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Pré-candidato, Alckmin garante que só pensará em eleição em 'ano par'

Líder nas pesquisas de intenção de voto para governador em 2010, secretário estadual nega que esteja em campanha

Fábio Zambeli
Da Associação Paulista de Jornais
08/06/2009 | 07:30
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Quatro meses após assumir o cargo no auge da crise econômica mundial, o secretário estadual de Desenvolvimento, Geraldo Alckmin (PSDB), avalia que o Estado dá sinais de reação à turbulência e anuncia um novo pacote para aumentar a ‘empregabilidade'.

O conjunto de medidas contempla a criação de 9.600 vagas noturnas no Ensino Técnico em 45 cidades, utilizando a rede física de escolas do Estado. "É exatamente neste momento de crise que se tem que redobrar o esforço, seja na qualificação profissional, no desenvolvimento humano, na formação técnica e tecnológica, enfim, fazer um esforço ainda maior", afirma o ex-governador.

Alckmin, líder nas pesquisas de intenção de voto pelo Palácio dos Bandeirantes em 2010 (ele disputa a vaga do PSDB com o secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira), nega que esteja em campanha pelo cargo, embora admita que irá intensificar suas maratonas pelo Interior - todas, ele garante, a trabalho.

"Nós não misturamos as coisas. Quem faz campanha 24 horas é o Lula. Estamos é procurando trabalhar. Eu nunca fiz uma reunião partidária, política. O que nós fazemos são compromissos de trabalho."

Associação Paulista de Jornais - Como o senhor analisa o resultado das ações empreendidas pelo governo estadual no enfrentamento da crise?

Geraldo Alckmin - É exatamente neste momento de crise que se tem que redobrar o esforço, seja na qualificação profissional, no desenvolvimento humano, na formação técnica e tecnológica, enfim, fazer um esforço ainda maior. O governo do Estado vai investir neste ano R$ 20,6 bilhões. Infraestrutura, logística, obras. Isso gera muito emprego, direto, indireto, induzido. Eu diria que o pior momento está passando, mas não podemos nos iludir. O crescimento não será em 24 horas. Ele vai melhorar mais lentamente neste ano. E acredito num crescimento mais forte no ano que vem.

 

APJ - Este esforço que o senhor menciona de enfrentamento da crise pode ser contaminado pela agenda eleitoral? Em âmbito estadual e federal?

Alckmin - É importante separarmos discurso de ação. Uma coisa é você falar, outra é você agir. O que estamos anunciando, por exemplo, tem um cronograma. Dia 5 de junho abrimos inscrição, 12 de julho vestibulinho e 3 de agosto a aula começa. Então você tem o começo, o meio e o fim. São medidas muito concretas e efetivas. Há um abismo entre o falar e o fazer. São Paulo está procurando fazer sua parte. Nós não temos política monetária, a taxa de juros é federal, a política cambial é federal, mas estamos fazendo um esforço grande aqui.

 

APJ - O senhor lidera as pesquisas de intenção de voto para o governo do Estado em 2010. Como avalia estes números e a ansiedade que se cria no PSDB para se definir o quadro eleitoral?

Alckmin - Eu fico muito feliz. Isso é uma prova de reconhecimento, de confiança. Me deixa muito alegre e mostra que o povo paulista tem uma enorme confiança no nosso trabalho. Agora, eleição é só o ano que vem. Agora é trabalhar o máximo, fazer bem feito o que nós estamos fazendo, cuidar com responsabilidade das tarefas do Estado de São Paulo. Aqui na secretaria é que eu tenho a honra de servir e eleição é ano par. Estamos ainda em ano ímpar.

 

APJ - O senhor admite a realização de prévias para se escolher o candidato do partido?

Alckmin - Tanto em nível nacional quanto estadual eu acredito num entendimento. Acho que não precisa ser agora, pode ser lá no fim do ano. Agora, se precisar fazer uma consulta, uma prévia, não vejo nenhum problema. Pelo que eu sinto, tanto em nível estadual quanto no federal, provavelmente se caminha para o entendimento.

APJ - Como o senhor reage aos questionamentos feitos principalmente pela oposição de que o senhor estaria em pré-campanha ao intensificar o ritmo de reuniões e eventos com prefeitos e lideranças partidárias paulistas?

ALCKMIN - Nós não misturamos as coisas. Quem faz campanha 24 horas é o Lula. Nós não. Estamos é procurando trabalhar. Eu nunca fiz uma reunião partidária, política. O que nós fazemos são compromissos de trabalho. Por exemplo, eu fui a Sorocaba. Fazer o quê? Visitar a Fatec, ver obra, expor a agência de desenvolvimento. Fui ao Vale do Paraíba para inaugurar a Etec de Cachoeira Paulista, fomos a Lorena na Santa Casa. Quer dizer, são medidas administrativas, concretas. A questão eleitoral é importante, mas ela tem o seu momento. Ainda não é o momento.

 

APJ - Qual o critério utilizado para definir quais cursos técnicos seriam oferecidos em cada cidade?

Alckmin - A demanda regional. Este é o critério. O eixo indústria vai ser feito nas próprias Etecs, pois demanda laboratórios. Agora, o eixo serviços a gente faz na própria escola, porque na realidade, vamos comprar 50 computadores por escola para ter laboratório de informática. E rápido. Em vez de construir prédios, que demoraria dois anos, fazendo projeto, licitação... Perderíamos tempo e gastaríamos muito dinheiro. Quando tem muito prédio vazio e com salas à noite que não são utilizadas.

APJ - Por que se verifica este fenômeno?

ALCKMIN - Antigamente, 80% do Ensino Médio era à noite. Hoje, 60% são de dia. Portanto, não há mais aquela defasagem do aluno com a idade dele. Então, você tem muita escola à noite vazia. Vamos utilizar a estrutura.

APJ - E haverá economia para o Estado?

ALCKMIN - Sim, cada escola custaria, em média, quase R$ 6 milhões. Quer dizer, nós vamos abrir 9.000 vagas gastando R$ 20 milhões. E na verdade, são mais vagas, porque temos vestibulinho a cada seis meses. São 28 mil vagas abertas nesse período.

 

APJ - E as Fatecs? Há previsão de ampliação?

Alckmin - No caso das Fatecs, eram 26. Vão ser 52. Dobrou. Veja, no caso da Etec a empregabilidade é de 78%, no caso da Fatec, é de 94%. São escolas de muito boa qualidade. Todas do Centro Paula Souza.

 

APJ - Qual o papel da Secretaria da Educação neste processo, visto que os prédios são de responsabilidade dela?

Alckmin - Nós só compartilhamos o prédio da Secretaria da Educação, que, aliás, tem sido grande parceira. É bom para aproveitar melhor os equipamentos públicos, tem mais segurança, estrutura, prédio. Porque você tem à noite muita ociosidade.

 

APJ - De que maneira o Estado tem agido para atender, com estes cursos, as vocações regionais?

Alckmin - Isso é feito permanentemente. Para você ter ideia, pagamos o bônus para professores, funcionários, e diretores das Etecs e Fatecs na semana passada. O bônus é pago pela qualidade das escolas. Qual o critério? O aprendizado, o aluno e o egresso, quer dizer, o aluno que saiu daquela Etec, conseguiu emprego? O curso foi importante para seu desempenho profissional? Esta é a lógica. Ele é voltado ao setor produtivo. É a demanda.

 

APJ - E, na avaliação do senhor, este processo pode se aprofundar?

Alckmin - Sim. Por exemplo, em São José dos Campos, setor aeronáutico, aeroespacial. No Litoral, petróleo e gás. No Grande ABC, termoplástico, automotivo. Em Franca, sapato. Em Americana, têxtil. Em Sorocaba, metalmecânico. Em Campinas, tecnologia da informação. E também serviços: comércio, administração, contabilidade, marketing. Enfim, serviços, que são os que mais crescem hoje.

Expansão de cursos contempla 45 cidades

O pacote de medidas anunciado pelo governo estadual para o Ensino Técnico é fruto de convênio firmado com o Centro Paula Souza. Com o uso de salas ociosas da rede estadual no período noturno, serão 9.265 vagas em todo o Estado.

O processo seletivo será realizado em julho e as inscrições terminaram na sexta-feira, dia 5. As turmas começam em agosto. O projeto abrange 45 municípios (veja quadro).

O sistema prevê classes descentralizadas. Em vez de construir uma nova escola técnica, criam-se turmas aproveitando a infraestrutura já existente. Cada escola atuará em conjunto com a Etec mais próxima, que será responsável pelos cursos. A Secretaria da Educação indicou ao governo as unidades com salas disponíveis, que foram vistoriadas para conferir as condições e avaliar adaptações necessárias para a instalação dos cursos técnicos. O Estado planeja injetar R$ 20 milhões em aparelhamento das escolas com laboratórios - principalmente de informática.

Cada escola estadual abrirá até três turmas por semestre e oferecerá até três cursos. Serão 12 modalidades ofertadas, com duração de três semestres: Administração, Logística, Contabilidade, Secretariado, Marketing, Comércio, Serviços Judiciários, Seguros, Serviços Imobiliários, Informática, Informática para Internet e Redes de Computadores. Cada turma terá 40 alunos.

Expansão - Para incrementar o Ensino Técnico, o governo estadual se baseou em pesquisa anual elaborada pelo Centro Paula Souza, que indica que a empregabilidade dos egressos da instituição um ano depois de formados é de 77%.

O Centro Paula Souza administra 157 Etecs (Escolas Técnicas Estaduais) e 46 Fatecs (Faculdades de Tecnologia) em mais de 160 cidades paulistas. As Etecs atendem cerca de 140 mil estudantes, no Ensino Médio e no Ensino Técnico, para os setores industrial, agropecuário e de serviços. Nas Fatecs, que oferecem cursos superiores de Tecnologia, o número de alunos matriculados ultrapassa 32 mil.




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