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'O São Paulo é o grande favorito ao título'
Angelo Verotti
Do Diário do Grande ABC
21/11/2008 | 07:01
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Ídolo são-paulino, tetracampeão mundial com a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, o ex-atacante Müller, 41 anos, curte a fase de comentarista no Sportv. Acostumado a contagiar a torcida nos clubes pelos quais atuou, o ex-jogador trocou os gramados pelas cabines da emissora e, agora, tem como função analisar as atuações dos boleiros que ditam o ritmo nas quatro linhas. Fã do argentino Diego Armando Maradona, Müller visitou ontem o Diário e, a exemplo do que faz rotineiramente à frente das câmeras do canal pago, teceu opiniões sobre os mais variados temas: Série B, Brasileirão, Seleção Brasileira, clube-empresa e STJD. Não fugiu da raia nem mesmo ao ser questionado a respeito do envolvimento de atletas e ex-craques nas drogas, como aconteceu ao ex-centroavante Casagrande, recém-liberado de uma clínica para tratamento de dependentes químicos. Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

DIÁRIO - O Brasileiro deste ano se mostrou o mais equilibrado desde a adoção dos pontos corridos. Até a rodada passada, pelo menos cinco clubes estavam na briga pelo título. Agora, teoricamente, são apenas dois, São Paulo e Grêmio. Vê vantagem de algum?

MÜLLER - O Brasileirão foi equilibradíssimo. Nenhum campeonato pelo planeta tem cinco times brigando pelo título. Nem mesmo os europeus. Normalmente são duas ou três equipes que se alternam nas conquistas. A competição foi nivelada por baixo e o São Paulo é o grande favorito ao título.

DIÁRIO - Por quê?

MÜLLER - O São Paulo chegou a ficar 11 pontos atrás do Grêmio na classificação, mas cresceu na hora certa, ao contrário dos demais, que caíram de rendimento bem na fase decisiva. E o São Paulo costuma manter a regularidade. Por isso, acho difícil perder o título.

DIÁRIO - E como você analisa a situação do Palmeiras, um dos clubes que mais investiram na temporada, mas que ficou fora da briga. E mesmo com o experiente Luxemburgo (Vanderlei) no comando?

MÜLLER - O problema no Palmeiras foram as peças de reposição. A equipe perdeu o Valdivia, mas não repôs à altura. É claro que tem alguns atletas de potencial, como o Alex Mineiro, o Kléber e o Diego Souza. Mas o banco é fraco. Tem atletas que não corresponderam às expectativas, como o Leny, o Jeci... Aí a situação complicou.

DIÁRIO - E a Seleção Brasileira? O que você achou da vitória (6 a 2) sobre Portugal e qual sua opinião sobre o técnico Dunga?

MÜLLER - O Brasil tem grandes talentos. O que cria polêmica é o fato de a seleção ser treinada por uma pessoa que não tem experiência no cargo. O Dunga conseguiu importantes resultados à frente da equipe. Isso é incontestável. Mas pesa a falta de experiência.

DIÁRIO - É o caso do Maradona na seleção da Argentina?

MÜLLER - Mas o Maradona tem um cara superexperiente por trás dele (o campeão mundial Carlos Billardo é diretor-técnico). O certo seria ter uma pessoa mais experiência para auxiliar o Dunga e o Jorginho (auxiliar-técnico) na comissão. A seleção ganharia mais qualidade?

DIÁRIO - Você acha benéfica a criação de clube-empresa?

MÜLLER - Totalmente. É uma nova forma de administrar, moderna e que tem sido fundamental para a sobrevivência e o sucesso de muitos clubes. É claro que tem agremiações com outro tipo de administração, casos do São Paulo e do Cruzeiro. Mas essas transformações no futebol são importantes e têm mostrado resultados.

DIÁRIO - Seria a situação do Santo André, que após virar clube-empresa garantiu o acesso à elite do Paulista e do Brasileiro?

MÜLLER - É isso mesmo. Mostra que se o trabalho é bem realizado em cima (administração), reflete dentro de campo.

DIÁRIO - E o que você pode dizer do São Caetano; um clube que foi duas vezes vice-campeão nacional, vice da Libertadores, campeão paulista, mas que não consegue voltar à elite do Brasileiro?

MÜLLER - No começo, o São Caetano investiu, montou uma base e brigou por título em várias competições. Do Paulista (2004) para cá, o investimento já não foi o mesmo. O clube revelou talentos, mas se preocupou mais em vendê-los e não manteve um grupo. Assim, não teve regularidade, mudou muitas vezes de técnico e não conseguiu montar um time forte para levá-lo novamente à Primeira Divisão.

DIÁRIO - E como analisa a atuação do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) no futebol?

MÜLLER - O STJD é um erro da CBF. O tribunal deveria ser profissionalizado. Trabalhar com pessoas que não desempenhassem outras funções. Mas acredito mesmo que os julgamentos nem deveriam acontecer. O certo seria seguirmos o exemplo da Itália. Lá, os jogadores conhecem as punições que vão sofrer caso cometam alguma infração grave. Se o atleta acertar uma cotovelada em um adversário, já sabe o tempo que ficará sem atuar. É assim também em muitos outros casos. No Brasil, o clube ainda pode pedir efeito suspensivo depois da condenação e as sessões demoram a acontecer. Acho que a classe dos árbitros também deveria ser profissionalizada.

DIÁRIO - E seus planos para o futuro?

MÜLLER - Cheguei a receber muitas propostas de clubes pequenos para ser treinador. Mas aí veio o convite do Sportv e acabei aceitando. Não penso no momento em desenvolver uma outra atividade no futebol.

DIÁRIO - E a situação do Casagrande (esteve internado para se tratar da dependência química). Chegou a ter contato com ele?

MÜLLER - Não conversei com ele. Mas a droga é um problema que atinge não só ex-jogadores. Também afeta os atletas em atividade. A situação se complica por causa do círculo de amizades. Alguns a utilizam e acabam oferecendo aos outros.




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