Economia Titulo Entrevista
'ANS se esqueceu de olhar para as operadoras'
Do Diário do Grande ABC
15/04/2009 | 07:00
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Pioneira no setor, a Samcil, fundada em 1960, não teme a portabilidade dos planos de saúde. Para o superintendente comercial e de marketing da empresa, Alejandro Pérez, a resolução da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), há a perspectiva até de incorporar clientes da concorrência. Isso porque, segundo o executivo, a empresa tem ampla rede própria (dez hospitais, 17 prontos atendimentos, 50 centros médicos e um centro de medicina preventiva) que permite uma boa relação custo-benefício.

Pérez não deixa de criticar o órgão do governo, que, para ele, teria levado mais em conta o "aspecto social" do que a saúde financeira das operadoras de convênios médicos. Mas salienta que a mudança nem é tão grande, já que é restrita aos planos individuais e familiares (não inclui os empresariais) e a migração tem de ocorrer apenas para contratos "compatíveis", ou seja, similares.

DIÁRIO - O que o senhor tem a dizer a respeito da nova regra sobre portabilidade dos contratos de planos de saúde?

ALEJANDRO PÉREZ - Parece claro que o que a agência reguladora do segmento teve em mente foi o aspecto social, sem levar em conta vários aspectos contratuais e circunstanciais das operadoras, entre as quais o equilíbrio financeiro. Fica claro mais uma vez que se busca solução para os problemas da sociedade repassando o custo às empresas privadas, não levando em conta o quanto isto pode distorcer o cálculo atuarial que precede o lançamento de um produto. Por outro lado, não creio que a mudança seja tão grande como se tem alardeado.

DIÁRIO - Por que o sr. diz que foi levado mais em conta o aspecto social?

PÉREZ - A ANS recebe pressão dos Procons e partiu do pressuposto de que, abrindo essa válvula a mais, essa pressão esvaziará. Mas existem regras para a portabilidade, para não ficar num vaivém que seria nocivo ao mercado. Dentro das regras estabelecidas não vejo uma mudança tão grande. A intenção é que a pessoa passe de uma operadora para outra desde que seja para um plano similar, para que não se use a portabilidade como desculpa para alcançar um de maior porte. Isso seria um oportunismo que a ANS não pode permitir.

DIÁRIO - A resolução da ANS também limita a portabilidade a contratos firmados a partir de 1999 e a planos individuais e familiares, e não possibilita essa migração sem carência aos empresariais...

PÉREZ - Dentro das empresas, normalmente há uma hierarquia de planos de um mesmo convênio em que se colocam penalidades (um período de carência) internamente para se evitar, por exemplo, que uma mulher que fique grávida passe para um plano de apartamento e, depois do parto, volte para um de enfermaria. Se quiser passar para um contrato de nível mais elevado, a pessoa tem de pagar por seis meses a nova mensalidade e só depois terá o serviço. O que estamos estudando na Samcil é eliminar a penalidade permitindo a liberação interna de um plano para outro mais caro, para que o nosso associado não tenha a tentação ou a necessidade de sair para buscar outra operadora.

DIÁRIO - Quando essa facilidade para os associados da Samcil estará em prática?

PÉREZ - Estamos terminando alguns estudos e verificando o que tivemos de incidência ou tentativa de saída para outras operadoras nos últimos anos.

DIÁRIO - No caso específico da resolução da ANS, quais serão as vantagens e/ou desvantagens para usuários e para as operadoras?

PÉREZ - Para os associados, as vantagens poderão ser as de trocar de uma operadora em que estejam infelizes para uma onde suponham que irão ficar satisfeitos. A desvantagem poderá ser a de mudar pensando que não terão dificuldades e, se elas aparecerem, não poder retornar à condição anterior. Para as operadoras é difícil antever. Pode haver desvantagens de custo, se os usuários que mudarem para ela forem sinistrosos (utilizem muito o convênio). As empresas também poderão perder mais usuários do que ganhar, no caso daquelas que não tenham uma justa relação custo-benefício. Teremos de aguardar uns 60, 90 dias para ter uma leitura definitiva.

DIÁRIO - A operadora será obrigada a aceitar o contrato de qualquer pessoa que queira migrar de plano ou existirão restrições?

PÉREZ - Toda e qualquer operadora terá de seguir as regras do órgão regulador, a ANS, e não poderá colocar obstáculos que representem discriminação.

DIÁRIO - A Samcil já está adaptada à resolução?

PÉREZ - Está totalmente adaptada. Vamos seguir ipsis litteris as normas estabelecidas pela lei.

DIÁRIO - Como está hoje a carteira de associados da Samcil que se enquadra na portabilidade?

PÉREZ - Algo entre 150 mil e 200 mil usuários se enquadram. Isso dentro de uma carteira total de 540 mil usuários hoje, dos quais 55% são de pessoa física e o restante de pessoa jurídica.

DIÁRIO - O senhor acredita que a concorrência entre as operadoras vai aumentar? Elas terão de apresentar diferenciais para que seus clientes permaneçam?

PÉREZ - Não creio que a concorrência fique maior do que já está, dentro deste mercado de trocas, considerando que a maioria das vendas é para pessoas que têm ou já tiveram um plano. Neste aspecto a Samcil tem sido privilegiada, pelo fato de ter o seu foco na classe C, em que ainda há mercado virgem. Quanto a diferenciais, tendem a ser de rede, qualidade no atendimento, ações de medicina preventiva, acessibilidade etc.




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