Depois de quatro meses e 25 dias trabalhando apenas para pagar impostos, ontem os brasileiros puderam ‘comemorar' o fato de que os salários que receberem até o fim do ano serão utilizados em benefício próprio.

O ponto de vista é defendido pela Associação Comercial de São Paulo, por exemplo, que instituiu o ‘Impostômetro', painel exposto no centro de São Paulo que registra a arrecadação de tributos desde o início do ano e que ontem alcançou a marca de R$ 400 bilhões.

Para ‘comemorar' a data e chamar a atenção sobre o excesso de tributos recolhidos pelos brasileiros, organizações não governamentais em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre financiaram os tributos existentes no litro da gasolina e realizaram o ‘Dia da Liberdade de Impostos'.

Quatro postos de combustível, venderam 6.000 litros de gasolina cada, ao limite de 25 litros por veículo, por quase metade do preço. Em São Paulo, o combustível que era vendido a R$ 2,40 o litro foi comercializado por R$ 1,46, descontados Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), PIS (Programa de Integração Social), Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) e ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços).

A ação, segundo Ricardo Salles, do Instituto Mises Brasil, um dos organizadores, tem como principal objetivo "permitir que a população perceba o quanto os gastos governamentais pesam no bolso".

Segundo Marcel Solimeo da Associação Comercial de São Paulo, o ato ocorreu para conscientizar a população de que ela é quem paga por esse montante. "A população tem de se mobilizar. Quando houve a decisão de acabar com a CPMF, as pessoas se manifestaram e conseguiram eliminar o imposto".

Solimeo cita percentuais de tributos incidentes sobre itens do dia a dia. "Do custo dessa ligação telefônica que estamos fazendo, 40% são impostos. Produtos alimentícios têm cerca de 35% de tributos e mais da metade do preço de refrigerantes também. Ter um carro hoje é pagar impostos; ao comprá-lo, 35% vão para os tributos, existem ainda IPVA, combustível, pedágio".

O Brasil, na avaliação de Guilherme Dietze, da Fecomercio, tem carga tributária de primeiro mundo e serviços de terceiro. "Com menos impostos a pagar, as vendas seriam estimuladas. Um exemplo é a redução de IPI sobre eletrodomésticos, o preço cai brutalmente".

Posto da região se interessa em realizar ação semelhante

No Grande ABC, embora nenhum posto de combustível tenha participado da ação do ‘Dia da Liberdade de Impostos', foi cogitada a possibilidade de realizar ação semelhante.

Eugênio Bianchi, proprietário do Auto Posto Gravatinha, de Santo André, demonstrou interesse em vender a gasolina sem os tributos. "É interessante para que a população perceba que grande parte do preço cobrado é por conta dos impostos". No entanto, Bianchi ressaltou que, para que a ação ocorra, será necessário o finaciamento do valor desses impostos por parte de alguma instituição, por exemplo o Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do ABCDMR).

Em seu posto, o litro da gasolina hoje é vendido por R$ 2,59. "Pago 57% de impostos", salientou. Portanto, R$ 1,47 vão para os tributos. Ele afirmou, no entanto, que contribuiria com uma "parte pequenininha", de R$ 0,30 por litro.

Na opinião de Roberto Rodrigues, assessor do Regran, se for feita a ação com um só revendedor, a entidade estará indo contra os outros associados. "Se vendo combustível a R$ 1,40 em um posto, os outros perdem a clientela. Além disso, vivemos de arrecadação e não temos condições de bancar esse valor".