Esqueça aquela Cinderela ingênua e sem atitude. No espetáculo Cind Hip Hop, em cartaz no Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, em São Paulo, a princesa troca o sapatinho de cristal por tênis e a carruagem pelo ônibus. Em vez de valsa, dança hip hop. E mais: há várias Cinderelas e Cinderelos na peça, que foi vencedora dos prêmios Coca-Cola FEMSA de melhor espetáculo jovem e da Cooperativa de Teatro, como melhor dramaturgia.

Cind Hip Hop conta a história de quatro Cinderelas(os) que enfrentam diversas dificuldades para realizar seus sonhos. Um deles é Jefferson Oliveira Delfino, 25 anos, de Mauá, que interpreta Bolsinha, cobrador de ônibus que sonha ser escritor. Ele conta com a ajuda de um fado padrinho para participar de um sarau, mas não consegue porque precisa voltar antes da meia-noite.

"O espetáculo compara a história da Cinderela com a realidade do jovem da periferia. Eu me identifico com o personagem. Minha mãe é empregada doméstica e já sofri muito preconceito por ser negro, entre outras dificuldades", fala Jefferson, que se formou na Escola Livre de Teatro de Santo André.

Lá também estudou sua colega de elenco Roberta Marcolin, 28 anos, de Santo André. Ela interpreta as madrastas das Cinderelas. "Essas figuras nem sempre são as mulheres dos pais. Eu faço, por exemplo, uma senhora que adotou uma menina negra e não quer que ela estude. Na verdade, a madrasta representa tudo o que impede a gente de ser feliz", diz.

As histórias, segundo Roberta, nem sempre terminam em "felizes para sempre", como nos contos de fada. "Retratam a realidade, e essa realidade nem sempre é como gostaríamos que fosse. Não existe mágica, mas muito esforço pessoal."

ONDE - Núcleo Bartolomeu de Depoimentos (Rua Dr. Augusto de Miranda, 786, São Paulo, tel.: 3803-9396). Até 31 de maio. Sábado, 21h, e domingo, 20h. Censura: 12 anos. Ingresso: R$ 5 e R$ 10. (www.nucleobartolomeu.com.br)