Internacional Titulo Genocídio
Bagosora, de militar brilhante a coronel do 'apocalipse' em Ruanda
Da AFP
18/12/2008 | 09:19
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O coronel Theoneste Bagosora, condenado nesta quinta-feira pelo TPIR (Tribunal Penal Internacional para a Ruanda) à prisão perpétua por ser o "cérebro" do genocídio ruandês de 1994, trilhou uma brilhante carreira militar que o levou às mais altas esferas do poder.

Segundo a ata de acusação do Tribunal, o coronel anunciou em 1993, ao se retirar das negociações com a rebelião tutsi do FPR (Frente Patriótico Ruandês, hoje no poder em Kigali) organizadas na Tanzânia, que ia voltar a seu país para "preparar o apocalipse", ou seja, o genocídio.

Bagosora, que sempre alegou sua inocência, nega ter pronunciado as palavras que lhe são atribuídas e apelará da decisão da justiça, segundo seu advogado.

O TPIR, com sede em Arusha (Tanzânia), o condenou à prisão perpétua junto a outros dois ex-oficiais ruandeses por "genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra".

Nascido em 16 de agosto de 1941 em um povo do noroeste de Ruanda, em uma família de religião cristã, o ex-diretor de gabinete do ministério ruandês da Defesa foi corista em sua paróquia quando era menino.

Em 1956, o jovem Bagosora entrou para o seminário católico de Nyundo, em sua região natal, de onde saiu seis anos mais tarde para estudar na Escola de Oficiais.

Em 1964 Bagosora já era subtenente. Dois anos mais tarde, como comandante na região leste de Bugesera, o jovem oficial hutu teve méritos ao conter um ataque de exilados tutsis ruandeses procedentes da vizinha Burundi.

"Nós os combatemos e os expulsamos", lembrou orgulhoso Bagosora ante o TPIR em 2005.

Um ano depois de seu batismo de fogo, em 1967, Bagosora teve sua primeira filha. A madrinha foi Agathe Kanziga, esposa de Juvenal Habyarimana, futuro presidente da República. Após a morte do dirigente em um atentado em 6 de abril de 1994, o genocídio começou em Ruanda, deixando 800 mil mortos, principalmente da minoria tutsi, segundo a ONU.

Habyarimana aproveita sua amizade no golpe de Estado de 5 de julho de 1973 contra o então presidente, Grégoire Kayibanda. Nele, a unidade comandada por Bagosora desempenha um papel importante na capital Kigali e o ajuda a tomar o poder.

Após uma formação militar em Paris em 1981, Bagosora ocupa distintas funções no ministério da Defesa, ou no frente do exército.

Em 1º de outubro de 1990, quando os rebeldes tutsis do FPR invadem Ruanda, o coronel Bagosora era comandante do acampamento de Kanombe, a maior guarnição do país.

Mas ao contrário do que aconteceu em 1966, ele não estava diretamente envolvido no conflito armado, mas seu combate foi transferido ao frente diplomático, nos contatos com os rebeldes tutsis do FPR.

Em 1993, na cidade tanzaniana de Arusha, onde as negociações foram realizadas, Bagosora mantém um conflito permanente com seu chefe da delegação, o chanceler Boniface Ngurinzira, que era acusado por ele de fazer muitas concessões aos rebeldes tutsis. O chefe da diplomacia ruandesa foi assassinado em 11 de abril de 1994 por militares.

Bagosora sempre se recusou a chamar de genocídio as matanças cometidas pelos extremistas hutus entre abril e julho de 1994.

O ex-oficial fugiu de Ruanda em julho de 1994 ante o avanço do FPR, atualmente no poder em Kigali, e foi detido em Camarões em 1996, mas voltou em janeiro de 1997 a Arusha, sede do TPIR.

 




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