a partir do fim do primeiro trimestre. "Neste ano não está sendo diferente. A taxa de juros começou a subir também em abril e a tendência é a de que a economia deverá se manter aquecida até o terceiro trimestre", diz Vale.

A diferença, reforça o economista, é que neste ano o juro está maior e a qualidade da política fiscal é bem inferior à de 2008. Por isso, a consultoria espera que a Selic sofra aumento de um ponto percentual já na reunião de junho do Copom (Comitê de Política Monetária).

"Entre o Copom de março e o de abril, as projeções de atividade e inflação subiram e de abril para junho está acontecendo a mesma coisa. O BC tem de se antecipar", diz o analista.




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