Economia Titulo Endividamento
Cresce dívida de cheque especial
08/09/2008 | 07:14
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Em tempos de juros altos e restrição ao crédito, os brasileiros têm se endividado como nunca no cheque especial. Dados do BC (Banco Central) mostram que, em julho, quem estourou as contas precisou usar R$ 20,7 bilhões do limite do especial oferecido pelas instituições financeiras. Esse recorde no uso desse tipo de crédito - o mais caro do sistema financeiro - é 4,5% maior na comparação com junho e 12,3% superior ao registrado há um ano.

O uso do cheque especial tem crescido, gradativamente, desde o fim de 2007. Julho foi o primeiro mês na história em que a aplicação desse crédito superou os R$ 20 bilhões - isso quer dizer que brasileiros tomaram emprestados quase R$ 28 milhões do cheque especial a cada hora de julho, ou R$ 8.000 por segundo. Um pouco mais barato que o cheque especial, o cartão de crédito como alternativa de empréstimo também tem aumentado.

Em julho, o total de compras parceladas somado ao uso do crédito rotativo atingiu R$ 10,7 bilhões. O valor é 6% maior que o do mês anterior e representa um salto de 33,2% ante julho de 2007.

Em julho, cheque especial e cartão responderam, juntos, por mais da metade (cerca de 60%) de todos os recursos tomados pelas famílias no mês. A contratação de recursos mais baratos - como o crédito consignado - tem caído.

Segundo economistas o fenômeno traz preocupação no médio prazo, uma vez que indica endividamento acima do razoável no orçamento familiar, o que pode causar inadimplência.

Quando retornarem às contas correntes, essas operações terão de pagar, na média, 162,7% de juros ao ano. A taxa é a mais alta entre todas as linhas de crédito oferecidas pelos bancos. O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, disse, recentemente, que a taxa é ‘proibitiva'.

Segundo o professor de finanças Fábio Gallo, da FGV (Fundação Getulio Vargas) de São Paulo, "há sinais de algum descontrole entre os clientes que tomaram empréstimo nos últimos meses e, com o recente aumento dos gastos, o orçamento apertou e eles tiveram de usar as linhas de crédito mais fáceis, mas que são as mais caras".

Entre os motivos que pressionaram o orçamento familiar, a inflação em alta ocupa o primeiro lugar. Com o aumento de preços de produtos básicos as famílias têm tido menos recursos para quitar débitos e precisam apelar ao cheque especial.

Enquanto famílias têm acionado cada vez mais o cheque especial, a concessão de empréstimos em linhas de crédito baratas cai. O crédito consignado com desconto em folha de pagamento concedeu R$ 3,9 bilhões em julho, cifra 3,3% menor que o visto em junho e 8,2% inferior ao registrado 12 meses antes. Essa opção é muito mais barata que o cheque especial: 28,4%.

Lopes diz que esse arrefecimento do consignado ocorre porque o universo de potenciais clientes dessa linha de crédito é finito: trabalhadores formais e aposentados, basicamente, e muitos deles tomaram recursos das instituições, sem espaço para novas operações. Gallo observa que muitos clientes entraram no consignado, mas continuam a usar o salário integral.

O economista Marcel Solimeo, da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), diz que o ambiente menos favorável foi diagnosticado pelo varejo e há expectativa de medidas restritivas, brevemente.

O BC não calcula o juro cobrado no cartão. A taxa costuma variar muito conforme o perfil do cliente. Entre as transações com juro, a mais cara é o rotativo - quando o cliente não consegue pagar a fatura mensal, integralmente. Nesses casos, cartões mais comuns dos grandes bancos cobram taxas superiores a 100% ao ano.

Em relatório sobre o crédito de julho, a Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) de São Paulo alertou para o crescente endividamento no crédito mais caro. "O avanço do uso dessas linhas mais curtas e emergenciais, como cheque especial e o cartão de crédito, é o primeiro sintoma de uma piora do ambiente do crédito".




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