Vestida com seu pomposo uniforme de general, Jatool Mohammadzai combina seriedade e feminismo e não passa desapercebida em Cabul, onde a maior parte das mulheres ainda veste a burka, com o longo véu que os talibãs as obrigraram a usar durante seus cinco anos de governo (1996-2001).

"De acordo com nossa religião, as mulheres normalmente não saem de suas casas e se o fazem, é por alguma razão extraordinária", explica à AFP esta muçulmana.

Aos dezesseis anos, Jatool se alistou nas Forças Aéreas para realizar um sonho de criança: saltar de pára-quedas. No Afeganistão comunista da época, a condição feminina era alvo da atenção das autoridades, ávidas de evidenciar a igualdade entre os sexos.

"Desde muito pequena, me encantava com os esportes e adorava aviões. Sempre quis fazer parte da força aérea acima de tudo", relata Jatool, mãe de uma criança, acrescentando que na época não era estranho, já que as mulheres tinham o mesmo direito de ingressar na universidade ou no Exército.

Na universidade militar de Cabul, Jatool foi aprovada com notas brilhantes e se tornou uma das dezesete mulheres pára-quedistas da força áerea afegã.

Quando os talibãs chegaram ao poder, Jatool, que já tinha se tornado então uma grande pára-quedista, foi obrigada a ficar em casa, como as outras mulheres, prisioneira do bordado ou artesanato.

"Como se sente um pássaro preso em um gaiola?", pergunta. "Fui pára-quedista durante quase toda minha vida, fui treinada para isso, e de um dia para outro me proibiram de trabalhar", explica.

Quando os talibãs foram expulsos do poder em 2002,pela coalizão liderada pelos Estados Unidos, a fama de Jatool como pára-quedista não tinha desaparecido, motivo pelo qual as novas autoridades lhe pediram para voltar a suas funções.

No começo deste ano, foi promovida a general pelo novo presidente afegão, Hamid Karzai, e hoje em dia é diretora-adjunta do departamento de mulheres no Ministério da Defesa, e diretora de esportes nas Forças Aéreas.

Jatool é considerada um exemplo em um país como o Afeganistão, que busca a reconstrução depois de 23 anos de guerra e tenta acabar com a repressão que ainda persiste na cabeça dos cidadãos.

"Visto o uniforme para incentivar todos os afegãos a seguir meu exemplo. Não digo que têm que ser militares, mas que façam o possível pela reconstrução do país", conclui.