O mais exaltado crítico da investigação e divulgação, pela mídia, do abuso com as cotas de passagens aéreas da Câmara é um deputado ausente. Ciro Gomes (PSB-CE) faltou a quatro de cada dez sessões realizadas na Câmara, desde o início do mandato, em fevereiro de 2007.

No ano passado, ficou entre os cinco campeões de faltas, com ausências em mais da metade das sessões e sem registro de presença na Casa, o que significa que sequer foi ao prédio do Congresso.

A Constituição prevê a cassação de parlamentares das duas Casas - Câmara e Senado -, que faltarem a, pelo menos, um terço (33,3%) das sessões ordinárias de cada ano legislativo, salvo por licença ou se estiver em missão oficial.

Mas a mesa diretora da Câmara pode abonar as faltas fora desses contextos se, por arbítrio próprio, aceitar outra justificativa do parlamentar, evitando sua inserção na punição constitucional e garantindo a integridade do salário. Esse artifício da justificativa pessoal impede o desconto dos dias ausentes no contracheque.

Como a grande maioria das faltas de Ciro foi justificada, não haverá punição e desconto de um só dos 144 dias que faltou e justificou à mesa diretora.

Em sua defesa, Ciro Gomes explica apenas parte das ausências em 2008, quando teve problemas de saúde nos dois últimos meses do ano. Ele teve paralisia facial, em consequência de uma virose, depois de atuar na campanha derrotada da ex-mulher, senadora Patrícia Saboya (PDT-CE), à prefeitura de Fortaleza. Ciro apresentou à terceira secretaria da Câmara, nesse caso, atestados do clínico Carlos Roberto de Vasconcelos Teixeira que recomendavam "repouso domiciliar".

Já no primeiro semestre de 2008, no entanto, as faltas do deputado eram frequentes. No mês de abril, Ciro compareceu a apenas quatro das 18 sessões, somando sessões ordinárias e extraordinárias, um índice de 77,7% de faltas.