Charles Aznavour aporta hoje e amanhã às 21h30, na Via Funchal, em São Paulo, para os shows da turnê Fareweel Tour. Último expoente da música romântica, o cantor, de 83 anos, já foi muitas vezes chamado de o ‘Frank Sinatra da França’ e, em pesquisa da revista Time e pela emissora CNN, foi eleito o artista do século.

 Os ingressos para o show de hoje estão esgotados. Até a tarde de ontem, restavam poucos bilhetes para a platéia vip do show de amanhã.

 Segundo Aznavour, o repertório do show é pautado nos maiores sucessos de sua carreira, como She, Yesterday When I Was Young, La Bohème, La Mama, Venise e Il Faut Savoir.

 Esta, que é a última grande turnê do artista pelo mundo, teve início em 2006 e está prevista para ir até 2010. O cantor disse, em coletiva de imprensa, que não é um trabalho de encerramento de sua carreira, como muitos divulgam por aí: “É apenas um até logo, o que é muito diferente de adeus.”

 Compositor de cerca de 1.000 canções, em diversas línguas, o cantor, durante a entrevista, enfatizou que o seu papel mais importante é o de letrista: “Cada palavra tem seu peso, verdade e importância. Se você pegar uma melodia de Tom Jobim e uma letra de Vinicius de Moraes, verá que a melodia pode ser modificada, ficando romântica ou agitada, mas a letra continua a mesma, pode até virar poesia.”

 Aznavour já gravou em mais de cinco idiomas, mas confessa que nenhum é melhor do que em francês.“É um texto riquíssimo de sinônimos, significados.”

 Com relação aos cantores que o interpretaram nessas décadas de carreira – entre eles Liza Minelli, Elvis Costello, Fred Astaire e Ray Charles – Aznavour considera mais os que modificam suas músicas: “Eu gosto dos cantores que imprimem personalidade às minhas canções. Se fosse para ficar parecido com o que gravo, ninguém precisaria fazer.”

 Questionado sobre as músicas contemporâneas, Aznavour disse não gostar do termo ‘novo’ e que na França “depois de 15 anos de sonolência, músicas boas têm aparecido.” “Sempre fui curioso, sobrepujei todos os ritmos. Visto os versos com melodias, quando não consigo peço ajuda para algum músico. Tentei fazer com que a França tivesse algum ritmo característico, como nos Estados Unidos, que têm o jazz e Brasil, a bossa nova”, conta.

HISTÓRIAS

 O mestre da canção francesa lembra de uma visita feita ao Brasil, há muito tempo: “Marlene, que era amiga de Edith Piaf, me convidou para uma ceia. Na casa dela conheci João Gilberto, num período em que o mundo ainda não havia descoberto a bossa nova. Gostei muito daqui, e de Tom Jobim também.”

 Aznavour também falou da carreira de ator, que foi o começo de sua vida no mundo artístico, a partir dos 9 anos: “Quando era criança, o diretor de uma peça de teatro me mandou cantar. Foi quando eu começei a perceber que podia ser cantor”. O artista considera improvável uma volta às telonas: “Não quero fazer papel de idoso.”

 Filho de armênios que, na tentativa de chegar à América, se estabeleceram na França, Aznavour montou uma Associação que colabora com verbas para trabalhos sociais na Armênia, além de ser embaixador itinerante do País. Questionado sobre política, a aversão dos franceses a Sarkozy, e das leis de endurecimento contra imigrantes na França, se esquivou do assunto: “Todos somos estrangeiros.”  

 Ele ainda avisa que tem horror a ser chamado de ‘monstro sagrado’ da música: “Uma pessoa que escreve suas letras em papel não pode ser chamada de estrela. Eu sou um artesão das palavras.”

 (supervisão de Gislaine Gutierre)