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‘Crise norte-americana não afetará o Brasil’, diz Mercadante
Beto Silva
Do Diário do Grande ABC
31/03/2008 | 07:35
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Em visita ao Grande ABC, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) fez uma análise positiva da economia brasileira para este ano. Pelos números positivos apresentados pelo economista petista, o principal fator apontado é que o Brasil não será afetado diretamente pela crise do setor imobiliário dos Estados Unidos. “Não há contágio. Também não acredito em descolamento. Acho que teremos um impacto retardado e amenizado.”

Quando o assunto foi CPI dos Cartões, como bom aliado, Mercadante defendeu o governo federal e atacou o paulista, comandado pelo tucano José Serra, seu algoz na eleição de 2006. “As irregularidades têm de ser apuradas, verificadas e os responsáveis punidos. São Paulo, por exemplo, não viveu isso. Todas as denúncias estaduais são jogadas para baixo do tapete.”  O senador evitou comentar o possível apoio do PMDB à pré-candidatura de Marta Suplicy (PT) à Prefeitura de São Paulo – o que poderia prejudicar a sua campanha de reeleição ao Senado em 2010, uma vez que petistas poderiam trabalhar o nome do ex-governador Orestes Quércia, presidente estadual do PMDB. “2010 não está na pauta. Não vamos discutir isso agora. Tem muito tempo até lá”, desconversou.

O parlamentar foi reticente quanto à suposta negociação de um dossiê que prejudicaria a campanha do PSDB ao governo do Estado, em 2006. Indagado se o caso teria atrapalhado a sua votação (foi derrotado no primeiro turno), o petista foi taxativo. “É evidente que esse foi um fator determinante.”

Mercadante ainda se defendeu da polêmica causada por sua abstenção na primeira votação sobre a cassação do senador Renan Calheiros (PMDB-AL). “Votei como achava que deveria votar. Havia indícios, mas não provas concretas contra o Renan.” O senador também comentou a respeito da reforma política e da possível coligação entre PT e PSDB em Belo Horizonte (MG).

DIÁRIO – Qual o motivo da visita do sr. ao Grande ABC?
MERCADANTE – Vim conversar com os prefeitos da região, saber como estão essas coisas, as parcerias entre o governo federal e as prefeituras. Em 2008, teremos um ano muito favorável do ponto de vista econômico e social. O País está com estabilidade, inflação de 4,5% ao ano, PIB crescendo 5,4%, indústria de São Paulo tem crescimento rigoroso, pois de janeiro a janeiro cresceu 12,5%, criamos 1,6 milhão de empregos no ano passado.

DIÁRIO – Esse otimismo continua mesmo com a crise econômica dos EUA?
MERCADANTE – A crise, principalmente no mercado imobiliário, é muito grave. A economia americana já entrou numa escala recessiva, que dever perdurar até 2009. No entanto, não há contato direto dessa crise no centro financeiro brasileiro. Não há contágio. Também não acredito em descolamento. Acho que teremos um impacto retardado e amenizado. Porque os EUA, há cinco anos, eram responsáveis por 25% das exportações do Brasil. Hoje, são apenas 15%.

DIÁRIO – O PIB brasileiro fechará acima dos 5%?
MERCADANTE – Tem todas as condições. A base de 2007 foi muito alta. Acho que será mais de 5,4%. Os dados reais saem em maio, pelo IBGE. Temos condições de atingir a meta de 5% para 2009.

DIÁRIO – Mesmo com a economia em evidência, a CPI dos Cartões pode prejudicar o desempenho do partido nas eleições desse ano?
MERCADANTE – O governo federal, hoje, é mercado por uma conquista importante na história do Brasil que é a transparência. Não tem jeito, as irregularidades têm de ser apuradas, verificadas e os responsáveis, punidos. São Paulo, por exemplo, não viveu isso. Todas as denúncias estaduais são jogadas para baixo do tapete. O número de cartão corporativo de São Paulo é maior do que o do programa federal. No entanto, isso não se discute, como se fosse irrelevante.

DIÁRIO – O PMDB pode fechar com a pré-candidatura da ministra Marta Suplicy à Prefeitura de São Paulo, possivelmente em troca do apoio petista a Orestes Quércia para o Senado, em 2010. O sr. acredita que essa movimentação possa atingi-lo diretamente?
MERCADANTE – 2010 não está na pauta, não vamos discutir isso agora. Tem muito tempo até lá. Não sabemos se o PMDB vai apoiar nosso candidato ou se sairá com chapa própria. Pode não haver aliança. É muito cedo para discutir 2010, estamos debatendo 2008. Acho muito importante a aliança com o PMDB em São Paulo. Se tivéssemos feito a coligação na capital nas últimas eleições teríamos vencido em 2004.

DIÁRIO – O caso da suposta venda do dossiê, em 2006, fez com que a candidatura do sr. ao governo do Estado tivesse menor margem de votos (em 2002, na eleição ao Senado, recebeu 10,5 milhões de votos; no pleito de 2006, ao Palácio dos Bandeirantes, obteve 6,8 milhões)?
MERCADANTE – Acho que essa foi uma dificuldade superada. Temos de olhar para frente. Mas é evidente que foi um fator determinante. Se o Quércia tivesse tido um pouco mais de votos, eu teria ido para o segundo turno. Nas pesquisas, estimava-se que ele teria 10% dos votos, porém, nas urnas, obteve 4,5%, e isso também me prejudicou muito.

DIÁRIO – Se não houvesse o episódio do dossiê, seria o ano do PT em São Caetano?
MERCADANTE – O eleitorado saberá respeitar a história do PT no Brasil. O Tortorello (Jayme, pré-candidato do partido escolhido na prévia) tem uma longa militância política. É um bom candidato.

DIÁRIO – Acredita na volta de Hamilton Lacerda (que supostamente estaria envolvido na negociação do dossiê) ao cenário político?
MERCADANTE – O Hamilton está fora do PT e seguramente não voltará.

DIÁRIO – Tem conversado com ele?
MERCADANTE – Não, não tenho conversado com ele.

DIÁRIO – Com relação a sua primeira votação sobre a cassação do senador Renan Calheiros (Mercadante foi um dos seis senadores que se absteve e, por um voto, Calheiros não foi cassado). Isso causou algum tipo de ônus à imagem do sr.?
MERCADANTE – Votei como achava que deveria votar. Há vários processos em andamento contra Renan Calheiros. Na primeira votação, existiam indícios, mas sequer a Receita (Federal) havia se pronunciado, e ainda não se pronunciou, para caracterizar crime fiscal. Mas não havia uma prova de que a empreiteira pagou as contas pessoais dele.

DIÁRIO – O que fazer para reverter a imagem do Senado?
MERCADANTE – O Legislativo, tradicionalmente, tem perdido a importância e o prestígio perante à opinião pública. E em todas as partes, não é só no Brasil, não. Mas sem um Legislativo forte e uma atuação com transparência desse poder, não existe democracia. O Senado é uma instituição que tem 180 anos na República. A reforma política tem grande pressão da sociedade para ser votada. É um assunto que sempre entra em pauta e é adiado.Há resistência da Câmara (dos Deputados) porque há resistência da sociedade. Há uma série de interesses.

DIÁRIO – Qual a opinião do sr. sobre a possível aliança entre PT e PSDB em Belo Horizonte?
MERCADANTE – Evidentemente que o PT em Belo Horizonte tem uma trajetória histórica importante. Tem de haver relação republicana entre Estados e prefeituras. Quem ganha é a sociedade. Minas Gerais é uma exceção no cenário político nacional. Ninguém governa sem aliança no Brasil. Com parcerias, os resultados são outros. Dos 81 senadores, 11 são do PT. Não haveria qualquer possibilidade de governar sem parcerias. É só comparar.




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