Ele tem piercing, cabelo liso e terminou o colégio, onde trabalhou como monitor de informática. Curte cinema, internet, e adora shows de música alternativa. Ah sim, ainda promove as baladas. As garotas? Aparecem rolos de vez em quando. Quer cursar Engenharia da Automação e um emprego bacana para comprar seu carro. Rola estresse de vez em quando com a família, mas quem não passa por isso?

Kaio de Carvalho, 17 anos, de Santo André, leva a vida como seus amigos. O que muda é que usa cadeira de rodas para se locomover. "Quando era mais novo, não tinha vontade de sair. Mas mudei a maneira de pensar e fiz mais amizades", conta o garoto, que nasceu com mielolipoma. Nem descer dois lances de escada para sair (seu prédio não tem elevador) atrapalha. O problema é a falta de ônibus adaptados na sua rua (Santo André possui 401, sendo 72 adaptados). "Isso me impede de ter um emprego."

Assim como Kaio, mais de 24 milhões de brasileiros tem algum tipo de deficiência física. Nicolas Orsi, 15, também nasceu com uma doença que o impede de andar, mas não é obstáculo para jogar basquete e ir à escola. "Às vezes, sinto algumas pessoas olhando torto, mas a maioria me trata bem." Nicolas, porém, passou um perrengue durante um jogo de futebol. "Os estádios não estão preparados." Lucimar, a mãe, diz tratar o filho como os demais irmãos. "Se tiver de levar bronca, ele leva. Coitadinho é quem está passando fome ou dor. O Nicolas é inteligente e capaz."

APAIXONADO
Aos 4 anos, Rodrigo Miranda, 14, foi atingido por uma bala perdida e perdeu os movimentos das pernas. "Lembro-me da sensação de andar, mas a vida continua. Preciso seguir", diz o garoto, que passou por uma fase de reabilitação e hoje faz tudo sozinho. "Adoro sair com os amigos e já fui várias vezes ao parque de diversões." Há um ano, o coração de Rodrigo está completo. "Conheci minha namorada. Gosto demais dela." A garota o acompanha a todos os lugares, inclusive ao médico. "Quando tenho vergonha de perguntar algo, ela pergunta."