D+ Titulo Profissão
Nem melhores nem piores, apenas diferentes
Marcos Seabra
Do Diário do Grande ABC
08/03/2009 | 07:00
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Foi com espanto de parte da população brasileira que lá pelos anos 1980 viraram manchete mulheres fotografadas em ocupações que tradicionalmente eram dos homens.

Motoristas de ônibus e de caminhão, pedreiras e outras tantas profissões, mulheres foram retratadas nas mais diversas situações. De pronto, vieram as críticas de homens dizendo que iriam perder o emprego por essa invasão do sexo oposto. Não aconteceu.

Mais tarde, nos anos 1990, as mulheres apareceram no comando de empresas, entidades, governos e outros tantos postos de gerência e chefia espalhados pelo País. E, outra vez, ainda que sem alarde, homens correram para apontar defeitos no sexo frágil. O tempo passou e, mais uma vez, as críticas se mostraram puro preconceito.

Na verdade, as diferenças entre homens e mulheres sempre foram motivo de discussões. "Metaforicamente, ela aguenta 15 assaltos e ganha uma luta por pontos. Já o homem aguenta apenas cinco e ganha por nocaute, buscando o resultado final. Enquanto as mulheres persistem a longo prazo e vencem justamente por isso, eles são resolutos", define Luiz Fernando Garcia, especialista em manejo comportamental e empreendedorismo em negócios e consultor certificado pela ONU (Organização das Nações Unidas) e pelo Sebrae.

Garcia acredita que as mulheres caminham junto com a modernização do trabalho no País. Para vários economistas, o setor de serviços, em substituição ao industrial, é o futuro. "Se os homens foram os heróis da era da Revolução Industrial, as mulheres têm um grande papel a desempenhar na era dos serviços, que precisa de facilidade de relacionamento com clientes e com comunidades, característica feminina por excelência", acrescenta.

E mais: surgiu a hora da mulher empreendedora. "Para elas, possuir um negócio parece ser uma estratégia de vida e não meramente uma ocupação ou um meio para ganhar dinheiro."

Garcia também vê na modernidade uma situação diferente na inclusão da mulher no mundo dos negócios. "Ambivalentes, as mulheres tendem a valorizar mais o trabalho do que os filhos ou a família em geral, mas, ao confrontar o dilema trabalho versus marido, as empreendedoras optam por uma alternativa que expressa a valorização combinada de ambos. Assim, têm como meta atingir um equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal, utilizando diferentes estratégias para lidar com as demandas do negócio e da família", comenta o consultor da ONU.

Prosseguindo na sua análise, Garcia não esquece do sentimentalismo da mulher. "Elas têm mais facilidade para compor equipes, persistência, cuidado com detalhes, além de valorizarem a cooperatividade. Apesar de incluírem certa dose de sentimentalismo a suas decisões, têm maior facilidade para desenvolver atividades intelectuais, inverso ao homem, que é mais ágil e prático", diz.

Para amenizar, o consultor conlui: "As empreendedoras são assim: com forte tendência a perceber seus negócios como difíceis, porém os veem muito mais como desafio do que fardo, o que contraria crenças muito difundidas de que as mulheres não conseguem manter tantas responsabilidades - lar, marido, filhos, trabalho. Os negócios tendem a ser vivenciados sem culpa, em harmonia com o lar, vantajosos para a família, não se constituindo, portanto, como oposições."

Empreendedoras, sim

As mulheres estão conquistando cada vez mais espaço no mundo dos negócios. Sensibilidade, força e criatividade são alguns dos pontos fortes do universo feminino. Dados do Programa Empreendedorismo, desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade, no período entre 2001 e 2007, mostram aumento constante da participação da empreendedora.

As atividades em que a ação de empreendedorismo feminino se realiza concentram-se no comércio varejista (37% com destaque para artigos de vestuário e complementos); 27% na indústria de transformação (confecções, fabricação de produtos alimentícios, fabricação de malas, bolsas, valises e outros artefatos para viagem de qualquer material) e 14% na atividade de alojamento e alimentação.

O estudo revela que em 2007 elas superaram a participação dos homens nos empreendimentos de estágio nascente (53%) e nos empreendimentos novos (52%). No entanto, as mulheres ainda são minoria nos empreendimentos já estabelecidos (38% contra 62%).

O crescimento do empreendedorismo entre as mulheres deu um salto significativo nos últimos anos. Em 2001, segundo números do GEM (Global Entrepreneurship Monitor), os homens empreendedores representavam 71% contra 29% das mulheres. Em seis anos, elas passaram a representar quase o dobro: 52% dos empreendedores adultos, considerando a faixa etária entre 18 e 64 anos. A pesquisa é realizada em 31 países, sendo que as brasileiras ocupam a 7ª posição entre as mais empreendedoras, com uma taxa de 12,71%. São cerca de 8 milhões de mulheres empresárias no País.




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