Fernandes e Seri, ilustradores do Diário, abrem exposição
na Casa do Olhar, em Santo André, nesta segunda-feira
Por trás da imagem, um mundo de ideias. Humor, crítica, experiência e sensibilidade vêm no pacote, de forma que cada desenho, além do traço, das cores, carrega diferentes possibilidades de leituras e significados. Várias obras assim estão disponíveis a ser desvendadas na Exposição de Charges e Caricaturas, que os ilustradores do Diário, Luiz Carlos Fernandes e Sérgio Ribeiro, o Seri, abrem amanhã na Casa do Olhar, em Santo André.
Cerca de 70 obras dos dois compõem a mostra. Caricaturas de gente como Mazzaropi, Carmen Miranda, Fidel Castro e Niemeyer, além de charges sobre assuntos de diversos temas que dominaram as rodas de discussões nos últimos tempos, estarão expostas. Algumas ilustrações premiadas, como a caricatura que Fernandes fez sobre Niemeyer, que faturou três prêmios, entre eles o do 2º Salão de Humor da Univates. Também o cartum em que Seri versa sobre o desmatamento das florestas e a descaracterização da cultura do índio, que ganhou troféu no 4º Salão Internacional de Humor da Amazônia.
"Charge e caricatura são coisas que todo mundo gosta. Ao mesmo tempo em que despertam reflexão e conscientização para diversos assuntos, fazem isso de maneira leve, bem-humorada às vezes, chamando todo mundo a prestar atenção", conta Flávia Dotto, curadora de arte da Prefeitura andreense.
Charge vem do termo homônimo francês, que significa carga ou ataque. Também representa carga de cavalaria. "É a crítica do que está acontecendo agora, no momento", fala Seri. A caricatura é a arte de fazer rir através da deformação. Ambas são extremamente provocadoras.
Eles já sofreram com a falta de entendimento de suas obras. Seri já recebeu telefonema da mulher de um vereador retratado dizendo que não havia gostado do desenho porque o marido havia saído feio. Fernandes já ficou longo tempo sem desenhar uma antigo prefeito que não gostou nada da maneira como foi representado e ameaçou com processos. O prefeito de São Caetano Luiz Olinto Tortorello (morto em 2004), diz Fernandes, era um dos que adoravam suas caricaturas e charges.
"A charge já teve papel mais ácido", conta Seri, que pontua que um dos divisores de águas da aceitação da arte, no País, é a curiosa história que envolve Angeli. O ilustrador não gostou quando descobriu que o político Delfim Neto guardava seus críticos desenhos sobre ele.
Seri e Fernandes acreditam que atualmente a charge perdeu um pouco do poder de subversão para dar lugar ao humor. Ambos, diante desse cenário, se perguntam: "Como o Henfil reagiria a isso?" Mas admitem que é um poder que ficou pulverizado com a internet e a conquista da liberdade de expressão. "Hoje, na internet, algo que faz algo parecido com as charges são os memes", pensa Seri.
Fernandes aproximou-se da arte quando trabalhava em banca de jornal perto de uma faculdade, nos tempos da ditadura, onde teve contato com obras como "O Pasquim" e o "Jornal Movimento", além de muitas conversas sobre política.
Seri desde cedo é fã das segundas páginas dos jornais: "Era a minha diversão, mas não associava o gosto ao desenho, pensava sempre nas ideias. O que me fascinava era o poder que a charge tinha de sintetizar."
Poder esse que é uma busca constante dos seus traços. "A caricatura precisa ser engraçada mas não pode ser pejorativa. A charge não precisa ser engraçada, mas é legal quando sai bem-humorada", diz Fernandes.
"Nosso papel é também contextualizar. Me sinto jornalista reforçando fatos, agindo criticamente", considera Seri.
Exposição de Charges e Caricaturas - Artes Plásticas. Abre amanhã, às 19h30. Na Casa do Olhar - Rua Campos Sales, 414, Santo André. Tel.: 4992-7730. Visitação: de ter. a sáb., das 10h às 16h. Grátis. Até 13 de abril.
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