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‘Zona do crime prevê resultado de estado negligente
02/05/2008 | 07:11
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Laura Santullo, mulher do diretor Rodrigo Plá, escreveu La Zona como conto futurista, uma espécie de antevisão do futuro, na qual a exclusão social seria levada ao limite e os cidadãos, abandonados pelo Estado, se organizariam em comunidades fechadas.

A surpresa, admite o cineasta, foi constatar que o futuro já havia chegado. Quando Laura e ele começaram a pensar em La Zona, descobriram que na Cidade do México já havia condomínios como os que o texto focaliza. O filme nasceu, assim, mais próximo da realidade e da atualidade. Com o título de Zona do Crime, o filme está em exibição desde quarta-feira na cidade de São Paulo.

Rodrigo conversa pelo telefone falando de Montevidéu. “Na verdade, sou daqui, embora tenha vivido desde os 14 anos na Cidade do México. Viemos, Laura e eu com nossos filhos, para ficar aqui por um ano. O projeto é fazer nosso filme uruguaio.” Rodrigo Plá é um produto do cinema dos anos 2000, pós-Alejandro González Iñárritu e Carlos Reygadas no panorama do cinema mexicano. Ele ficou instantaneamente famoso quando seu primeiro curta, Ojo en la Nuca, produzido por Gael García Bernal, ganhou, além dos prêmios Ariel, no México, e uma menção especial no Festival de Havana, em Cuba, levou um prêmio honorário de filme estrangeiro no Student Academy Awards, nos Estados Unidos.

Vieram depois La Zona – Zona do Crime e Desierto Adentro, que vai encerrar a semana da crítica no Festival de Cannes que começa em menos de duas semanas. E vai haver em seguida o filme uruguaio.

“Estou trabalhando bastante, mas é estimulante. Cada filme é diferente do anterior, porque ainda estamos, Laura e eu, buscando nossa via. Na França, alguns críticos compararam Zona do Crime a Amores Brutos. Não sei o que eles vão achar de Desierto Adentro, que trata do fanatismo religioso, e menos ainda sobre o próximo, sobre a perda da memória, construído a partir da filha que esquece na praça o pai que não tem mais sentido de direção.”

Zona do Crime conta, portanto, a história desse condomínio fechado, junto a uma favela. O conjunto é protegido por rígido dispositivo de segurança, mas há uma pane e três garotos aproveitam a queda do sistema para pular o muro e roubar. Eles matam uma mulher idosa e os moradores, revoltados, resolvem dispensar a polícia, fazendo justiça por conta própria. “Tentamos fazer um thriller social que pudesse ser desfrutado como filme de suspense”, explica o diretor. “No limite, nosso objetivo é provocar, para que o espectador pense. Um problema muito grave nas sociedades atuais, no México como no Brasil, (presumo), é a ausência do Estado na salvaguarda dos direitos individuais. Não estou pensando só nos ricos, que querem segurança, mas também nos pobres, que precisam sair da situação miserável em que vivem. Pode parecer um discurso antigo, mas a violência também é produto da exclusão social. Quando digo que quisemos, Laura e eu, unir o aspecto de thriller a um questionamento social, estou definindo o conceito de Zona do Crime. Apesar de todas as diferenças, nosso filme tem pontos em comum com O Violino, de Francisco Vargas, na medida em que ambos levam para a tela questionamentos sobre valores e juízos sociais.”

Numa cena decisiva de Zona do Crime, um dos personagens do mundo ‘de dentro’explica por que resolveu entrar para o condomínio. Seu irmão foi morto, ele recorreu à polícia e, em vez de proteção ou Justiça, passou a ser perseguido pelos criminosos. A corrupção policial também é um tema presente em Zona do Crime. Rodrigo Plá e sua mulher criaram um filme de muitas vozes. Quiseram expor as motivações dos personagens de ambos os lados do muro. O que mais o diverte é a controvérsia entre a crítica – “Quisemos fugir ao maniqueísmo, até porque ambos os lados não deixam de ter razão. Alguns críticos entenderam e elogiaram o filme por sua recusa à tentação de criar uma dramaturgia baseada no confronto bem/mal. Outros acharam justamente o contrário e deploraram nosso maniqueísmo. É difícil valorizar o trabalho da crítica quando ela não consegue chegar a uma definição. Seguimos com nosso trabalho, e isso é o que importa.”



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