Economia Titulo Montadoras
Aumento de recalls divide opiniões
Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
21/12/2008 | 07:14
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Durante o ano de 2008 o número de veículos convocados para realizar recalls - chamadas das montadoras para reparar algum defeito de fabricação ou substituir peça danificada -, cresceu substancialmente em comparação ao ano passado.

A grande questão que divide opiniões é se tal crescimento se deve a uma maior atenção por parte das empresas com relação à segurança do consumidor ou se deve a um descaso e evidente desatenção na produção. A fabricação dos automotores cresceu 350 milhões de 2007 para cá, atingindo 2.810 milhões de unidades, entre caminhões, motos, carros de passeio, ônibus e comerciais leves. Entretanto, é preciso destacar que recalls incluem também veículos produzidos anos antes da chamada.

Segundo dados da Secretaria do Direito Econômico, do Ministério da Justiça, neste ano foram convocados 214.083 veículos a mais em relação ao ano passado, atingindo 467.897. O número praticamente dobrou. Entretanto, a quantidade de campanhas diminuiu: de 28 passou a 23.

De acordo com Rodolfo Alberto Rizzotto, autor do livro Recall - 4 milhões de carros com defeito de fábrica, lançado em 2003, e editor do site Estradas, até o momento 1.246.807 automotores foram convocados, ante 256.394 no ano passado. A diferença entre os números fornecidos se deve, conforme explica Rizotto, à não contabilização de alguns recalls por parte do órgão federal. "Há situações em que a própria montadora não contabiliza como recall. Um exemplo foi quando, há alguns meses, o Fox, da Volkswagen, apresentou um defeito no mecanismo que regula seu espaço interno. A peça provocou acidentes nos dedos de alguns proprietários e, ao todo, 510 mil veículos foram convocados".

Para Andrea Sanchez, diretora de programas especiais do Procon-SP (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor), o crescimento das convocações não necessariamente deve ser visto com maus olhos. "Será que nos anos anteriores as montadoras sabiam dos problemas e simplesmente se calavam? Se for isso, está sendo demonstrada uma responsabilidade ao convocar mais vezes o consumidor, já que a possibilidade do produto com defeito existe".

Na opinião de Bruno Zanei, consultor da Assurant Solutions, especializada em veículos, o aumento das chamadas para reparos nos automotores é visto como um ponto positivo, pois garante a segurança do cliente e a preocupação com o seu produto . "É ruim admitir o erro, mas é mais digno assumir a preocupação com a segurança dos clientes".

Rizotto, que acompanha as convocações desde a década de 1990, conta que o maior problema não está nas convocações. "A iniciativa do recall é extremamente positiva, em um processo industrial é natural que ele ocorra. O maior problema é que a informação não chega a todos os proprietários, e mais de 50% dos motoristas não comparecem aos recalls". Ou, ainda, situações em que as pessoas moram a 100 km de distância de uma concessionária e, portanto, têm de dispor de tempo, dinheiro para a viagem, pedágio e, em alguns casos, estadia. "Eles dizes que o serviço de recall é gratuito, mas não contabilizam as despesas extras que os proprietários por vezes têm. Além de utilizar o veículo com defeito".

Baixos salários ajudam a aumentar recalls

Para o Sindicato dos Metalúrgicos do Grande ABC, o aumento no número de recalls é reflexo dos baixos salários, que levam à desmotivação dos trabalhadores e reflete no resultado final do produto.

Para Cícero Firmino da Silva, o Martinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, o grande número de convocações registrado em 2008 causa desconforto e preocupação, tanto para os consumidores, como para montadoras e fornecedores.

Segundo ele, estes reajustes são um retrato da falta de planejamento e de bons salários. "Eu já havia comentado que um dia isso iria acontecer. É preciso cuidar de toda a cadeia, começando desde a ponta, ou seja, dos trabalhadores. Se eles trabalham desmotivados, com baixos salários há um estresse que se reflete na qualidade das peças", explica. E completa: "Se nada for feito, nos próximos cinco anos o número de recalls vai triplicar".

Francisco Nunes Rodrigues, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, também concorda que as chamadas não deixam de ser um fator negativo para as montadoras, mesmo que os fornecedores sejam os culpados. "O consumidor não separa as coisas e olha as montadoras como culpadas. Não é nada agradável."

Na opinião de Rodolfo Rizotto, "nenhum veículo deveria ser licenciado ou vendido com um recall por fazer. O Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) deveria fazer uma inspeção séria, assim como é feita com extintor de incêndio vencido". (Colaborou Vivian Costa)




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