Os líderes partidários na Câmara de Santo André demonstraram ontem certo ceticismo com relação à reunião entre o prefeito Aidan Ravin (PTB) e a oposição, formada exclusivamente pela bancada petista.

Na opinião da maioria dos vereadores ouvidos pela reportagem, o encontro - ocorrido na noite de anteontem - não terá resultados práticos em benefício da cidade. O objetivo da aproximação entre PTB e PT foi acalmar os ânimos na relação tensa entre as partes, deixando um pouco de lado a disputa política em benefício da população andreense.

Líder do PV, Donizeti Pereira não acredita que o PT modifique a maneira firme como vinha se colocando contra a administração. "É válido o prefeito abrir espaço para conversar com todos os vereadores, inclusive com os da oposição, mas não é uma reunião que mudará a relação, e, sim, compromissos que foram assumidos. Mas acho difícil uma mudança, especialmente da parte do PT, que tem pedigree de oposição", sustentou.

Na opinião de Almir Cicote (PSB), PT e PTB fazem uma disputa "puramente política", com prejuízos para a cidade. "Essa briga é como se fosse uma extensão da eleição, um terceiro turno. Os lados acabam fugindo do conceito de desenvolver políticas públicas para a cidade. Embora avalie que a reunião tenha sido mais para acalmar os ânimos, não acho que resolveu. Não acredito em mudanças."

A mesma linha de raciocínio é seguida por Geraldo da Silva Souza, o Isqueiro. Líder do DEM, ele "estranhou" o encontro. "O PT sempre exerceu oposição a tudo e agora se reúne com o prefeito. Talvez estejam buscando algum benefício por conta da votação das contas do (ex-prefeito petista) João Avamileno", sugeriu o democrata, referindo-se à falta de votos do PT para derrubar parecer contrário do Tribunal de Contas do Estado em relação ao trabalho desenvolvido por Avamileno em 2005 e em 2006. "O PT não é do tipo de faz oposição construtiva, e, sim, vazia. Eles foram nesta reunião somente para aparecer no jornal", continuou.

Na minoria, entre aqueles que confiam em uma mudança de postura pós-reunião, está Ailton Lima (PDT). "Acredito que os tons dos discursos sejam amenizados, e as questões da cidade tratadas de forma mais honesta e séria. Havia um pouco de exagero das duas partes. Espero que isso não seja apenas jogo de cena das duas partes. As atitudes a partir de agora mostrarão se a cidade realmente ganhará. O PT pode contribuir na discussão de projetos. Sem contar que essa relação pode até enfraquecer os lados mais oportunistas, que ora ou outra tiram casquinha", observou.

O líder do PMDB, José de Araújo, também avaliou positivamente o encontro. "Da maneira como estava não era bom para a cidade. Essa aproximação é oportuna, pois pode estabelecer uma relação de respeito. Isso não quer dizer que o PT deixará de ser oposição nem que o prefeito Aidan será o maior aliado da oposição."

EXPLICAÇÕES - Um dos principais críticos da atual gestão petebista em Santo André e único petista ausente na reunião com o prefeito Aidan, José Montoro Filho, o Montorinho, afirmou ter aprovado a atitude da bancada em conversar com o chefe do Executivo. "Gostaria de ter ido pessoalmente, mas infelizmente tive um compromisso inadiável", afirmou, sem entrar em detalhes.

Montorinho reafirmou a posição dos petistas de que o partido segue na oposição. "Nada mudará por conta desta conversa. Continuarei a fazer uma oposição responsável."

O petista admite, no entanto, a possibilidade de haver mudança na postura da legenda. "Podemos até modificar um pouco o tom do discurso, mas desde que a administração Aidan seja mais transparente", reconheceu.

Como exemplo, o parlamentar citou uma ação que o PT já preparou para encaminhar ao chefe do Executivo após a reunião. "Já que ele nos deu essa abertura, iremos protocolar um ofício para obter informações referentes aos contratos e convênios que estão sendo firmados com ONGs. Quem sabe agora ele atende", disse. Petistas tentaram obter essa documentação via requerimentos, mas sem resposta do poder público recorreram ao Ministério Público para consegui-las.