Economia Titulo Entrevista
Renault quer dobrar vendas no Brasil
Wagner Oliveira
Do Diário do Grande ABC
20/07/2009 | 07:29
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A Renault não está no País para brincadeiras. No cargo há três meses, o francês Jean-Michel Jalinier, 56 anos, novo presidente da marca francesa para o Brasil e Mercosul, afirmou que a montadora não se conforma com a atual fatia de mercado de 4,6%. "É muito pouco pelo investimento que fizemos no País", disse, em entrevista exclusiva ao Diário.

Jalinier afirmou que sua meta é encaminhar o grupo, que tem parceria com a japonesa Nissan, para alcançar 10% do mercado nacional em cinco anos. As duas marcas detêm hoje 5% das vendas.

De acordo com ele, a montadora vai atingir seus objetivos cobrindo lacunas em seu portifólio de produtos. "Por exemplo, ainda não temos uma picape. É importante, para crescermos no mercado brasileiro, desenvolver um veículo deste tipo", pondera. Além de uma linha mais completa, Jalinier afirmou que dará prosseguimento ao fortalecimento da rede de concessionárias, que "têm de estar preparada para ser a mais eficiente no atendimento ao cliente". Melhoria contínua no processo de produção é outro desafio.

Demonstrando muita simpatia, mas ainda com sotaque carregado, Jalinier fez seu primeiro discurso em português na sexta-feira, em São Paulo, ao apresentar à imprensa o novo Master, comercial leve da Renault. O executivo se saiu muito bem para quem deixou a Rússia, onde estava havia cinco anos, para estrear no emergente mercado dos trópicos. "Deixei meus discos de Tchaikovsky para ouvir, agora, Tom Jobim", disse, rindo.


DIÁRIO - O senhor assumiu a presidência da Renault no Brasil quando o mercado nacional vivia momentos de incerteza, após o impacto da crise. Qual é a sua avaliação hoje?

JEAN-MICHEL JALINIER - É impressionante como uma medida simples - a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) - teve papel decisivo para reabilitar as vendas no mercado brasileiro. Outros países da Europa tentaram medidas mais complexas, como a renovação da frota, com resultados fracos. O mercado da Rússia, de onde eu venho, caiu 55%. Minha avaliação é que o Brasil demonstrou seu grande potencial. Um mercado que acredito que chegará a 3 milhões de unidades vendidas neste ano.

DIÁRIO - A Renault já teve quase 6% do mercado brasileiro, caiu para perto de 2,5% e agora voltou a ter cerca de 4,6%. O senhor está satisfeito com os resultados?

JALINIER - Nos últimos três anos lançamos seis novos produtos no mercado doméstico (Megane, Grand Tour, Sandero, Logan, Sandero Stepway e Simbol), além da Master, o sétimo produto, que foi reestilizado. Precisamos tirar o máximo de proveito dessa gama nova de produtos, de olho, principalmente, no público jovem. Trabalhamos firme, mas ainda não estamos satisfeitos.

DIÁRIO - Por quê?

JALINIER - A Renault não fez tantos investimentos no Brasil para ficar do tamanho que está. Ao lado da Nissan, que também tem atividades industriais em nossa fábrica de São José dos Pinhais (PR), temos potencial e capacidade instalada para atingir a meta de 10% do mercado brasileiro em cinco anos. Este é o desafio proposto por nosso presidente mundial, (o brasileiro) Carlos Ghosn, (que está em férias no País).

DIÁRIO - Quando perdeu participação de mercado, a Renault teve problemas com a desestruturação da rede de revendas. Como está hoje?

JALINIER - Nossa rede hoje está coesa e atende a todo o território nacional. Temos planos de aumentar os pontos de venda para estruturar ainda mais o crescimento. Nossos revendedores têm de estar preparados para serem os mais eficientes no atendimento ao cliente. Mas precisamos cobrir espaços em nossa linha de produtos.

DIÁRIO - Que espaços são estes?

JALINIER - Para crescer e sermos competitivos é preciso contar com uma gama completa de produtos. Ainda nos falta, por exemplo, uma picape. É importante, para nos expandirmos no mercado brasileiro que desenvolvamos um veículo deste tipo.

DIÁRIO - No meio da crise, em dezembro do ano passado, a Renault foi a primeira companhia a não optar pela demissão dos empregados. Em vez disso, deixou parte do pessoal em casa, recebendo benefícios pagos pela empresa e o governo federal. Foi uma aposta no Brasil?

JALINIER - Faz parte da cultura da empresa tentar preservar ao máximo os empregados. O pessoal voltou ao trabalho em menos de três meses, e cabe lembrar que o acordo previa que os trabalhadores ficassem parados por até cinco meses. Acho que agimos acertadamente.

DIÁRIO - O senhor está há três meses no Brasil, trabalhando na região metropolitana de Curitiba, capital onde mora. Neste período, conseguiu viajar, visitar concessionários em outros Estados?

JALINIER - Minha frustração é que as viagens não acontecem na intensidade que eu gostaria. Mesmo assim, já fui a Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Mas daqui a três meses pretendo viajar mais. Quero também conhecer bem o Nordeste brasileiro.

DIÁRIO - Depois de vir da Rússia, o que mais lhe chamou a atenção no Brasil?

JALINIER - Em comparação ao Leste Europeu, a cultura brasileira é muito diferente. Troquei meus discos de Tchaikovsky pelos do Tom Jobim (risos). Neste pouco tempo, percebi que existem vários países dentro de um só. Porém, o que mais me chama a atenção é a determinação das pessoas, o dinamismo e a vontade de fazer as coisas acontecerem. Este é o motor do crescimento do Brasil.

DIÁRIO - Em 2009, comemora-se o ano da França no Brasil. O senhor considera que eventos assim podem aproximar as marcas francesas dos brasileiros?

JALINIER - A Renault considera muito importante este tipo de evento, que ajuda a aproximar as duas culturas. Nós patrocinamos duas exposições que passam por Curitiba e São Paulo. A Renault quer ser uma marca confiável e admirada pelos brasileiros.

DIÁRIO - Qual a língua mais difícil de aprender, o russo ou o português?

JALINIER - O português é mais fácil. Até porque, é uma língua derivada do latim, como o francês. O russo é bem mais difícil (risos).




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